Sobre as sessões espíritas (Parte 3/3)



- De que recursos dispõe o participante de uma reunião mediúnica para identificar a natureza dos Espíritos?


Divaldo Franco –Pelos frutos conhecem-se as árvores, pelas ações o caráter dos homens, pela qualidade das comunicações aqueles que as trazem. Em O Livro dos Médiuns, o Codificador estabelece um critério quase infalível.


Em primeiro lugar, examinemos o que dizem os Espíritos. Depois, reflexionemos em torno do instrumento do qual eles se utilizam. E, por fim, vejamos quem assina o conteúdo do que eles apresentam.


Os participantes observarão a qualidade da mensagem, o caráter do médium e, depois, o mensageiro que se apresenta.


- A partir de que idade o jovem espírita pode participar de trabalhos mediúnicos?


Divaldo Franco – Desde quando esteja disposto a assumir responsabilidades. As jovens médiuns que colaboraram com Kardec oscilavam entre 12 e 15 anos de idade, mas há muita gente de 40 anos que não sabe manter perseverança nem responsabilidade. O problema não é de idade cronológica e sim de maturidade espiritual.


- Não basta que o jovem espírita tenha conhecimento teórico da Doutrina?


Divaldo Franco – Tudo aquilo que fica reduzido a palavras carece de fundamentos, de atos. Se ele tem conhecimento teórico da Doutrina, necessita pôr à prova esses conhecimentos através da boa prática do Espiritismo.


- Quais as causas do sono de que muitos companheiros se queixam quando participam de uma reunião mediúnica? Como evitá-lo?


Raul Teixeira – As causas podem ser várias. Desde o cansaço físico, quando o indivíduo vem de atividades muito intensas e, ao sentar-se, ao relaxar-se, naturalmente é tomado pelo torpor da sonolência. Também, pode ser causado pela indiferença, pelo desligamento, quando alguém está num lugar, fisicamente, entretanto pensando em outro, desejando não estar onde se acha. Compelido por uma circunstância qualquer, a pessoa se desloca mentalmente.


O sono pode, ainda, ser provocado por entidades espirituais que nos espreitam e que não têm nenhum interesse em nosso aprendizado para o nosso equilíbrio e crescimento.


Muitas vezes, os companheiros questionam: “– Mas nós estamos no Centro Espírita, estamos num campo protegido. Como o sono nos perturba?” Temos que entender que tais entidades hipnotizadoras podem não penetrar o circuito de forças vibratórias da Instituição, ficam do lado de fora. Mas, a pessoa que entrou no Centro, na reunião, não sintonizou-se com o ambiente, continua vinculada aos que se conservam fora, e através dessa porta, desse plug aberto, ou dessa tomada, as entidades que ficaram lá de fora lançam seus tentáculos mentais, formando uma ponte. Então, estabelecida a ligação, atuam na intimidade dos centros neuroniais desses incautos, que dormem, que se dizem desdobrar: “– Eu não estava dormindo... apenas desdobrei, eu ouvi tudo...” Eles viram e ouviram tudo o que não fazia parte da reunião. Foram fazer a viagem com as entidades que os narcotizaram.


Deparamos aí com distúrbios graves, porque quando termina a reunião o indivíduo está fagueiro, ótimo e sem sono, e vai assistir à televisão até altas horas, depois de se haver submetido aos fluidos enfermiços. Por isso recomendamos àqueles que estão cansados fisicamente, que façam um ligeiro repouso antes da reunião, ainda que seja por poucos minutos, para que o organismo possa beneficiar-se do encontro, para que fiquem mais atentos durante o trabalho doutrinário. Levantar-se, borrifar o rosto com água fria, colocar-se em uma posição discreta, sempre que possível ao fundo do salão, em pé, sem encostar-se, a fim de lutar contra o sono.


Apelar para a prece, porque sempre que estamos desejosos de participar do trabalho do bem, contamos com a eficiente colaboração dos Espíritos Bondosos. Faze a tua parte que o céu te ajudará.


Temos, então, o sono como esse terrível adversário de nossa participação, de nosso aprendizado, de nosso crescimento espiritual. Não permitamos que ele se apodere de nós. Lutemos o quanto conseguirmos, e deveremos conseguir sempre, para combatê-lo, para termos bons frutos no bom aprendizado.


- Como se devem portar os médiuns e os demais membros de um grupo, antes e depois do trabalho mediúnico?


Divaldo Franco – Como verdadeiros cristãos. Devem manter a probidade, o respeito a si mesmos e ao seu próximo; ter uma vida, quanto possível, sadia, sabendo que o exercício mediúnico não deve ser emparedado nas dimensões de apenas uma hora de relógio, reservada a tal mister.


Do livro: Diretrizes de Segurança

Por: Divaldo P. Franco e J. Raul Teixeira



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Sobre as sessões espíritas (Parte 2/3)



- Uma sessão mediúnica espírita deve ser sempre iniciada com uma prece, e logo passar-se à leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo? Agindo sempre assim, não se estará criando um ritualismo?


Divaldo Franco – Pode-se estar criando um hábito, não um ritual, porque aí não chega a ser um dever inadiável. Nós, por nossa vez, fazemos ao revés. Lemos uma boa página de esclarecimento, comentamo-la e fazemos a prece posteriormente, depois do que a reunião tem início.


- Há necessidade de se abrir um trabalho mediúnico usando expressões como: aberto com a chave de paz e amor, aberto com a proteção da corrente do Himalaia ou outras do gênero?


Divaldo Franco – Pessoalmente, não utilizamos nenhuma fórmula, porque, na Doutrina Espírita, não existem chavões, rituais, palavras cabalísticas.


