Reconciliar-se com os adversários




Concerta-te sem demora com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele, para que não suceda que ele te entregue ao juiz, e que o juiz te entregue ao seu ministro, e sejas mandado para a cadeia. Em verdade te digo que não sairás de lá, enquanto não pegares o último ceitil.” (Mateus, V: 25 e 26)



Há, na prática do perdão e na prática do bem em geral, além de um efeito moral, um efeito também material. A morte, como se sabe, não nos livra dos nossos inimigos. Os Espíritos vingativos perseguem sempre com o seu ódio, além da sepultura, aqueles que ainda são objeto do seu rancor. Daí ser falso, quando aplicado ao homem, o provérbio: “morto o cão, acaba a raiva”. O Espírito mau espera que aquele a quem quer mal esteja encerrado em seu corpo, e assim menos livre, para mais facilmente o atormentar, atingindo-o nos seus interesses ou nas suas mais caras afeições.

É necessário ver nesse fato a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo daqueles que apresentam certa gravidade, como a subjugação e a possessão. O obsedado e o possesso são, pois, quase sempre, vítimas de uma vingança anterior, a que provavelmente deram motivo por sua conduta. Deus permite a situação atual, para os punir do mal que fizeram, ou, se não o fizeram, por haverem faltado com a indulgência e a caridade, deixando de perdoar.

Importa, pois, com vistas à tranquilidade futura, reparar o mais cedo possível os males que se tenham praticado em relação ao próximo, e perdoar aos inimigos, para assim se extinguirem, antes da morte, todos os motivos de desavença, toda causa profunda de animosidade posterior. Dessa maneira, se pode fazer, de um inimigo encarnado neste mundo, um amigo no outro, ou pelo menos ficar com a boa causa, e Deus não deixa ao sabor da vingança aquele que soube perdoar.

Quando Jesus recomenda que nos reconciliemos o mais cedo possível com o nosso adversário, não quer apenas evitar as discórdias na vida presente, mas também evitar que elas se perpetuem nas existências futuras. Não saireis de lá, disse ele, enquanto não pagardes o último ceitil, ou seja, até que a justiça divina não esteja completamente satisfeita.



O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec

(Cap. X – Bem-Aventurados os Misericordiosos)


CANSAÇO



Estás fatigado. O cansaço, qual fluido deletério, vence tuas resistências, assenhoreando-se do aparelho físico-mental que acionas com dificuldade.

Tantas têm sido as aflições, as lutas que, desencorajado, te entregas à indiferença quanto ao futuro sob tormentos que te dominaram a capacidade de lutar.

Tens a impressão de que o entusiasmo calou a voz da sua emoção no teu sentimento encarcerado na dor, e sentes o coração como se fosse um diamante bruto a esfacelar-se dentro do peito, golpeado por vigorosas tenazes que o despedaçam...

Tudo se te afigura sombrio e a luz, que se emboscava na gota d’água aprisionada diante dos teus olhos, agora a vês transformada em lama, no pó, qual a tua antemanhã de sonhos convertida em noite tempestuosa de pavor.

Lutaste, é certo.

Reuniste as energias, qual comandante afervorado a batalhas violentas, colocando-as em defensivas até a exaustão. Mas tantas foram as agressões e tão continuado o cerco que desejarias bater em retirada, deixando livre o campo para que se multiplicassem os maus.

No íntimo conservas um travo de fel que o sofrimento deixou e como miasma em crescimento sentes o espírito envenenado, com a amargura em todas as horas.

Uns companheiros fitam teu sorriso e crêem que o caráter não é um dos teus dotes mais representativos.

Outros contemplam tua tristeza e comentam que é débil a tua fé.

Alguns falam contigo e identificam expressões que deprimem teus sentimentos.

Amigos discretamente afirmam que foste vencido por “forças negativas” do Mundo Espiritual.

Confrades rigorosos negam-te o concurso da amizade deles.

Irmãos acendem a chama da idiossincrasia e separam aqueles que o teu esforço infatigável reuniu.

Colaboradores fendem as bases do serviço que desdobras, abnegado, desejando amesquinhar-te.

Assim crês, assim vês, assim é... Porque estás cansado.



* * *


Quem observa dificuldades somente encontra obstáculos.

Aquele que se prepara para um dia de calor tem pretexto para a canícula inexistente.

Olhos acostumados aos detalhes negativos descobrem insignificâncias que enfeiam qualquer paisagem feliz.

As estrelas que fulgem além da névoa são ignoradas por quantos se contentam com sombras.

As mãos que preferem espinhos perdem a sensibilidade para as débeis violetas.

No entanto, além do que registras, há beleza, harmonia, vida.

O veneno que o ofídio injeta e com o qual mata, o homem consegue transformar em medicamento salvador.

A ofensa de que se utilizam os infelizes para ultrajar, ajuda na ascensão os que sabem transformar vinditas em bênçãos.

A pedra que fere também adorna.

O lodo pestilento devidamente atendido converte-se em perfume delicado na intimidade da flor.


* * *


Transforma cansaço e tristeza em seiva de vida eterna.

