CONCILIAÇÃO



Concilia-te - depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz e o juiz te entregue ao oficial de justiça, e te encerrem na prisão.” Jesus. (Mateus. Cap. 5, v. 25.)


Muitas almas enobrecidas, após receberem a exortação desta passagem, sofrem intimamente por esbarrarem com a dureza do adversário de ontem, inacessível a qualquer conciliação.


A advertência do Mestre, no entanto, é fundamentalmente consoladora para a consciência individual.


Assevera a palavra do Senhor - “concilia-te”, o que equivale a dizer “faze de tua parte”.


Corrige quanto for possível, relativamente aos erros do passado, movimenta-te no sentido de revelar a boa-vontade perseverante. Insiste na bondade e na compreensão.


Se o adversário é ignorante, medita na época em que também desconhecias as obrigações primordiais e observa se não agiste com piores características; se é perverso, categoriza-o à conta de doente e dementado em vias de cura.


Faze o bem que puderes, enquanto palmilhas os mesmos caminhos, porque se for o inimigo tão implacável que te busque entregar ao juiz, de qualquer modo, terás então igualmente provas e testemunhos a apresentar.


Um julgamento legítimo inclui todas as peças e somente os espíritos francamente impenetráveis ao bem, sofrerão o rigor da extrema justiça.


Trabalha, pois, quanto seja possível no capítulo da harmonização, mas se o adversário te desdenha os bons desejos, concilia-te com a própria consciência e espera confiante.


Por: Emmanuel

Do livro “Pão Nosso”

Médium: Francisco Candido Xavier



DISCERNIMENTO




Os defeitos mais arraigados são aqueles que tomamos à feição de qualidades.


É preciso discernir:


Apresentação e vaidade;


Brio e orgulho;


Serenidade e indiferença;


Correção e frieza;


Humildade e subserviência;


Fortaleza e segurança de coração.


Quando algum sentimento nos induzir a parecer melhor ou mais forte que os outros, é chegado o momento de procurar a nossa própria realidade, para desistir da ilusão.


De que serve a felicidade dos felizes quando não diminui a infelicidade dos que se sentem menos felizes?


Por: André Luiz (Espírito)

Do livro “Endereços da Paz”

Psicografia: Francisco Cândido Xavier



ANTIPATIA


Não olvides que o passado revive no presente.


Quando a aversão te visite o mundo íntimo, à maneira de nuvem, subtraindo-te a paz, lembra-te de que a Divina Misericórdia situou à frente de tua alma a bendita oportunidade da reconciliação, ainda hoje, com os desafetos de ontem.


Qual acontece com o tesouro do carinho amealhado pelo amor, no escrínio do coração, de existência a existência, o espinheiro da antipatia é veneno acumulado pelo ódio no vaso de nossa mente, de século a século, conturbando-nos o caminho.


Recorda que, se o amor nos eleva aos cimos estelares, o ódio nos impele aos vales da sombra e atende à própria libertação, procurando renovar a fonte de teus desejos, em benefício da própria felicidade.


A aversão, quase sempre, destaca-se de improviso, no ambiente mais íntimo de nossa experiência em comum, por desafio à nossa capacidade de auxiliar e compreender.


Assinalando-a no lar ou na vizinhança, em teu círculo de trabalho ou no santuário de tua fé, roga ao Senhor, através da oração, para que as tuas energias se refaçam, de modo que a treva te encontre o sentimento por bênção de luz, exemplificando a fraternidade e o entendimento, o sacrifício e o perdão.


Aconselha-te com a piedade do Cristo, tanta vez revelada, em nosso favor, e compadece-te daqueles que te ensombram a alegria... Ei-los que surgem, a cada hora, na pessoa do familiar que se nos agregou à rede consanguínea, no companheiro de jornada justaposto ao nosso clima, no parente indireto que as circunstâncias nos ofertaram ao templo doméstico, no chefe humano chamado a orientar-nos o serviço, no subordinado trazido à cooperação na obra que o Senhor nos pede realizar...