Normalmente, dizemos que os trabalhos estão iniciados como sendo uma advertência para as pessoas saberem que já estamos em condições de entrar em sintonia. Penso mesmo que seja desnecessário dizer que a sessão está aberta ou iniciada. Feita a prece, evocada a proteção divina, automaticamente está iniciado o labor.


Desse modo, acrescentar quaisquer palavras que façam relembrar mantras, condicionamentos, é conspirar contra a pureza doutrinária, criando certas manifestações circunstanciais, que somente cultivam a ignorância e a superstição.


- Haverá necessidade de que, no início das sessões mediúnicas, todos os médiuns recebam seus mentores particulares, para garantirem suas presenças ou para deixar cada qual sua mensagem?


Raul Teixeira – Não há, evidentemente, essa necessidade. As leituras e meditações feitas na abertura da sessão, seguidas pela oração contrita e objetiva, assim como a predisposição positiva dos participantes, dão-nos a garantia da presença e da consequente assistência dos Espíritos-Guias, sem necessidade de que cada médium receba o seu mentor em particular.


Há circunstâncias em que o espírito responsável pelo labor a desenrolar-se comunica-se, após a abertura da sessão, para alguma mensagem orientadora, comumente versando sobre as lides a se processarem, concitando à atenção, ao aproveitamento etc. Doutras vezes, vem ao final das tarefas para alguma explicação, conclamação ao encorajamento e à perseverança, desfazendo quaisquer temores em função de alguma comunicação mais preocupante. Contudo, a comunicação de todos os guias, no mínimo, é desnecessária e sem propósito.


- Alguns grupos mediúnicos exigem a manifestação dos Mentores Espirituais para declararem iniciados os trabalhos. É isto necessário?


Divaldo Franco – Exigir a manifestação do Mentor é inverter a ordem do trabalho. Quem somos nós para exigir alguma coisa dos Mentores? Quando o trabalho está realmente dirigido, são os Mentores que, espontaneamente, quando convém, se apressam em dar instruções iniciais, objetivando maior aproveitamento da própria experiência mediúnica.


Ocorre que, se o início do trabalho for condicionado a incorporações dos chamados Espíritos guias, criar-se-á um estado de animismo nos médiuns que, enquanto não ouçam as palavras sacramentais, não se sentirão inclinados a uma boa receptividade. Isso é criação nossa, não é da Doutrina Espírita.


- Por que acontece, às vezes, nas sessões mediúnicas, não haver nenhuma manifestação? O que determina ou impede as manifestações?


Divaldo Franco – O baixo padrão vibratório reinante no ambiente. A sintonia psíquica dos membros da reunião responde pelos resultados da mesma.


- Seria justo, então, se encerrasse a reunião depois de alguns minutos, desde que não se obtenha comunicação nenhuma?


Divaldo Franco – Não, porque esta é uma forma de disciplinar os membros da sessão a terem responsabilidade e prepararem-se para o trabalho, que assumem espontaneamente.


- Como deve proceder o dirigente das sessões mediúnicas para alcançar os objetivos superiores do trabalho?


Raul Teixeira – A fim de atingir a meta proposta pelos Dirigentes Espirituais das sessões, será de bom alvitre que o dirigente encarnado atenda a tarefa com a máxima seriedade, considerando-a como o seu encontro mais íntimo com a Espiritualidade.


Na condição de condutor encarnado do cometimento mediúnico, deverá preparar-se para filtrar as inspirações do Invisível Superior, por meio das indispensáveis disciplinas do caráter, de uma vida enobrecida pelo cumprimento do dever, pela renúncia aos vícios de todos os tipos, que enodoam tanto seu psiquismo quanto seu organismo físico.


Será de grande valia, tanto para o dirigente quanto para aqueles que se candidatam a tal direção de trabalhos mediúnicos, o gosto por estudar as obras literárias do Espiritismo, assim como o hábito das meditações em redor do que haja lido, facilitando a identificação das diversas ocorrências que poderão se dar nas sessões, como permitindo interferências indispensáveis nessas ocasiões, com conhecimento de causa.


O fenômeno do animismo, assim como o das mistificações, somente às custas de muita reflexão em torno de muito estudo e amadurecimento, com o consequente conhecimento do ser humano, poderão ser identificados satisfatoriamente.


Do livro: Diretrizes de Segurança

Por: Divaldo P. Franco e J. Raul Teixeira


Sobre as sessões espíritas (Parte 1/3)



- Qual o objetivo de uma sessão mediúnica?


Divaldo Franco – É acima de tudo uma oportunidade de o indivíduo auto-reformar-se; de fazer silêncio para escutar as lições dos espíritos que vêm a nós, depois da morte, chorando e sofrendo, sendo este um meio de evitarmos cair em seus erros. É também para fazer-nos esquecer a ilusão de que nós estejamos ajudando os espíritos, uma vez que eles podem passar sem nós. No mundo dos espíritos, as Entidades Superiores promovem trabalhos de esclarecimento e de socorro em seu favor; nós, entretanto, necessitamos deles, mesmo dos sofredores, porque estes são a lição de advertência em nosso caminho, convidando-nos ao equilíbrio e à serenidade. Assim, vemos que a ajuda é recíproca.


O médium é alguém que se situa entre os dois hemisférios da vida. O membro de um labor de socorro medianímico é alguém que deve estar sempre às ordens dos Espíritos Superiores para os misteres elevados.


À hora da reunião, devem-se manter, além das atitudes sociais do equilíbrio, a serenidade, um estado de paz interior compatível com as necessidades do processo de sintonia, sem o que, quaisquer tentames nesse campo redundarão inócuos, senão negativos.