Renasceste, na Terra, para elaborar a felicidade própria e intransferível.

Rogaste a dádiva do resgate com as moedas do testemunho e do silêncio.

Esquece-te, desse modo, de ti mesmo e persevera.

Perdoa, enquanto podes.

O perdão é luz que arremessas na direção da vida e que voltará à fonte donde procede.

O conceito que os outros fazem a teu respeito vale o que valorizas.

As dificuldades que te impõem obstaculam quanto supões.

O sarcasmo e a perseguição representam o que consideras.

A dor é o que se deseja que valha.

Levanta o espírito e combate.

Não deixes que os braços das sombras apaguem com mãos de trevas os painéis da tela das tuas aspirações.

Aprofunda a mente na pesquisa da verdade e detém-te a examinar a história dos homens fortes. Não nasceram fortes: fortificaram-se na luta.

O vento enrija a fibra da sequóia e a tormenta lhe dá vigor.

A chuva que chafurda o regato aumenta-lhe o volume d’água.

Deixa-te conduzir pelos testemunhos naturais da experiência carnal e experimenta perseverar, insistir, continuar...


* * *


A grandeza de Jesus afirmada no atroz sacrifício da Cruz teve o seu início na escolha de singelo berço para continuar nas aparentes mil nonadas da carpintaria humilde, dos contatos com as gentes simples e pouco esclarecidas, com os enfermos exigentes, os amigos ingratos, os legisladores e religiosos desonestos, para culminar na covardia de alguns discípulos obsidiados com intermitências que O atraiçoaram, esquecendo o Seu amor para fugirem.

No entanto, uma vez única deixou-se Ele vencer pelo cansaço e, por isso, não reclamou, não desistiu, não censurou, não se deteve a examinar o lado infeliz de ninguém, dedicando-se incansavelmente à construção do bem excelso em favor de todos, a todos amando e perdoando, apesar de tudo.


Joanna de Ângelis
(Dimensões da Verdade - Divaldo P. Franco)


Refletindo sobre o perdão



PERDOA AGORA

Não te detenhas!

Torna à presença do companheiro que te feriu e perdoa, ajudando-o a recuperar-se.

Reflete e ampara-o!

Quantas dores e quantas perturbações lhe vergastaram a alma, antes que a palavra dele se erguesse para ofender-te ou antes que o seu braço, armado pela incompreensão, deferisse contra ti o golpe deprimente?

Guarda a calma e auxilia, sem cessar.

Mais tarde, é possível que não possas, por tua vez, suportar o horrendo assalto da ira e reclamarás, igualmente, o bálsamo da alheia compreensão.

Retorna ao teu lar ou à tua luta e espalha, de novo, a bênção do amor, com todos os corações que jazem envenenados, pelo fel da crueldade ou pela peçonha da calúnia.

Não hesites, porém! Perdoa agora, enquanto a oportunidade de reaproximação te favorece os bons desejos porque, provavelmente, amanhã, o ensejo luminoso terá passado e não encontrarás, ao redor de ti senão a cinza do arrependimento e o choro amargo da inútil lamentação.


Pelo Espírito Emmanuel

Do livro "Assim Vencerás" - Chico Xavier


* . * . * . *

PRECE ANTE O PERDÃO


Senhor Jesus!

Ensina-nos a perdoar, conforme nos perdoaste e nos perdoas, a cada passo da vida.

Auxilia-nos a compreender que o perdão é o poder capaz de extinguir o mal.

Induze-nos a reconhecer nos irmãos que a treva infelicita filhos de Deus, tanto quanto nós, e que nos cabe a obrigação de interpretá-los na condição de doentes, necessitados de assistência e de amor.

Senhor Jesus, sempre que nos sintamos vítimas das atitudes de alguém, faze-nos entender que também somos suscetíveis de erros e que, por isso mesmo, as faltas alheias poderiam ser nossas.
Senhor, sabemos o que seja o perdão das ofensas, mas compadece-te de nós e ensina-nos a praticá-lo.

Assim seja!


Pelo Espírito Emmanuel

Do livro "Tesouro de Alegria" - Chico Xavier


Ante o Ofensor


Aquele que nos fere terá assumido, aos nossos olhos, a feição de inimigo terrível, no entanto, o Divino Mestre, que tornamos por guia de nosso pensamento e conduta, determina venhamos a perdoá-lo setenta vezes sete.


Por outro lado as ciências psicológicas da atualidade, absolutamente concordes com Jesus, asseveram que é preciso desinibir o coração de quaisquer ressentimentos e estabelecer o equilíbrio na governança de nossas potências mentais a fim que a tranquilidade se nos expresse na existência em termos de saúde e harmonia.


Como, porém, realizar semelhante feito?


Entendendo-se que a compreensão não é fruto de afirmativas labiais, é forçoso reconhecer que o perdão exige operações profundas nas estruturas da consciência.


Se um problema desse nos aflora ao cotidiano – à nós, os que aspiramos a seguir o Cristo – pensemos primeiramente em nosso opositor na condição de filho de Deus, tanto quanto nós, e situando-nos no lugar dele, imaginemos em como estimaríamos que a Lei de Deus nos tratasse, em circunstâncias análogas.