Alça a própria fé nas asas da boa vontade e ajuda-os quanto possas, de vez que antipatia superada é anexação de mais amor ao campo de nossa vida e mais amor em nossa vida significa mais ampla ascensão de nosso próprio espírito, no rumo da Luz Eterna.


Por: Emmanuel

Do livro “Inspiração”

Médium: Francisco Cândido Xavier



Delito e Reencarnação




Por ódio trocado, Antônia

Matou Lina do Lagarto.

Hoje, elas são mãe e filha

Doentes no mesmo quarto.


Joaquim arrasou Simão

Para tomar-lhe Ana Vera,

Mas Simão tornou a ele,

É o filho que o não tolera.


Por Téo, Naná largou Juca

Que se matou pela ingrata,

E Juca voltou a ela,

É o filho que a desacata.


Manoel seduziu Percília,

Deixando-a em tombos loucos...

Ela morreu e voltou:

É a filha que o mata aos poucos.


Por Zina, matou-se João...

Um carro fê-lo aos pedaços...

Hoje ele é o filho doente

Que Zina beija nos braços.


Tesouro maior da vida

É a mente tranquila e sã.

Erro que a gente faz hoje

A vida acerta amanhã.


Por: Cornélio Pires

Psicografia: Chico Xavier

Livro: Chico Xavier Pede Licença



Apego




Um dia um homem já de certa idade abordou um ônibus. Enquanto subia, um de seus sapatos escorregou para o lado de fora... A porta se fechou e o ônibus saiu; então ficou incapaz de recuperá-lo. O homem tranquilamente retirou seu outro sapato e jogou-o pela janela.


Um rapaz no ônibus, vendo o que aconteceu e não podendo ajudar ao homem, perguntou: "Notei o que o senhor fez. Por que jogou fora seu outro sapato?"


O homem prontamente respondeu: "De forma que quem o encontrar seja capaz de usá-los. Provavelmente apenas alguém necessitado dará importância a um sapato usado encontrado na rua. E de nada lhe adiantará apenas um pé de sapato..."


O homem mostrou ao jovem que não vale a pena agarrar-se a algo simplesmente por possuí-lo e nem porque você não deseja que outro o tenha.


Perdemos coisas o tempo todo. A perda pode nos parecer penosa e injusta inicialmente, mas a perda só acontece de modo que mudanças, na maioria das vezes positivas, possam ocorrer em nossa vida.


Como o homem da história, nós temos que aprender a desprender. Alguma força decidiu que era hora daquele homem perder seu sapato. Talvez isto tenha acontecido para iniciar uma série de outros acontecimentos bem melhores para o homem do que aquele par de sapatos. Talvez a procura por outro par de sapatos tenha levado o homem a um grande benfeitor. Talvez uma nova e forte amizade com o rapaz no ônibus. Talvez aquele rapaz precisasse presenciar aquele acontecimento para adotar uma ação semelhante. Talvez a pessoa que encontrou os sapatos tenha, a partir daí, a única forma de proteger os pés.


Seja qual for a razão, não podemos evitar de perder coisas. O homem sabia disto. Um de seus sapatos tinha saído de seu alcance. O sapato restante não mais lhe ajudaria, mas seria um ótimo presente para uma pessoa desabrigada, precisando desesperadamente de proteção do chão.


Acumular posses não nos faz melhores e nem faz o mundo melhor. Todos temos que decidir constantemente se algumas coisas devem manter seu curso em nossa vida ou se estariam melhor com os outros.


Autor desconhecido

(Texto recebido via e-mail, se voce conhece o autor, por favor, informe!)



A cura da obsessão


Você é um ser humano adulto e consciente, responsável pelo seu comportamento. Controle as suas ideias, rejeite os pensamentos inferiores e perturbadores, estimule as suas tendências boas e repila as más.


Tome conta de si mesmo.


Deus concedeu a jurisdição de si mesmo, é você quem manda em você nos caminhos da vida. Não se faça de criança mimada. Aprenda a se controlar em todos os instantes e em todas as circunstâncias. Experimente o seu poder e verá que ele é maior do que você pensa.