Depois da reunião é necessário manter-se o mesmo ambiente agradável, porque, à hora em que cessam os labores da incorporação, ou da psicografia, o fenômeno objetivo externo, em si, não cessam os trabalhos mediúnicos no mundo espiritual. Quando um paciente sai da sala cirúrgica, o pós-operatório é tão importante quanto a própria cirurgia. Por isso, o paciente fica carinhosamente assistido por enfermeiros vigilantes que estão a postos para atendê-lo em qualquer necessidade que venha a ocorrer.


Quando termina a lide mediúnica, encerra-se, momentaneamente, a tarefa dos encarnados, a fim de estes recomecem-na, logo mais, no instante em que penetrem a esfera do sono, para prosseguir sob outro aspecto, ajudando os que ficaram de ser atendidos e não puderam, por uma ou outra razão. Então, convém que, ao terminar a reunião mediúnica seja mantida a psicosfera agradável, em que as conversas sejam edificantes. Pode-se e deve-se fazer uma análise do trabalho realizado, um estudo, um cotejo no campo das comunicações e depois uma verificação da produtividade; tudo isto em clima salutar de fraternidade, objetivando dirimir futuras inquietações e problemas outros.


- Recebe o médium, em transe, a influência mental do grupo de que participa?


Raul Teixeira – Aprendemos em O Livro dos Médiuns, com Allan Kardec, que a reunião é um ser coletivo. Todos aqueles que dela participam, com qualquer função que seja, estão automaticamente vinculados às suas ocorrências, de maneira que, muitas vezes, o grupo não estando bem sintonizado e realizando um trabalho de alta envergadura, os médiuns, que são filtros dos espíritos encarnados e desencarnados, estarão filtrando, encharcando-se daquelas nuances vibratórias que o ambiente lhes permite fruir. Dessa maneira é que se justifica a desnecessidade de reuniões mediúnicas com público que não esteja sintonizado com a realidade do estudo doutrinário, porque os médiuns ficam à mercê desses influxos de dardos mentais de indiferença, de descrença e de petitórios e, muitas vezes, a mensagem que eles veiculam sairá com o sabor dessas insinuações, desses desejos e perturbações. O grupo participa, também, das comunicações com esse suporte energético apoiando ou desequilibrando o médium, porque a reunião é um corpo coletivo.


- Os participantes de uma sessão mediúnica devem fazer algum tipo de preparo íntimo durante o dia, antes mesmo do início da reunião?


Divaldo Franco – O espírita deve fazer um preparo normal, porque é um dever que lhe compete, uma vez que nunca sabe a hora em que será convocado ao retorno à consciência livre.


O espírita que frequenta o labor mediúnico, além de espírita, é peça importante no mecanismo de ação dos espíritos na direção da Terra. Ele deve fazer uma preparação, não somente nos dias da reunião, mas sempre, porque tal preparação seria insuficiente e ineficaz, já que ninguém muda de hábitos, apenas por alterar sua atitude momentânea.


Nos trabalhos mediúnicos, são exigíveis hábitos mentais de comportamento moral enobrecido, e estes não podem ser improvisados. Então, os membros de uma sessão mediúnica são pessoas que devem estar normalmente vigilantes todos os dias e, em especial, nos reservados ao labor, para que se poupem às incursões dos espíritos levianos e adversários do bem, que, nesse dia, tentarão prejudicar a colaboração e perturbar-lhes o estado interior, levando distúrbios ao trabalho geral, que é o que eles objetivam destruir. Então, nesse dia, a vigilância deve ser maior: orar, ler uma página salutar, meditar nela, reflexionar, evitar atitudes da chamada reação e cultivar as da ação, pensar antes de agir, espairecer e se, eventualmente, for colhido pela tempestade da ira, pela tentação do revide, que às vezes nos chega, manter a atitude recomendada pelo Evangelho de Jesus.


- As reuniões mediúnicas devem ser públicas? Por quê?


Divaldo Franco – O Codificador recomenda pequenos grupos, graças às dificuldades que há nos grandes grupos, em relação à sintonia vibratória e harmonia de pensamentos.


Uma reunião mediúnica de caráter público é um risco desnecessário, porque vêm pessoas portadoras de sentimentos os mais diversos, que irão perturbar, invariavelmente, a operação da mediunidade. Afirmam os Benfeitores que uma reunião mediúnica é um grave labor, que se desenvolve no campo perispirítico, e se a equipe não tem um conhecimento especializado, é compreensível que muitos problemas sucedam por negligência da mesma. A reunião mediúnica não deve ser de caráter público, porque teria feição especulativa, exibicionista, destituída de finalidade superior, atitudes tais que vão de encontro negativamente aos postulados morais da Doutrina.


Mesmo nas reuniões mediúnicas privativas deve-se manter um número ideal de membros, não excedente a 20 pessoas, para que se evitem essas perturbações naturais nos grupamentos massivos.


Onde haja um grupo mediúnico com grande número, que seja dividido em dois trabalhos separados (porque, em Movimento Espírita, na ordem do bem, dividir é multiplicar o benefício daqueles que se repartem). Igualmente é necessário que as pessoas sejam afins entre si no grupo. Por motivos óbvios, se estamos numa reunião mediúnica e não somos simpáticos a um indivíduo, toda a comunicação que por ele venha, os nossos recalques e conflitos põem-nos carapuças, acreditando serem indiretas a nós dirigidas. Se, por acaso, alguém não nos é simpático, quando ele entra em transe ficamos bombardeando: “Imagine o fingido; vê se eu vou acreditar nele!” Formamos assim, uma antena emissora de dificuldades para o companheiro que está sendo agredido pela nossa mente, porque desde que o indivíduo é médium, ele não o é exclusivamente dos espíritos desencarnados, mas também dos encarnados.


O êxito de uma reunião mediúnica depende da equipe que ali comparece e não apenas do médium. Os Mentores programam, mas aquela equipe em funcionamento responderá pelos resultados. Nunca é demais recomendar que as sessões mediúnicas sejam de caráter privado.