De imediato observaremos que Deus está em nosso assunto desagradável tanto quanto um pai amoroso e sábio se encontra moralmente na contenda dos filhos.


Então, à luz do sentimento novo que nos brotará do ser, examinaremos espontaneamente até que ponto teremos ditado o comportamento do adversário para conosco.


Muito difícil nos vejamos com alguma parte de culpa nos sucessos indesejáveis de que nos fizemos vítimas, mas ao influxo da Divina Providência, a cujo patrocínio recorremos, ser-nos-á possível recordar os nossos próprios impulsos menos felizes, as sugestões delituosas que teremos lançado a esmo, as pequenas acusações indébitas e as diminutas desconsiderações que perpetramos, às vezes, até impensadamente, sobre o companheiro que não mais resistiu à persistência de nossas provocações, caindo, por fim, na situação de inimigo perante nós outros.


Efetuando o auto-exame, a visão do montante de nossas falhas não mais nos permitirá emitir qualquer censura em prejuízo de alguém.


Muito pelo contrário, proclamaremos, de pronto, no mundo íntimo, a urgente necessidade da Misericórdia Divina para o nosso adversário e para nós.


Então, não mais falaremos no singular, diante daquele que nos fere: – “eu te perdôo” e sim, perante qualquer ofensor com que sejamos defrontados no caminho da vida, diremos sinceramente a Deus em oração: – “Pai de Infinita Bondade, perdoai a nós dois.”


Emmanuel

Do livro “Atenção” - Francisco Cândido Xavier


PERDÃO



Perdoar e não perdoar significa absolver e condenar?


Emmanuel - Nas mais expressivas lições de Jesus, não existem, propriamente, as condenações implícitas ao sofrimento eterno, como quiseram os inventores de um inferno mitológico.


Os ensinos evangélicos referem-se ao perdão ou à sua ausência.


Que se faz ao mal devedor a quem já se tolerou muitas vezes? Não havendo mais solução para as dívidas que se multiplicam, esse homem é obrigado a pagar.


É que se verifica com as almas humanas, cujos débitos, no tribunal da justiça divina, são resgatados nas reencarnações, de cujo círculo vicioso poderão afastar-se, cedo ou tarde, pelo esforço no trabalho e boa-vontade no pagamento.


Na lei divina, há perdão sem arrependimento?


Emmanuel - A lei divina é uma só, isto é, a do amor que abrange todas as coisas e todas as criaturas do Universo ilimitado.


A concessão paternal de Deus, no que se refere à reencarnação para a sagrada oportunidade de uma nova experiência, já significa, em si, o perdão ou a magnanimidade da Lei. Todavia, essa oportunidade só é concedida quando o Espírito deseja regenerar-se e renovar seus valores íntimos pelo esforço nos trabalhos santificantes.


Eis por que a boa-vontade de cada um é sempre o arrependimento que a Providência Divina aproveita em favor do aperfeiçoamento individual e coletivo, na marcha dos seres para as culminâncias da evolução espiritual.


Antes de perdoarmos a alguém, é conveniente o esclarecimento do erro?


Emmanuel - Quem perdoa sinceramente, fá-lo sem condições e olvida a falta no mais íntimo do coração; todavia, a boa palavra é sempre útil e a ponderação fraterna é sempre um elemento de luz, clarificando o caminho das almas.


Quando alguém perdoa, deverá mostrar a superioridade de seus sentimentos para que o culpado seja levado a arrepender-se da falta cometida?


Emmanuel - O perdão sincero é filho espontâneo do amor e, como tal, não exige reconhecimento de qualquer natureza.


O culpado arrependido pode receber da justiça divina o direito de não passar por determinadas provas?


Emmanuel - A oportunidade de resgatar a culpa já constitui em si mesma, um ato de misericórdia divina, e, daí, o considerarmos o trabalho e o esforço próprio como a luz maravilhosa da vida.


Estendendo, todavia, a questão à generalidade das provas, devemos concluir ainda, com o ensinamento de Jesus, que “o amor cobre a multidão dos pecados”, traçando a linha reta da vida para as criaturas e representando a única força que anula as exigências da lei de talião, dentro do Universo infinito.


– “Concilia-te depressa com o teu adversário” – Essa é a palavra do Evangelho, mas se o adversário não estiver de acordo como bom desejo de fraternidade, como efetuar semelhante conciliação?


Emmanuel - Cumpra cada qual o seu dever evangélico, buscando o adversário para a reconciliação precisa, olvidando a ofensa recebida. Perseverando a atitude rancorosa daquele, seja a questão esquecida pela fraternidade sincera, porque o propósito de represália, em si mesmo, já constitui numa chaga viva para quantos o conservam no coração.


Por que teria Jesus aconselhado perdoar “setenta vezes sete?”.


Emmanuel - A Terra é um plano de experiências e resgates por vezes bastante penosos, e aquele que se sinta ofendido por alguém, não deve esquecer que ele próprio pode também errar setenta vezes sete.


Em se falando de perdão, poderemos ser esclarecidos quanto à natureza do ódio?