A cura da obsessão é uma autocura. Ninguém pode livrá-lo da obsessão se você não quiser livrar-se dela. Comece a livrar-se agora, dizendo a você mesmo: sou uma criatura normal, dotada do poder e do dever de dirigir a mim mesmo. Conheço os meus deveres e posso cumpri-los. Deus me ampara.


Repita isso sempre que se sentir perturbado. Repita e faça o que disse.


Tome a decisão de se portar como uma criatura normal que realmente é, confiante em Deus e no poder das forças naturais que estão no seu corpo e no seu espírito, à espera do seu comando.


Dirija o seu barco.


Reformule o seu conceito de si mesmo. Você não é um pobrezinho abandonado no mundo. Os próprios vermes são protegidos pelas leis naturais. Por que motivo só você não teria proteção? Tire da mente a ideia de pecado e castigo. O que chamam de pecado é o erro, e o erro pode e deve ser corrigido.


Corrija-se.


Estabeleça pouco a pouco o controle de si mesmo, com paciência e confiança em si mesmo.


Você não depende dos outros, depende da sua mente. Mantenha a mente arejada, abra suas janelas ao mundo, respire com segurança e ande com firmeza. Lembre-se dos cegos, dos mudos e dos surdos, dos aleijados e deficientes que se recuperam confiando em si mesmos. Desenvolva a sua fé.


Fé é confiança.


Existe a fé divina, que é a confiança em Deus e no Seu poder que controla o universo. Você, racionalmente, pode duvidar disso? Existe a fé humana, que é a confiança da criatura em si mesma.


Você não confia na sua inteligência, no seu bom senso, na sua capacidade de ação?


Você se julga um incapaz e se entrega às circunstâncias deixando-se levar por ideias degradantes a seu respeito? Mude esse modo de pensar, que é falso. (…) Se você fizer isso, a sua obsessão já começou a ser vencida.


Não se acovarde, seja corajoso.


Do livro “Obsessão, o passe, a doutrinação”

J. Herculano Pires - Editora Paidéia







Único Modelo




Filhos, lutai contra os pensamentos infelizes que vos criam hábitos perniciosos.


A viciação mental escraviza o espírito nas ações em que encontra comparsas, visíveis e invisíveis, para que se consumam.


Todo hábito é adquirido. Não acrediteis na força determinante da hereditariedade, como ser capaz de transferir para o corpo o que é responsabilidade da alma.


Não vos acostumeis ao mal, para que o mal não se acostume a vos utilizar como instrumentos de sua propagação no mundo.


O espírito vive na órbita de seus próprios pensamentos e respira na atmosfera de seus anseios mais íntimos.


Que a vossa vida oculta seja como a vida que viveis para que os homens vos vejam.


Não acalenteis ideias enfermiças, porquanto toda ideia ardentemente acalentada tende a concretizar-se.


A dificuldade de se viver com retidão está no fato de não se procurar preencher os espaços vazios da alma com objetivos enobrecedores.


Quem se habitua à escuridão da caverna sente-se enceguecido com a luz que brilha lá fora...


Que a disciplina espiritual, oriunda do cumprimento do dever, vos possibilite a subjugação do corpo.


Os prazeres efêmeros a que aspirais, quando passam, deixam sequelas de longa duração nos mecanismos da alma.


Quantas vezes o remorso, agindo do inconsciente, aniquila o veículo que possibilitou ao espírito os terríveis equívocos cometidos?


Enfermidades de etiologia obscura, tumorações malignas, súbitas alterações cardiovasculares, disfunções de certos órgãos vitais ou queda da resistência imunológica, oportunizando o aparecimento de graves infecções, podem ser desencadeadas por um processo de autofagia moral, em que o ser pretende libertar-se da vestimenta física em que se corrompe, esquecido de que a causa de todos os seus males e aflições reside em sua própria essência.