- E aqueles grupos que se fecham em torno deles mesmos e seus membros não frequentam palestras, reuniões doutrinárias e se dedicam tão somente ao fenômeno em si, ao intercâmbio mediúnico? Estarão procedendo corretamente?

Divaldo Franco – O mandamento é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei e que façais ao próximo quanto desejardes que o próximo vos faça, equivalendo a dizer que todo aquele que se isola perde a oportunidade de evoluir, porque todo enquistamento degenera em enfermidade.


Do livro: Diretrizes de Segurança

Por: Divaldo P. Franco e J. Raul Teixeira



Sobre as reuniões espíritas



Uma reunião é um ser coletivo cujas qualidades e propriedades são as dos seus membros, formando uma espécie de feixe. Ora, esse feixe será tanto mais forte quanto mais homogêneo.


Se o Espírito for de qualquer maneira atingido pelo pensamento, como nós somos pela voz, vinte pessoas unidas numa mesma intenção terão necessariamente mais força que uma só. Mas para que todos os pensamentos concorram para o mesmo fim é necessário que vibrem em uníssono, que se confundam por assim dizer em um só, o que não pode se dar sem concentração.


A concentração e a comunhão de pensamentos sendo as condições necessárias de toda reunião séria, compreende-se que o grande número de assistentes é uma das causas mais contrárias à homogeneidade. Não há, é certo, nenhum limite absoluto para esse número. Compreende-se que cem pessoas, suficientemente concentradas a atentas, estarão em melhores condições do que dez pessoas distraídas e barulhentas. Mas é também evidente que quanto maior o número, mais dificilmente se preenchem essas condições.


Toda reunião espírita deve, pois, procurar a maior homogeneidade possível.


Fonte: O Livro dos Médiuns (Cap. 29 – Reuniões e Sociedades)


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Mensagens dos Espíritos:


O silêncio e a concentração são as condições essenciais para todas as comunicações sérias. Jamais obtereis essas comunicações quando a atração para as vossas reuniões for apenas a curiosidade. Fazei, pois, que os curiosos vão se divertir em outro lugar, porque a sua distração seria a causa de perturbações.” (São Luís)


Sabeis realmente o que é uma reunião espírita? Não, porque no vosso zelo pensais que o melhor a fazer é reunir o maior número de pessoas, a fim de as convencer. Desenganai-vos disso. Quanto menos pessoas, mais obtereis. É sobretudo pela ascendência moral que encaminhareis os incrédulos, muito mais que pelos fenômenos. Se apenas os atrairdes por meio de fenômenos, eles irão vê-los por curiosidade e encontrareis curiosos que não acreditarão e rirão dos vossos esforços; se entre vós só existirem pessoas dignas, talvez não creiam imediatamente, mas vos respeitarão e o respeito inspira sempre confiança. Estais convencidos de que o Espiritismo deve produzir uma reforma moral.” (Fénelon)


Fonte: O Livro dos Médiuns (Cap. 31 – Dissertações Espíritas)



Sessão Espírita (Parte 2 de 2)



Como deverá agir o estudioso para identificar as entidades que se comunicam?

Emmanuel - Os Espíritos que se revelam, através das organizações mediúnicas, devem ser identificados por suas ideias e pela essência espiritual de suas palavras.

Determinados médiuns, com tarefa especializada, podem ser auxiliares preciosos à identificação pessoal, seja no fenômeno literário, nas equações da ciência, ou satisfazendo a certos requisitos da investigação; todavia, essa não é a regra geral, salientando-se que as entidades espirituais, muitas vezes, não encontram senão um material deficiente que as obriga tão-só ao indispensável, no que se refere à comunicação.

Devemos entender, contudo, que a linguagem do Espírito é universal, pelos fios invisíveis do pensamento, o que, aliás, não invalida a necessidade de um estudo atento acerca de todas as ideias lançadas nas mensagens, guardando-se muito cuidado no capítulo dos nomes ilustres que porventura as subscrevam.

Nas manifestações de toda natureza, porém, o crente ou o estudioso do problema da identificação, não pode dispensar aquele sentido espiritual de observação que lhe falará sempre no imo da consciência.


É justo que o espiritista, depois de sofrer pela morte a separação de um ente amado, provoque a comunicação dele nas sessões medianímicas?

Emmanuel - O espiritista sincero deve buscar o conforto moral, em tais casos, na própria fé que lhe deve edificar intimamente o coração.

Não é justo provocar ou forçar a comunicação com esse ou aquele desencarnado. Além de não conhecerdes as possibilidades de sua nova condição na esfera espiritual, deveis atender ao problema dos vossos méritos.

O homem pode desejar isso ou aquilo, mas há uma Providência que dispõe no assunto, examinando o mérito de quem pede e a utilidade da concessão.

Qualquer comunicado com o Invisível deve ser espontâneo, e o espiritista cristão deve encontrar na sua fé o mais alto recurso de cessação do egoísmo humano, ponderando quanto à necessidade de repouso daqueles a quem amou, e esperando a sua palavra direta, quando e como julguem os mentores espirituais conveniente e oportuno.


Há estudiosos da Doutrina que se afastam das reuniões, quando as mesmas não apresentam fenômenos. Como se deve proceder para com eles?

Emmanuel - Os que assim procedem testemunham, por si mesmo, plena inabilitação para o verdadeiro trabalho do Espiritismo sincero. Se preferem as emoções transitórias dos nervos ao serviço da auto-iluminação, é melhor que se afastem temporariamente dos estudos sérios da Doutrina, antes de assumirem qualquer compromisso. A compreensão do Espiritismo ainda não está bastante desenvolvida em seu mundo interior, e é justo que prossigam em experiências para alcançá-la.