Emmanuel - O ódio pode traduzir-se nas chamadas aversões instintivas, dentro das quais há muito de animalidade, que cada homem alijará de si, com os valores da auto-educação, a fim de que o seu entendimento seja elevado a uma condição superior.


Todavia, na maior parte das vezes, o ódio é o gérmem do amor que foi sufocado e desvirtuado por um coração sem Evangelho. As grandes expressões afetivas convertidas nas paixões desorientadas, sem compreensão legítima do amor sublime, incendeiam-se no íntimo, por vezes, no instante das tempestades morais da vida, deixando atrás de si as expressões amargas do ódio, como carvões que enegrecem a alma.


Só a evangelização do homem espiritual poderá conduzir as criaturas a um plano superior de compreensão, de modo a que jamais as energias afetivas se convertam em forças destruidoras do coração.


Perdão e esquecimento devem significar a mesma coisa?


Emmanuel - Para a convenção do mundo, o perdão significa renunciar à vingança, sem que o ofendido precise olvidar plenamente a falta do seu irmão; entretanto, para o espírito evangelizado, perdão e esquecimento devem caminhar juntos, embora prevaleça para todos os instantes da existência a necessidade de oração e vigilância.


Aliás, a própria lei da reencarnação nos ensina que só o esquecimento do passado pode preparar a alvorada da redenção.


Os Espíritos de nossa convivência, na Terra, e que partem para o Além, sem experimentar a luz do perdão, podem sofrer com as nossas opiniões acusatórias, relativamente aos atos de sua vida?


Emmanuel - A entidade desencarnada, muito sofre com o juízo ingrato ou precipitado que, a seu respeito, se formula no mundo.


Imaginai-vos recebendo o julgamento de um irmão de humanidade e avaliai como desejaríeis a lembrança daquilo que possuís de bom, a fim de que o mal não prevaleça em vossa estrada, sufocando-vos as melhores esperanças de regeneração.


Em lembrando aquele que vos precedeu no túmulo, tende compaixão dos que erraram e sede fraternos.


Rememorar o bem é dar vida à felicidade. Esquecer o erro é exterminar o mal. Além de tudo, não devemos esquecer de que seremos julgados pela mesma medida com que julgarmos.



Do livro “O Consolador” - Pelo Espírito Emmanuel - Psicografia: Francisco Cândido Xavier (Terceira Parte – Item III – Questões 332 a 341)


Estranha crise




O mundo vem criando soluções adequadas para a generalidade das crises que o atormentam.


A carência do pão, em determinados distritos, é suprida, de imediato, pela superprodução de outras faixas de terra.


Corrige-se a inflação, podando a despesa.


O desemprego desaparece pela improvisação de trabalho.


A epidemia é sustada pela vacina.


Existe, porém, uma crise estranha - e das que mais afligem os povos - francamente inacessível à intervenção dos poderes públicos, tanto quanto aos recursos da ciência nas conquistas modernas.


Referimo-nos à crise da intolerância que, desde o travo de amargura, que sugere o desânimo, à violência do ódio, que impele ao crime, vai minando as melhores reservas morais do Planeta, com a destruição consequente de muitos dos mais belos empreendimentos humanos.


Para a liquidação do problema, que assume tremendo vulto em todas as coletividades terrestres, o remédio não se forma de quaisquer ingredientes políticos e financeiros, por ser encontrado tão-somente na farmácia da alma, a exprimir-se no perdão puro e simples.


O perdão é o único antibiótico mental suscetível de extinguir as infecções do ressentimento no organismo do mundo.


Perdão entre dirigentes e dirigidos, sábios e ignorantes, instrutores e aprendizes, benevolência entre o pensamento que governa e o braço que trabalha, entre a chefia e a subalternidade.


Consultem-se nos foros - autênticos hospitais de relações humanas - os processos por demandas, questões salariais, divórcios e desquites baseados na intransigência doméstica ou na incompatibilidade de sentimentos, reclamações, indenizações e reivindicações de toda ordem, e observe-se, para além dos tribunais de justiça, a animosidade entre pais e filhos, a luta de classes, as greves de múltiplas procedências, as queixas de parentela, os duelos de opinião entre a juventude e a madureza, as divergências raciais e os conflitos de guerra, e verificaremos que, ou nos desculpamos uns aos outros, na condição de espíritos frágeis e endividados que ainda somos quase todos, ou a nossa agressividade acabará expulsando a civilização dos cenários terrestres.


Eis por que Jesus, há quase vinte séculos, nos exortou perdoarmos aos que nos ofendam setenta vezes sete, ou melhor, quatrocentos e noventa vezes.


Tão-só nessa operação aritmética do Senhor, resolveremos a crise da intolerância, sempre grave em todos os tempos. Repitamos, no entanto, que a preciosidade do perdão não se adquire nos armazéns, por que, na essência, o perdão é uma luz que irradia, começando de nós.


Por: Emmanuel

(Do livro 'Mãos Unidas' - Francisco Cândido Xavier)


Esquecer e Perdoar




Sofreste, de inesperado,

O estranho golpe da ofensa

Que te envolve em dor imensa,

No espinheiro do pesar.