Filhos, fora do corpo, o espírito prossegue vivendo de acordo com as suas inclinações e tendências. A morte em si não transforma ninguém. Se desejais mudança substancial adotai Jesus como o Único Modelo de vossas vidas!


Por: Bezerra de Menezes

Livro: A Coragem da Fé

Psicografia: Carlos Bacelli



Cartões de paz




Cada espírito é um canal de bênçãos, em se mantendo ligado às Leis do Criador. Lembre-se: você pode espalhar compreensão e otimismo...


Contemple a fonte ao dissipar as formações de lama que se lhe atira à corrente. Não se detenha em pessimismo e azedume...


Qualquer tristeza manifestada impulsiona os tristes a ficarem mais tristes. Fraqueza à mostra enfraquece os fracos ainda mais...


Encoraje o próximo com o seu sorriso, entregando suas mágoas a Deus. Não se sabe de benefício algum que o desânimo tenha realizado...


Siga em frente, criando simpatia e amizade, esperança e cooperação. Felicidade é um fruto que se colhe da felicidade que se semeia.


Plante amor e paz e a vida lhe trará farta colheita de paz e amor...


Quando a provação lhe apareça, terá surgido o seu momento mais importante para comunicar fé e coragem aos companheiros.


Quando o sofrimento desponte na estrada de alguém, estará você obtendo o instante dourado de auxiliar.


Haja o que houver, distribua confiança e bom ânimo, porque a alegria é talvez a única dádiva que você é capaz de ofertar sem possuir.


Evite amargura e desespero, porque todos estamos seguindo ao encontro do júbilo imperecível.


Se você não acredita que Deus é plenitude de paz e amor, alegria e luz, pense que a Terra poderá envolver-se nas sombras da noite, mas haverá sempre no Céu a fatalidade do alvorecer...


André Luiz
(Do livro “Buscas e Acharás” – Chico Xavier)


Na esfera do reajuste





Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo."

Jesus (João, 3:7)


Empeços e provações serão talvez os marcos que te assinalem a estrada hoje.


Diligenciemos, porém, com a reencarnação a retificar os erros e a ressarcir os débitos de ontem, para que a luz da verdade e o apoio da harmonia nos felicitem o caminho, amanhã...


A questão intrincada que te apoquenta agora, quase sempre, é o problema que abandonaste sem solução entre os amigos que, em outro tempo, se rendiam, confiantes, ao teu arbítrio.


O parente complicado que julgas carregar, por espírito de heroísmo, via de regra, é a mesma criatura que, em outra época, arrojaste ao desespero e à perturbação.


Ideais nobilitantes pelos quais toleras agressões e zombarias, considerando-te incompreendido seareiro do progresso, em muitas ocasiões, são aqueles mesmos princípios que outrora espezinhaste, insultando a sinceridade dos companheiros que a eles se associavam.


Calúnias que arrostas, crendo-te guindado aos píncaros da virtude pela paciência que evidencias, habitualmente nada mais são que o retorno das injúrias que assacaste, noutras eras, contra irmãos indefesos.


Falhas do passado procuram-te responsável, no corpo, na família, na sociedade ou na profissão, pedindo-te reajuste.


"Necessário vos é nascer de novo" – disse-nos Jesus.


Bendizendo, pois, a reencarnação, empenhemo-nos a trabalhar e aprender, de novo, com atenção e sinceridade, para que venhamos a construir e acertar em definitivo.


Emmanuel

(Do Livro “Palavras de Vida Eterna” - Francisco Cândido Xavier)


A Transição - Parte 4 de 4

O estado do Espírito por ocasião da morte pode ser assim resumido: tanto maior é o sofrimento do Espírito quanto mais lento for o desprendimento do perispírito; a presteza deste desprendimento está na razão direta do adiantamento moral do Espírito; para o Espírito desmaterializado, de consciência pura, a morte é qual um sono breve, isento de agonia, e cujo despertar é suavíssimo.