O êxito dos esforços do plano espiritual, em favor do Cristianismo redivivo, não depende da quantidade de homens que o busquem, mas da qualidade dos trabalhadores que militam em suas fileiras.


Devem ser intensificadas no Espiritismo as sessões de fenômenos mediúnicos?

Emmanuel - São muito poucos ainda, os núcleos espiritistas que se podem entregar à prática mediúnica com plena consciência do serviço que têm em mãos; motivo por que é aconselhável a intensificação das reuniões de leitura, meditação e comentário geral para as ilações morais imprescindíveis no aparelhamento doutrinário, a fim de que numerosos centros bem-intencionados não venham a cair no desânimo ou na incompreensão, por causa de um prematuro comércio com as energias do plano invisível.


Considerando que numerosos agrupamentos espíritas se formam apenas para doutrinação das entidades perturbadas, do plano invisível, quais os mais necessitados de luz: os encarnados ou os desencarnados?

Emmanuel - Tal necessidade é comum a uns e outros. É justo que se preste auxílio fraterno aos seres perturbados e sofredores, das esferas mais próximas da Terra; entretanto, é preciso convir que os Espíritos encarnados carecem de maior porcentagem de iluminação evangélica que os invisíveis, mesmo porque, sem ela, que auxílio poderão prestar ao irmão ignorante e infeliz? A lição do Senhor não nos fala do absurdo de um cego a conduzir outros cegos?

Por essa razão é que toda reunião de estudos sinceros, dentro da Doutrina, é um elemento precioso para estabelecer o roteiro espiritual a quantos deseje o bom caminho.

A missão da luz é revelar com verdade serena. O coração iluminado não necessita de muitos recursos da palavra, porque na oficina da fraternidade bastará o seu sentimento esclarecido no Evangelho. A grande maravilha do amor é o seu profundo e divino contágio. Por esse motivo, o Espírito encarnado, para regenerar os seus irmãos da sombra, necessita iluminar-se primeiro.


Pelo Espírito 'Emmanuel'

Do livro "O Consolador" - Ed. FEB

Psicografia de Francisco Cândido Xavier


Sessão Espírita (Parte 1 de 2)



Como deveremos entender a sessão espírita?

Emmanuel - A sessão espírita deveria ser, em toda parte, uma cópia fiel do cenáculo fraterno, simples e humilde do Tiberíades, onde o Evangelho do Senhor fosse refletido em espírito e verdade, sem qualquer convenção do mundo, de modo que, entrelaçados todos os pensamentos na mesma finalidade amorosa e sincera, pudesse a assembleia constituir aquela reunião de dois ou mais corações em nome do Cristo, onde o esforço dos discípulos será sempre santificado pela presença do seu amor.


Como deve ser conduzida uma sessão espírita, de sua abertura ao encerramento?

Emmanuel - Nesse sentido, há que considerar a excelência da codificação kardequiana; contudo, será sempre útil a lembrança de que as reuniões doutrinárias devem observar o máximo de simplicidade, como as assembleias humildes e sinceras do Cristianismo primitivo, abstendo-se de qualquer expressão que apele mais para os sentidos materiais que para a alma profunda, a grande esquecida de todos os tempos da Humanidade.


Será aconselhável a determinação de dias da semana para a realização normal das sessões espíritas?

Emmanuel - Qualquer dia e hora podem ser consagrados ao bom trabalho da fraternidade e do bem, sempre que necessário; mas, nas reuniões dedicadas ao esforço doutrinário, faz-se imprescindível a metodização de todos os trabalhos em dias e horas prefixados.


Nas sessões, os dirigentes e os médiuns têm uma tarefa definida e diferente entre si?

Emmanuel - Nas reuniões doutrinárias, o papel do orientador e do instrumento mediúnico devem estar sempre identificados na mesma expressão de fraternidade e de amor, acima de tudo; mas, existem características a assinalar, para que os serviços espirituais produzam os mais elevados efeitos, salientando-se que os dirigentes das sessões devem ser o raciocínio e a lógica, enquanto o médium deve representar a fonte de água pura do sentimento. É por isso que, nas reuniões onde os orientadores não cogitam da lógica e onde os médiuns não possuem fé e desprendimento, a boa tarefa é impossível, porque a confusão natural estabelecerá a esterilidade no campo dos corações.


Os agrupamentos espiritistas podem ser organizados sem a contribuição dos médiuns?

Emmanuel - Nas reuniões doutrinárias, os médiuns são úteis, mas não indispensáveis, porque somos obrigados a ponderar que todos os homens são médiuns, ainda mesmo sem tarefas definidas, nesse particular, podendo cada qual sentir e interpretar, no plano intuitivo, a palavra amorosa e sábia de seus guias espirituais, no imo da consciência.


Por que motivo a doutrinação e a evangelização nas reuniões espiritistas beneficiam igualmente os desencarnados, se a estes seria mais justo o aproveitamento das lições recebidas no plano espiritual?

Emmanuel - Grande número de almas desencarnadas nas ilusões da vida física, guardadas quase que integralmente no íntimo, conservam-se, por algum tempo, incapazes de apreender as vibrações do plano espiritual superior, sendo conduzidas por seus guias e amigos redimidos às reuniões fraternas do Espiritismo evangélico, onde, sob as vistas amoráveis desses mesmos mentores do plano invisível, se processam os dispositivos da lei de cooperação e benefícios mútuos, que rege os fenômenos da vida nos dois planos.


Muita gente procura o Espiritismo, queixando-se de perseguições do Invisível. Os que reclamam contra essas perturbações estão, de algum modo, abandonados de seus guias espirituais?