Mas o remédio mais puro

Que restaura a alma ferida

Vem da farmácia da vida:

Esquecer e perdoar...


Honrando o cérebro eleito,

A Ciência alteia a voz,

Expõe o carro veloz,

A nave aérea, o radar...

A paz em casa, entretanto,

Além da luz da Ciência,

Pede a dupla providência:

Esquecer e perdoar...


No livro da Natureza,

Solo que aceite o trator,

Garante com mais amor

A semente, o pão e o lar...

Da fornalha desumana,

Vem a fina porcelana...

A ostra desconhecida

Cede ao mundo, sem protesto,

A pérola em plena vida,

Ensina-nos, vencida:

Esquecer e perdoar...


Assim também, alma irmã,

Nos dias de dor e luta,

Acalma-te, espera, escuta

Sem tristeza e reclamar,

E ouvirás a voz dos Céus,

Em meio da própria ação,

A dizer-te ao coração:

Esquecer e perdoar!...


Por: Maria Dolores. Mensagem recebida por Chico Xavier em reunião pública do Centro Espírita União – CEU, São Paulo-SP, em outubro de 1989, inserta na obra “Até sempre, Chico Xavier”.



O que importa



Não importa:


que a ventania da incompreensão nos zurza o caminho;


que a ignorância nos apedreje;


que a injúria nos aponte ao descrédito;


que a maledicência nos receba a jarros de lama;


que a intriga nos envolva em sombra;


que a perseguição nos golpeie;


que a crítica arme inquisições para condenar-nos;


que os obstáculos se multipliquem, complicando-nos a jornada;


que a mudança de outrem nos relegue ao abandono;


ou que as trevas conspirem incessantemente, no objetivo de perder-nos.


Importa nos agasalhemos na paciência;


que nos apliquemos à desculpa incondicional;


que nos resguardemos na humildade, observando que só temos e conseguimos aquilo que a Divina Providência nos empreste ou nos permita realizar;


que nos cabe responder ao mal com o bem, sejam como sejam as circunstâncias;


e que devemos aceitar a verdade de que cada coração permanece no lugar em que se coloca e que, por isso mesmo, devemos, acima de tudo, conservar a consciência tranquila, trabalhar sempre e abençoar a todos, procurando reconhecer que todos somos de Deus e todos estamos em Deus, cujas leis nos julgarão a todos, amanhã e sempre, segundo as nossas próprias obras.


Emmanuel

In: 'Coragem' - Francisco Cândido Xavier


Se soubéssemos...


Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
JESUS (Lucas, capítulo 23, versículo 34.)



Se o homicida conhecesse, de antemão, o tributo de dor que a vida lhe cobrará, no reajuste do seu destino, preferiria não ter braços para desferir qualquer golpe.


Se o caluniador pudesse eliminar a crosta de sombra que lhe enlouquece a visão, observando o sofrimento que o espera no acerto de contas com a verdade, paralisaria as cordas vocais ou imobilizaria a pena, a fim de não se confiar à acusação descabida.


Se o desertor do bem conseguisse enxergar as perigosas ciladas com que as trevas lhe furtarão o contentamento de viver, deter-se-ia feliz, sob as algemas santificantes dos mais pesados deveres.


Se o ingrato percebesse o fel de amargura que lhe invadirá, mais tarde, o coração, não perpetraria o delito da indiferença.


Se o egoísta contemplasse a solidão infernal que o aguarda, nunca se apartaria da prática infatigável da fraternidade e da cooperação.


Se o glutão enxergasse os desequilíbrios para os quais encaminha o próprio corpo, apressando a marcha para a morte, renderia culto invariável à frugalidade e à harmonia.


Se soubéssemos quão terrível é o resultado de nosso desrespeito às Leis Divinas, jamais nos afastaríamos do caminho reto.


Perdoa, pois, a quem te fere e calunia...


Em verdade, quantos se rendem às sugestões perturbadoras do mal, não sabem o que fazem.



Emmanuel

Livro: ‘Fonte Viva’ - Psicografia: Chico Xavier

Oração do Perdão



Pai, quando eu for chamado para junto de Ti, quero partir com o coração aliviado de qualquer sentimento menor que possa reter-me ao vale de lágrimas onde me encontro hoje.


Ah, Meu Deus, que nada do que já vivi e ainda vivo seja obstáculo à minha felicidade amanhã!...


Quando eu me for, quero alçar vôo como fazem as aves que planam livres por sobre as misérias humanas, e que não pousam no chão senão para buscar o alimento que as mantém fortes nas alturas!...


Quando meus olhos se cerrarem à ilusão da carne, é de minha vontade que eu me distancie do mundo com a leveza das almas experimentadas na forja das provas árduas, sem que o peso dos sentimentos menores impeça meu anseio de libertação!


Desejo, Pai, libertar-me, sendo fiel à Tua lei de amor e de perdão!


Eu compreendo que a Terra é a escola onde Tu nos prepara para a angelitude!...