Para que cada qual trabalhe na sua própria purificação, reprimindo as más tendências e dominando as paixões, preciso se faz que abdique das vantagens imediatas em prol do futuro, visto como, para identificar-se com a vida espiritual, encaminhando para ela todas as aspirações e preferindo-a à vida terrena, não basta crer, mas é preciso compreender.


Devemos considerar essa vida debaixo de um ponto de vista que satisfaça ao mesmo tempo à razão, à lógica, ao bom senso e ao conceito em que temos a grandeza, a bondade e a justiça de Deus.


Considerado deste ponto de vista, o Espiritismo é, de todas as doutrinas filosóficas que conhecemos, a que exerce mais poderosa influência, pela fé inabalável que proporciona.


O espírita sério não se limita a crer, porque compreende, e compreende, porque raciocina; a vida futura é uma realidade que se desenrola incessantemente a seus olhos; uma realidade que ele toca e vê, por assim dizer, a todos os instantes e de modo que a dúvida não pode penetrar na sua mente, ou ter guarida em sua alma. A vida corporal, tão limitada, se apaga diante da vida espiritual, que se apresenta como a verdadeira vida.


Que lhe importam os incidentes da jornada, se ele compreende a causa e utilidade das vicissitudes humanas, quando suportadas com resignação? As relações diretas que mantém com o mundo invisível elevam-lhe a alma. Os laços fluídicos que o ligam à matéria se enfraquecem. E é assim que vai se operando por antecipação o desprendimento parcial que facilita a passagem desta para a outra vida. A perturbação consequente à transição pouco perdura, porque, uma vez franqueado o passo, para logo se reconhece, nada estranhando, antes compreendendo, a sua nova situação.


Com certeza não é só o Espiritismo que nos assegura esse resultado, nem ele tem a pretensão de ser o meio exclusivo, a garantia única de salvação para as almas. Porém, pelos conhecimentos que fornece, pelos sentimentos que inspira, como pelas disposições em que coloca o Espírito, fazendo-o compreender a necessidade de melhorar-se, facilita enormemente a salvação. Ele dá a mais, e a cada um, os meios de auxiliar o desprendimento doutros Espíritos ao deixarem o invólucro material, abreviando-lhes a perturbação pela evocação e pela prece.


Pela prece sincera, que é uma forma de magnetização espiritual, provoca-se a desagregação mais rápida do fluido perispiritual; pela evocação conduzida com sabedoria e prudência, com palavras de benevolência e conforto, combate-se o entorpecimento do Espírito, ajudando-o a reconhecer-se mais cedo, e, se é sofredor, incute-se-lhe o arrependimento - único meio de abreviar seus sofrimentos.


- Texto retirado do livro “O Céu e o Inferno” - Allan Kardec / 2ª Parte - Cap. I

- Nota do blog Espírita na Net – Edição realizada dos textos retirados do livro “O Céu e o Inferno”, das editoras FEB (40ª Edição) e LAKE (12ª Edição - Com tradução de J. Herculano Pires).


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Leia também o texto: A Hora Final


Sugestões de livros sobre o tema:

A Crise da Morte

Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte



A Transição - Parte 3 de 4



Em se tratando de morte natural, resultante da extinção das forças vitais pela idade ou pela doença, o desprendimento opera-se gradualmente; para o homem cuja alma se desmaterializou e cujos pensamentos se destacam da atração das coisas terrenas, o desprendimento quase se completa antes da morte real, isto é, ao passo que o corpo ainda tem vida orgânica, a alma já penetra a vida espiritual, apenas ligada ao corpo por elo tão frágil que se rompe sem dificuldade com a última pancada do coração. Nesta situação o Espírito pode já ter recuperado a sua lucidez, de modo a tornar-se testemunha consciente da extinção da vida do seu corpo, considerando-se feliz por tê-lo deixado. Para esse a perturbação é quase nula, ou antes, não passa de ligeiro sono calmo, do qual desperta com indizível impressão de felicidade e esperança.