Emmanuel - A proteção da Providência Divina estende-a a todas as criaturas. A perseguição de entidades sofredoras e perturbadas justifica-se no quadro das provações redentoras, mas, os que reclamam contra o assédio das forças inferiores dos planos adstritos ao orbe terrestre, devem consultar o próprio coração antes de formularem as suas queixas, de modo a observar se o Espírito perturbador não está neles mesmos.

Há obsessores terríveis do homem, denominados “orgulho”, “vaidade”, “preguiça”, “avareza”, “ignorância” ou “má-vontade”, e convém examinar se não se é vítima dessas energias perversoras que, muitas vezes, habitam o coração da criatura, enceguecendo-a para a compreensão da luz de Deus. Contra esses elementos destruidores faz-se preciso um novo gênero de preces, que se constitui de trabalho, fé, esforço e boa vontade.


Pelo Espírito 'Emmanuel'

Do livro "O Consolador" - Ed. FEB

Psicografia de Francisco Cândido Xavier


Sessões Mediúnicas – Parte V


Classificação - tipos de sessões mediúnicas


Sessões de consulta — As sessões de consulta são as mais antigas da prática espírita, muito anteriores à elaboração da doutrina. Marcaram profundamente os tempos mitológicos, prolongando-se nos tempos bíblicos na fase medieval. A trípode mágica dos oráculos e das pitonisas, a mesinha de três pés, que ressurgiria na era moderna com a dança das mesas, é a antecessora remota da gueridon francesa, da mesinha de três pés dos salões parisienses do século XVIII, que provocaram a atenção de Kardec. Utilizadas em toda a Antiguidade para consultas sérias aos espíritos, como vemos no caso da pitonisa de Endor (na Bíblia), tornaram-se na leviana sociedade oitocentista européia em objetos de diversão e passatempo. Ainda hoje são empregadas na prática espírita para consultas levianas ou sérias. Dela surgiram algumas diversificações, como a cestinha túpia de que o próprio Kardec se serviu, a tiptologia por meio de raps, empregada no caso das irmãs Fox, nos Estados Unidos, e as sessões alfabéticas de copinho a que o escritor Monteiro Lobato se dedicou seriamente entre nós, deixando-nos um relato minucioso de suas experiências interessantíssimas, publicado no livro de sua secretária, D. Maria José Sette Ribas, As Sessões Espíritas de Monteiro Lobato. O famoso escritor conseguiu comunicações de seus filhos mortos por esse processo e chegou a doutrinar espíritos perturbadores.


Considera-se, em geral, que essas sessões são condenadas pelo Espiritismo. O que se condena não é a modalidade, pois todas as formas de comunicação são válidas, quando levadas a sério, mas a leviandade com que tais pessoas se entregam a essa experiência, com objetivos de simples curiosidade, o que facilita o acesso de espíritos inferiores, brincalhões ou maldosos, que põem os médiuns em perigo.


O nome de sessões de copinho provém do fato de usar-se um cálice ou um pequeno copo emborcado sobre uma folha de cartolina ou sobre a mesa de superfície lisa. Na cartolina ou em torno da mesa dispõe um alfabeto em forma circular, com o copinho no centro do círculo. Uma ou mais pessoas colocam levemente um dedo sobre o copinho e este se movimenta indicando as letras que formam palavras. Lobato dispunha da mediunidade de sua esposa, D. Purezinha, vendando os seus olhos. Uma pessoa é incumbida de anotar as letras indicadas. O movimento do copinho atinge geralmente grande velocidade. Como se vê, trata-se de um fenômeno de automatismo psicológico, de que os espíritos se servem como na escrita-automática. As consultas são feitas oralmente pelas pessoas presentes.


Não há nada de mal nessa prática em si. Num ambiente sério as respostas são também sérias. A interferência de espíritos brincalhões ou perturbadores pode ser convertida em auxílio para os mesmos, como fazia Lobato. O mal está nas consultas, que sendo quase sempre levianas ou absurdas, que, quando insistentes, acabam por ser respondidas por espíritos levianos. Os espíritos sérios se afastam, como é natural, deixando que os interrogantes façam a experiência de que necessitam. Não é raro algumas pessoas sensíveis saírem perturbadas da experiência. Esse o motivo por que, em geral, os espíritas não aconselham essa prática. Levada a sério, entretanto, ela pode servir para boas comunicações e para provar ao médium que as comunicações não provêm dele mesmo, desconfiança comum a que se entregam os médiuns de comunicações orais ainda não suficientemente experimentados e pouco conhecedores da doutrina.


Do livro “O Espírito e o Tempo” - Herculano Pires

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Sessões Mediúnicas – Parte IV


Classificação - tipos de sessões mediúnicas


Sessões de cura — As sessões de cura distinguem-se das sessões de desobsessão por não tratarem apenas de problemas mentais e psíquicos, mas de todos os problemas da saúde. Os Espíritos exercem atividades curativas de todos os tipos e até mesmo realizam intervenções cirúrgicas em casos especiais.


Isso não parece estranho quando nos lembramos de que os Espíritos são simplesmente homens desencarnados que vivem numa dimensão física da realidade terrena, onde, como aqui, a mente opera sobre a matéria. Os planos espirituais mais próximos da crosta terrena são bastante semelhantes ao nosso.


As sessões de cura material seguem as normas da sessão de desobsessão, mas acrescidas de medidas de controle dos fenômenos, como os das sessões de ectoplasmia ou materializações. O ectoplasma é utilizado na recuperação de tecidos, na cicatrização muitas vezes imediata de incisões operatórias e no reequilíbrio de órgãos e funções.


Antecipando um século às práticas da medicina psicossomática, a terapêutica espírita mostrou que as doenças somáticas se originam no psiquismo. A descoberta do corpo-bioplásmico em nossos dias comprovou essa tese espírita. A Parapsicologia vem contribuindo bastante para o esclarecimento desse problema e hoje é grande o número de médicos que aceitam a contribuição espírita nesse campo.