Eu compreendo que o sofrimento é a lição que nos faz avançar para a glória ou estacionar na senda de novas e mais dolorosas provas!...


Eu compreendo que tudo é seleção: os laços, a estrada, os acontecimentos...


De minha atitudes colherei bem ou mal; com minhas decisões talharei o que serei amanhã.


Alegrias infinitas ou sofrimentos sem conta nascem unicamente de meus atos, a revelia do que os outros me fazem ou deixam de fazer...


Por isso, Pai, conduz meu pensamento de tal sorte que, quando chegar minha hora, nada do que vivi possa retardar-me o passo ou prender-me outra vez ao sombrio grilhão da dor.


De todos os momentos experimentados, que eu carregue comigo apenas aqueles que me proporcionaram coisas úteis e felizes.


Que os infortúnios e mágoas do passado não sejam mais peso em meu coração, a impedir a realização dos mais ardentes anseios de felicidade e sublimação!...


As lágrimas que me fizeram verter - eu perdôo.
As dores e as decepções - eu perdôo.
As traições e mentiras - eu perdôo.
As calúnias e as intrigas - eu perdôo.
O ódio e a perseguição - eu perdôo.
Os golpes que me feriram - eu perdôo.
Os sonhos destruídos - eu perdôo.
As esperanças mortas - eu perdôo.
O desamor e a antipatia - eu perdôo.
A indiferença e a má vontade - eu perdôo.
A desconsideração dos amados - eu perdôo.
A cólera e os maus tratos - eu perdôo.
A negligência e o esquecimento - eu perdôo.
O mundo, com todo o seu mal - eu perdôo.


A partir de hoje proponho-me a perdoar porque a felicidade real é aquela que nasce do esquecimento de todas as faltas!...


No lugar da mágoa e do ressentimento, coloco a compreensão e o entendimento; no lugar da revolta, coloco a fé na Tua Sabedoria e Justiça; no lugar da dor, coloco o esquecimento de mim mesmo; no lugar do pranto coloco a certeza do riso e da esperança porvindoura; no lugar do desejo de vingança, coloco a imagem do Cordeiro imolado e o mais sublime dos perdões...


Só assim, Pai, se um dia eu tiver que retornar à carne, poderei me levantar forte e determinado sobre os meus pés e não obstante todos os sofrimentos que experimentar, serei naturalmente capaz de amar acima de todo desamor, de doar mesmo que despossuído de tudo, de fazer feliz aos que me rodearem, de honrar qualquer tarefa que me concederes, de trabalhar alegremente mesmo que em meio a todos impedimentos, de estender a mão ainda que em mais completa solidão e abandono, de secar lágrimas ainda que aos prantos, de acreditar mesmo que desacreditado, e de transformar tudo em volta pela força de minha vontade, porque só o perdão rasga os véus sombrios do ressentimento e da revolta, frutos infelizes do egoísmo e do orgulho, libertando meu coração no rumo do bem e da paz, do amor verdadeiro e da felicidade eterna!


Assim seja!



(Psicografia Instituto André Luiz, 08.03.2003)


Perdão e Liberdade




Aprendamos a perdoar, conquistando a liberdade de servir.


É imprescindível esquecer o mal para que o bem se efetue.


Onde trabalhas, exercita a tolerância construtiva para que a tarefa não se escravize a perturbações...


Em casa, guarda o entendimento fraterno, a fim de que a sombra não te algeme o espírito ao desespero...


Onde estiveres e onde fores, lembra-te do perdão incondicional, para que o auxílio dos outros te assegure paz à vida.


É indispensável que a compreensão reine hoje entre nós, para que amanhã não estejamos encarcerados na rede das trevas.


A morte não é libertação pura e simples...


Desencarnar-se a alma do corpo não é exonerar-se dos sentimentos que lhe são próprios.


Muitos conduzem consigo, além-túmulo, uma taça de fel envenenado com que aniquilam os melhores sonhos dos que ficaram na Terra, e muitos dos que ficam na Terra conservam consigo no coração um vaso de fogo vivo com que destroem as melhores esperanças dos que demandam o cinzento portal do túmulo.


Não procures para tua alma o inferno invisível do ódio.


Acomoda-te com o adversário ainda hoje, procurando entendê-lo e servi-lo, para que amanhã não te matricules em aflitivas contendas com forças ocultas.


Transferir a reconciliação para o caminho da morte é atormentar o caminho da própria vida.


Desculpa sempre, reconhecendo que não prescindimos da paciência alheia.


Nem sempre somos nós a vítima real, de vez que, por atitudes imanifestas, induzimos o próximo a agir contra nós convertendo-nos, ante os tribunais da Justiça Divina, em autores, intelectuais dos delitos que passamos a lamentar indebitamente diante dos outros.


Toda intolerância é violência.


Toda dureza espiritual é crueldade.


Quase sempre, a crítica é corrosivo do bem, tanto quanto a acusação, habitualmente, é um chicote de brasas.


E sabendo que encontraremos na estrada a projeção de nós mesmos, conservemos o perdão por defensor de nossa liberdade, ajudando agora para que não sejamos desajudados depois.