No homem materializado e sensual, que mais viveu para o corpo que para o Espírito, e para o qual a vida espiritual nada significa, nem sequer lhe toca o pensamento, tudo contribui para estreitar os laços materiais, que ligam a alma à matéria, pois nada contribuiu para os relaxar durante a vida, e, quando a morte se aproxima, o desprendimento, conquanto se opere também gradualmente, demanda contínuos esforços. As convulsões da agonia são indícios da luta do Espírito, que às vezes procura romper os elos resistentes, e outras vezes se agarra ao corpo, do qual uma força irresistível o arrebata com violência, molécula por molécula.


Quanto menos vê o Espírito além da vida corporal, tanto mais se apega à vida material, e, assim, sente que ela lhe foge e quer retê-la; e, em vez de se abandonar ao movimento que o arrasta, resiste com todas as forças e pode mesmo prolongar a luta por dias, semanas e meses inteiros.


Certo, nesse momento, o Espírito não possui toda a lucidez, visto que a perturbação há muito tempo se antecipou à morte; mas nem por isso sofre menos, e o estado de vácuo mental em que se encontra, e a incerteza do que lhe sucederá, agravam-lhe as angústias. A morte chega, e nem por isso está tudo terminado; a perturbação continua, ele sente que vive, mas não sabe se essa vida é material ou espiritual; luta, e luta ainda, até que as últimas ligações do perispírito com o corpo se tenham de todo rompido. A morte pôs termo à moléstia que ele sofria, porém, não lhe sustou as consequências, e, enquanto existirem pontos de contato do perispírito com o corpo, o Espírito ressente-se e sofre com as suas impressões.


Quão diversa é a situação do Espírito desmaterializado, mesmo nas enfermidades mais cruéis! Sendo frágeis os laços fluídicos que o prendem ao corpo, rompem-se suavemente; e, além disso, a confiança do futuro, que ele já entrevê mentalmente e às vezes mesmo de maneira real, como sucede algumas vezes, o faz encarar a morte como libertação e as suas consequências como prova, advindo-lhe daí a tranquilidade moral e a resignação que lhe amenizam o sofrimento. Após a morte, tendo sido rompidos os laços de maneira instantânea, nem uma só reação dolorosa o afeta; ao despertar sente-se livre, disposto, aliviado por um grande peso e muito feliz por não estar mais sofrendo.


Na morte violenta as sensações não são precisamente as mesmas. Nenhuma desagregação inicial tendo começado previamente à separação do corpo e do perispírito, a vida orgânica em plena exuberância de força é subitamente aniquilada. Nestas condições, o desprendimento só começa depois da morte e não pode completar-se rapidamente. O Espírito, colhido de surpresa, fica como que aturdido e sente, e pensa, e acredita-se vivo, prolongando-se esta ilusão até que compreenda o seu estado.


Esse estado intermediário entre a vida corporal e a espiritual é um dos mais interessantes para ser estudado, porque apresenta o espetáculo singular de um Espírito que julga material o seu corpo fluídico, experimentando ao mesmo tempo todas as sensações da vida orgânica. Há, além disso, dentro desse caso, uma série infinita de modalidades que variam segundo o caráter, os conhecimentos e progressos morais do Espírito. Para aqueles cuja alma está mais purificada, a situação pouco dura, porque já possuem em si como que um desprendimento antecipado, que a morte, mesmo súbita, não faz senão apressar.


Outros há, para os quais a situação se prolonga por anos inteiros. É uma situação essa muito frequente até nos casos de morte comum, que, nada tendo de penosa para Espíritos adiantados, se torna horrível para os atrasados. No suicida, principalmente, excede a toda expectativa e essa situação se faz ainda mais penosa. Preso ao corpo por todas as suas fibras, o perispírito faz repercutir na alma todas as sensações daquele, com sofrimentos cruciantes.


- Texto retirado do livro “O Céu e o Inferno” - Allan Kardec / 2ª Parte - Cap. I

- Nota do blog Espírita na Net – Edição realizada dos textos retirados do livro “O Céu e o Inferno”, das editoras FEB (40ª Edição) e LAKE (12ª Edição - Com tradução de J. Herculano Pires).