Mas justamente por isso as sessões de cura não podem ser realizadas sem a participação de médicos-espíritas. A exigência da condição espírita dos médicos decorre da necessidade de conhecimentos da problemática espírita. Os médicos não-espíritas não dispõem de recursos para compreender o que então se passa, mas podem também participar dessas sessões, desde que acompanhados de colegas espíritas. É uma temeridade a aceitação do trabalho mediúnico de cura sem assistência médica ao médium.


As campanhas apaixonadas contra o Espiritismo criaram barreiras quase intransponíveis entre Espiritismo e Medicina, que só agora estão sendo derrubadas. Já existem, hoje, Sociedades de Medicina no Brasil e no Mundo. Essas instituições científicas se multiplicarão e ampliarão as suas atividades nos próximos anos. Os espíritas precisam colaborar para isso, evitando as práticas terapêuticas sem controle médico, que são arriscadas num ambiente de misticismo ingênuo como o nosso. Só assim ajudaremos a quebrar os tabus criados por mais de um século de calúnias assacadas contra os espíritas e o Espiritismo, em prejuízo evidente do progresso científico e do sofrimento humano.


As sessões de cura não passam de tentativas de auxílio, pois a cura espiritual não depende apenas dos fatores físicos da moléstia. Há fatores espirituais da doença que são quase sempre irremovíveis. São consequências de encarnações anteriores a que o espírito se submete de vontade própria a fim de libertar-se de pesadas angústias do passado. Mas há sempre algum benefício, mesmo nos casos incuráveis. E muitos casos que são incuráveis para a medicina terrena facilmente se curam com a intervenção das entidades espirituais através da mediunidade. Os Espíritos não são concorrentes dos médicos. Os próprios médicos desencarnados são os que mais se interessam em prestar a sua ajuda aos colegas terrenos, sem outro interesse que o de contribuir para o alívio possível do sofrimento humano.


Pessoas que não conhecem a doutrina costumam perguntar por que motivo os Espíritos não socorrem todos os enfermos e não curam todas as doenças, desde que dispõem de recursos superiores aos da medicina humana. É claro que tudo, no Universo, está sujeito a condições e leis. Um doente condicionado pela sua consciência profunda à necessidade de aliviá-la através das formas de sofrimentos que impôs a outras criaturas em vida anterior, tem nos sofrimentos atuais o seu próprio remédio e não uma doença. Passa por um doloroso processo de reajuste moral e espiritual, que reconhece necessário à sua tranquilidade futura. As leis morais da consciência o obrigam, em seu próprio benefício, a essas purgações dolorosas, mas benéficas. Não se trata de uma hipótese, mas de uma realidade comprovada nas pesquisas científicas sobre a memória profunda, em busca de provas sobre a reencarnação, hoje grandemente acumuladas. No Espiritismo predominam a razão e a prova. Como observou Richet, Kardec nunca aceitou um princípio que não fosse lógico e comprovado pela pesquisa. Graças a isso, a doutrina se mantém intacta em face de toda a espantosa evolução científica do nosso tempo. Os maiores avanços da Ciência nada mais fizeram, até agora, do que comprovar os princípios fundamentais do Espiritismo.


Os Espíritos Terapeutas, como os médicos terrenos, não dispõem de saber absoluto, mas relativo ao seu grau de evolução. Trabalham geralmente em equipe, auxiliando-se mutuamente. O mais sábio e experiente dirige a equipe, exatamente como entre os homens. Qualquer interpretação sobrenatural da atividade natural dessas criaturas humanas leva-nos aos delírios, do mito, impedindo-nos de compreender a realidade dos fatos.


Os Espíritos curadores ou terapeutas não fazem milagres, não têm o poder de violar as leis naturais. Mas conhecem melhor essas leis do que os homens e dispõem de recursos que ainda desconhecemos. Por isso Jesus advertiu que os que seguissem o seu ensino poderiam fazer os supostos milagres que ele fazia e até mais do que ele. O problema não é de mística, mas de razão e sobretudo de conhecimento. Todo conhecimento é facultado ao homem, dentro das possibilidades progressivas do seu desenvolvimento espiritual. Conhece mais o que mais avançou no desenvolvimento das suas potencialidades ônticas, ou, como afirmou Kant, na realização de sua perfectibilidade possível. No sentido espiritual essa atualização das potencialidades de perfeição está ao alcance de todos, pois é inerente à natureza humana. Mas no sentido existencial terreno, essa atualização está condicionada ao grau de evolução atingido pelos esforços de cada indivíduo.


Do livro “O Espírito e o Tempo” - Herculano Pires


Sessões Mediúnicas – Parte III


Classificação - tipos de sessões mediúnicas


Sessões de desobsessão — Kardec classificou as obsessões em três tipos, segundo o grau de atuação do espírito e submissão da vítima: obsessão simples, fascinação e subjugação.


A obsessão simples pode ser tratada em sessões de doutrinação, sem maiores complicações. O obsedado é geralmente um médium em desenvolvimento, mas não sempre. Em muitos casos, uma vez esclarecido o espírito e o paciente se dedicando ao estudo e prática da doutrina, liberta-se e converte o obsessor em seu amigo e colaborador.


Mas a fascinação e a subjugação exigem tratamento mais intenso e restrito a pequeno grupo de trabalho, integrado por médiuns conscientes da responsabilidade e das dificuldades do serviço e dirigido por pessoas competentes e estudiosas. A cura pode ser obtida em poucos dias ou levar meses e até anos, com fases intermitentes de melhora e recaída. Só a insistência no trabalho desobsessivo e a vontade ativa do paciente no sentido de libertar-se podem apressar os resultados. A dificuldade maior está sempre na falta de vontade do paciente, acostumado à ligação obsessiva, numa situação ambivalente, em que ao mesmo tempo quer libertar-se mas continua apegado ao obsessor, sentindo sua falta quando ele se afasta e invocando-o inconscientemente.