Emmanuel
(Do livro "Trevo de Idéias", Francisco Cândido Xavier)


Perdão em Família



Quando o ambiente doméstico, à conta de pesados compromissos morais, surgir frustrando os seus anseios sinceros de felicidade, não o abandone, persevere um tanto mais, pois tudo na vida tende a se transformar.


Enquanto não conseguir ser compreendido por quantos se acham ligados a você pelos laços consangüíneos, empregue a compreensão e a paciência necessárias para a manutenção da paz que deseja.


Lembre-se, o irmão difícil provavelmente é o desafeto de ontem que ressurge hoje, à conta de credor lesado, reclamando o ajuste dos nossos débitos.


O cônjuge intransigente quase sempre traz no subconsciente as marcas da incúria com que o ferimos em pretérito distante, transformando o lar de hoje em um verdadeiro laboratório de aprimoramento moral.


Por mais difícil que seja a convivência no lar, não tome atitudes precipitadas. Arme-se de um tanto mais de paciência e procure no companheiro ou na companheira as qualidades e não apenas os defeitos.


Não desdenhe da sabedoria de Deus que colocou vocês juntos para a construção da vossa felicidade.


Cumpra a sua parte. Mude as suas atitudes e pensamentos antes de exigir a mudança dos outros que convivem com você.


Ninguém se descarta de uma convivência necessária sem auferir para si, compromissos ainda mais graves do que aqueles que está vivendo hoje.


Não destrua o lar à conta de interesses egoístas e mundanos. Lembre-se, aqueles que a vida trouxe para junto de nós, os quais muitas vezes não toleramos a presença, não os ajudamos e não aprendemos a amá-los, amanhã, retornarão para junto de nós, impondo-nos condições ainda mais aflitivas.


É assim que uma esposa hoje desprezada poderá retornar amanhã na condição de uma filha problema, obrigando-nos a um sacrifício ainda maior.


Quantos esposos traídos e abandonados no passado estão hoje reencarnados como filhos das esposas infelizes de outrora, cobrando-lhes caro a insensatez da traição e do abandono.


A essas mães e pais, facilmente identificados pela relação difícil com seus filhos, aconselho que façam as mentalizações de reconciliação, ajudando a apagar, do subconsciente dos seus filhos, as imagens negativas registradas no passado.


O lar é o santuário onde devemos construir os alicerces da nossa felicidade. O tributo a pagar é a renúncia e o perdão. Sem pagarmos esse tributo, jamais consolidaremos nossa felicidade.


Antes de bater no peito e gritar pelos seus direitos, observe se está cumprindo as suas obrigações. Não falo das obrigações do pão e do teto, mas das obrigações morais para com a sua esposa ou esposo e para com os seus filhos. Está dando a eles o exemplo de fidelidade, de amor e de compreensão? Já consegue deixar do lado de fora da porta o mau humor e os problemas que não dizem respeito a sua família? Faça a si mesmo estas perguntas e analise profundamente. Fazendo isso, estará se aproximando do auto-conhecimento que levará você a encontrar o caminho da felicidade, se é o que deseja realmente.


Eu vivi uma experiência que me permite falar com propriedade sobre esse assunto:


Estava casado há dois anos. Tinha um filho com um ano e três meses e outro com dois meses e alguns dias. Certa manhã, ao levantar-me para ir ao trabalho, olhei no berço do meu filhinho de dois meses e, com uma dor imensa no coração percebi que estava morto. Depois do choque que tivemos eu e minha esposa, fizemos os preparativos para o funeral. No momento em que o seu corpinho estava sobre a mesa, minha mãe viu o espírito de uma mulher aproximar-se dele, rindo às gargalhadas. A partir desse dia minha vida se transformou.


Minha mulher que nunca fora agressiva, passou a maltratar-me. Os meus negócios começaram a regredir de tal forma que durante o período de oito meses, não consegui sequer pagar o aluguel da casa onde morava. Todos os meus planos pareciam ir por água abaixo, até o alimento ameaçava faltar. Nesse clima difícil, tivemos mais um filho.


O tempo passou...


Com muita luta, consegui equilibrar-me financeiramente, mas o trato com minha mulher piorou, meu primeiro filho que contava quase três anos de idade, afirmava ver uma mulher andando pela nossa casa.


Certo dia, quando retornava do trabalho, sem qualquer motivo, minha esposa tentou agredir-me. Sabendo do que se tratava, mantive a calma. Abri meus braços e orei com fé. Imediatamente ela caiu no chão, logo percebi tratar-se do espírito que minha mãe e meu filho haviam visto. Com palavras amigas, tentei convencê-la a abandonar tal perseguição, porém, seu ódio por mim era tanto que gritava:


– “Maldito... Vou acabar com você!”


Essa cena se repetiu durante quatro anos, duas ou três vezes por semana, e a cada investida eu lhe dava o que havia de melhor em mim, tratando-a com respeito e carinho. Graças ao conhecimento Espírita, eu sabia que algum mal havia feito para aquela irmã, em outra vida.


Eram os últimos dias de junho de 1972. Pela manhã estávamos conversando, eu, minha esposa e meu cunhado, quando a nossa irmã incorporou novamente. Chorava muito. Comovido eu chorei também. Senti que naquele momento havia conquistado o seu perdão. Conversamos em prantos, e quando partiu, prometeu não mais nos molestar. Logo em seguida meu cunhado incorporou um espírito que não revelou seu nome, mas disse-nos o seguinte:


– “Meu irmão, Deus concedeu a vocês a oportunidade de transformar esse ódio em amor. Nossa irmã renascerá como vossa filha, preparem o berço, virá na figura de uma linda menina de olhos claros. Esta é a prova que vos dou.”


Realmente! Em pouco tempo minha mulher concebeu, e em abril de 1973, nasceu minha filha, uma linda menina de olhos claros! Foi uma grande prova, principalmente para minha esposa que ainda tinha algumas dúvidas com relação à vida eterna. Graças às experiências vividas com minha mãe, o fato veio apenas confirmar a fé que cultivo desde criança, sem a qual, meu lar teria desmoronado.


A prova maior veio depois...


Devido ao ódio que a irmã sentia por mim, e que em tão pouco tempo não poderia ser apagado do seu subconsciente, durante a gravidez, minha mulher sentia-se influenciada por ela a ponto de sentir aversão por mim.


Durante os nove meses de gravidez, meu relacionamento com minha esposa foi muito difícil, precisei de muita paciência para superar. Depois que nasceu, quando tinha alguns meses de idade eu não podia tocá-la. Ao pegá-la no colo, imediatamente punha-se aos gritos como se estivesse sentindo dores, bastava entregá-la a alguém, prontamente se acalmava.


Até os três anos de idade tivemos uma relação muito difícil. Sempre me olhava com reserva e raramente respondia às minhas perguntas. Brincava e sorria com todos, menos comigo.


Não fora meu conhecimento espírita, talvez essa aversão tivesse se perpetuado até hoje. Cheguei em alguns momentos a pensar em desistir de conquistá-la, minha dor era muito grande, por mais que eu tentasse aproximar-me, ela rejeitava-me rudemente. Apesar de tudo, continuei insistindo, até que finalmente consegui conquistá-la.


Um dia, ao chegar em casa, estava brincando no jardim, olhei para ela e ao contrário do que sempre fazia que era correr para junto da mãe, correu para mim e, abraçando-me, beijou-me pela primeira vez. Chorei emocionado. Hoje, nos amamos muito!



Nelson Moraes


Extraído do livro: “Perdão - O Caminho da Felicidade!” – Autor: Nelson Moraes / Orientado pelo Espírito Aulus



Perdoar...




Irmãos da Terra,

Em meio às vicissitudes da experiência humana, aprendei a tolerar e perdoar!...

Por mais se vos fira ou calunie, injurie ou amaldiçoe, olvidai o mal, fazendo o bem!...

Vós que tivestes a confiança traída ou o espírito dilacerado nas armadilhas da sombra, acendei a luz do amor onde estiverdes!...

Companheiros que fostes vilipendiados ou insultados em vossas intenções mais sublimes, apagai as ofensas recebidas e bendizei os ultrajes que vos burilam o coração para a Vida Maior!...

Irmãs que padecestes indescritíveis agravos na própria carne, desprezadas pelos carrascos risonhos que vos enlouqueceram de angústia, depois de vos acenarem com mentirosas promessas, abençoai aqueles que vos destruíram os sonhos!...

Mães solteiras que fostes banidas do lar e batidas até a queda na prostituição, por haverdes tido suficiente coragem da não assassinar no próprio ventre os filhos de vossa desventura, com a insânia do aborto provocado, mães agoniadas às quais tantas vezes se nega até mesmo o direito de defesa, conferido aos nossos irmãos criminosos nas cadeias públicas, perdoai os vossos algozes!...

Pais que trazeis nos ombros escalavrados de sofrimento a carga dolorosa dos filhos ingratos, filhos que agüentais na carne e na alma o despotismo e a brutalidade de pais insensíveis e cônjuges flechados entre as paredes domésticas pelos estiletes da incompreensão e da crueldade, absolvei-vos uns aos outros!...

Obsidiados de todos os climas, tecei véus de piedade e esperança sobre os seres infelizes, encarnados ou desencarnados, que vos torturam as horas! Criaturas prejudicadas ou perseguidas de todos os recantos do mundo, perdoai a quantos se fizeram instrumentos de vossas aflições e de vossas lágrimas!...

Quando sentirdes a tentação de revidar, lembrai-vos daquele que nos concitou a “amar os inimigos” e a “orar pelos que nos perseguem e caluniam”! Recordai o Cristo de Deus, preferindo ser condenado a condenar, porque, em verdade, quantos praticam o mal não sabem o que fazem!...

Convencei-vos de que as leis da morte não excetuam ninguém e não vos esqueçais de que, no dia do vosso grande adeus aos que ficarem na estância das provas, somente pela bênção da paz e do amor na consciência tranqüila é que podereis alcançar a suspirada libertação!...


Texto retirado do livro “E a Vida Continua...” – André Luiz / Chico Xavier