Há obsessores que se consideram, com razão, obsedados pela sua vítima. Ideias, hábitos, tendências alimentadas pelo obsedado constituem elementos de atração para o obsessor. Nesses casos, o trabalho maior da desobsessão é com a própria vítima. Os dirigentes do trabalho precisam estar atentos, vigilantes quanto ao comportamento do obsedado, ajudando-o constantemente a reagir contra as influências do espírito e contra as suas próprias tendências e hábitos mentais. A mente do obsedado, nesses casos, é o pivô do processo. Ensinar-lhe a controlar e dominar sua mente pela vontade, com apoio no esclarecimento doutrinário, é o que mais importa. Do domínio da mente decorre naturalmente o domínio das emoções e dos sentimentos, que são por assim dizer os elementos de atração do espírito obsessor.


Nenhuma atitude exorcista, na tentativa de afastar o obsessor pela força ou através de ameaças dá resultados. A doutrinação é um trabalho paciente de amor. Deve-se compreender que estamos diante de casos de reconciliação de antigos desafetos, carregados de ódio e de cumplicidade mútua em atividades negativas. Todo e qualquer elemento material que se queira empregar — passes complicados, preces insistentes e demoradas, uso de objetos ou coisas semelhantes — tudo isso só servirá para prolongar o processo obsessivo. O importante é a persuasão amorosa, o esclarecimento constante de obsedado e obsessor.


O doutrinador é sempre auxiliado pela ação dos Espíritos sobre obsessor e obsedado. Todas as prescrições de medidas prévias a serem tomadas pelos membros da equipe de médiuns, como abstenção de carne, repouso antes do trabalho, abstenção de fumo e álcool, comportamento angélico durante o dia e assim por diante, não passam de prescrições secundárias. Os médiuns têm naturalmente o seu comportamento normal regidos por princípios morais e espirituais. Se não o tiverem, de nada valerão essas improvisações de santidade. Se o tiverem, não necessitam desses artifícios.


Como Kardec explica, a única autoridade que se pode ter sobre os espíritos é a de ordem moral, e o que vale no socorro espiritual não são medidas de última hora, mas a intenção pura de médiuns e doutrinadores, pois que o Espiritismo é uma questão de fundo e não de forma.


As medidas que se devem tomar, quando médiuns e doutrinadores não forem suficientemente esclarecidos, são apenas as precauções que o bom senso indica: não exceder-se na alimentação, na bebida, nos falatórios impróprios e maldosos no dia do trabalho. É necessário afastar os artifícios do religiosismo místico e as pretensões de importância pessoal no ato de doutrinar. Médiuns e doutrinadores são apenas instrumentos — conscientes, é claro — mas instrumentos dos Espíritos benevolentes que deles se servem na hora do trabalho. O mérito individual do cada um está apenas na boa intenção e no amor que realmente os anime no serviço fraterno.


É natural a tendência mística na prática mediúnica, proveniente do sentimento religioso do homem e dos resíduos do fanatismo religioso do passado, em que fomos cevados no medo ao sobrenatural e no anseio de salvação pessoal através de sacramentos e atitudes piegas. Mas temos de combater e eliminar de nós esses resíduos farisaicos e egoístas, tomando uma atitude racional e consciente nas relações com os espíritos, que ainda ontem eram nossos companheiros na existência terrena e que a morte não transformou em santos ou anjos.


O meio espírita está cheio de pregadores de voz untuosa e expressões místicas, tanto encarnados como desencarnados, mas a doutrina não nos indica o caminho do artifício e do fingimento e sim o das atitudes e posições naturais, sinceras e positivas, que não nos levem a cobrir com peles de ovelha nosso pêlo grosso de lobos. O povo se deixa atrair facilmente pelo maravilhoso, pelos milagres e milagreiros, mas os espíritos, que nos vêem por dentro, não se iludem com as farsas dos santarrões.


A criatura humana é o que é e traz em si mesma os germes do seu aperfeiçoamento, não segundo as convenções formais da sociedade ou das instituições de santificação, mas segundo as suas disposições internas. Uma criatura espontânea, natural, aberta, choca-se com os artifícios, as manhas e os dengos de pessoas modeladas pelos figurinos da falsidade. Os espíritos, mais do que nós, sentem logo o cheiro de perfume barato e ardido desses anjinhos de procissão, cujas asas se derretem com os pingos da chuva. O Espiritismo não veio para nos dar novas escolas de farisaísmo, mas para nos despertar o gosto da autenticidade humana.


Sabemos muito bem que nada valem as maneiras suaves, a voz macia e empostada, os gestos de ternura dramática, se não formos por dentro o que mostramos por fora. E é uma ilusão estúpida pensarmos que essa disciplina exterior atinge o nosso íntimo. Nosso esquema interior de evolução não cede aos modismos e às afetações do fingimento.


A moral não é produto do meio social, mas da consciência. Seus princípios fundamentais estão em nosso íntimo e não fora de nós. A moral exógena (exterior) vem dos costumes, mas a moral endógena (interior) nasce das exigências da nossa consciência. A ideia de Deus no homem é a fonte dessa moral interna que supera o moralismo superficial da sociedade.


Nas sessões de desobsessão o que vale não é o falso moralismo dos homens, mas a moral legítima do homem. Essa busca do natural, do legítimo, do humano, é a constante fundamental do Espiritismo.


Do livro “O Espírito e o Tempo” - Herculano Pires