Perispírito




Pergunta: O Espírito propriamente dito vive a descoberto ou, como pretendem alguns, envolvidos por alguma substância?


Resposta dos Espíritos: O Espírito é envolvido por uma substância que é vaporosa para ti, mas ainda bastante grosseira para nós; suficientemente vaporosa, entretanto, para que ele possa elevar-se na atmosfera e transportar-se para onde quiser.


Comentário de Allan Kardec
:
Como a semente de um fruto é envolvida pelo perisperma, o Espírito propriamente dito é revestido de um envoltório que, por comparação, se pode chamar períspirito.



Pergunta: De onde tira o Espírito o seu envoltório semi-material?


Resposta: Do fluído universal de cada globo. É por isso que ele não é o mesmo em todos os mundos; passando de um mundo para outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.


Pergunta: Dessa maneira, quando os Espíritos de mundos superiores vêm até nós, tomam um períspirito mais grosseiro?


Resposta: É necessário que eles se revistam da vossa matéria, como já dissemos.


Pergunta: O envoltório semi-material do Espírito tem formas determinadas e pode ser perceptível?


Resposta: Sim, uma forma ao arbítrio do Espírito; e é assim que ele vos aparece algumas vezes, seja nos sonhos, seja no estado de vigília, podendo tomar uma forma visível e mesmo palpável.



Fonte: “Livro dos Espíritos” – Allan Kardec (Questões 93 a 95)


*** *** ***


Os Espíritos, como foi dito, têm um corpo fluídico ao qual se dá o nome de perispírito. A sua substância é haurida no fluido universal, ou cósmico, que o forma e o alimenta, como o ar forma e alimenta o corpo material do homem.


O perispírito é mais ou menos etéreo segundo os mundos e segundo o grau de depuração do Espírito. Nos mundos dos Espíritos inferiores, a sua natureza é mais grosseira e mais se aproxima da matéria bruta.


É por meio do perispírito que os Espíritos agem sobre a matéria inerte e produzem os diferentes fenômenos das manifestações.


Na encarnação, o Espírito conserva o seu perispírito: o corpo não é para ele senão um segundo envoltório mais grosseiro, mais resistente, apropriado às funções que deve cumprir, e do qual ele se despoja na morte.


O perispírito é o intermediário entre o Espírito e o corpo; é o órgão de transmissão de todas as sensações. Para aquelas que vêm do exterior, pode-se dizer que o corpo recebe a impressão; o perispírito a transmite, e o Espírito, o ser sensível e inteligente, a recebe; quando o ato parte da iniciativa do Espírito, pode-se dizer que o Espírito quer, que o perispírito transmite, e o corpo executa.


O perispírito, de nenhum modo, está encerrado nos limites do corpo, como numa caixa; pela sua natureza fluídica, ele é expansível; irradia ao redor e forma, em torno do corpo, uma atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem estender mais ou menos; de onde se segue que as pessoas que, de nenhum modo, não estão em contato corporal, podem estar pelo seu perispírito e se transmitir impressões, com o seu desconhecimento, alguma vezes mesmo a intuição de seus pensamentos.


Sendo o perispírito um dos elementos constitutivos do homem, desempenha um papel importante em todos os fenômenos psicológicos e, até um certo ponto, nos fenômenos fisiológicos e patológicos.


Quando as ciências médicas tiverem em conta a influência do elemento espiritual na economia, terão dado um grande passo, e horizontes inteiramente novos se abrirão diante delas; muitas causas de enfermidades serão então explicadas e poderosos meios de combatê-las serão encontrados.



Fonte: “Obras Póstumas” – Allan Kardec


As Expiações Coletivas



Pergunta – O Espiritismo nos explica perfeitamente a causa dos sofrimentos individuais, como conseqüência imediata das faltas cometidas na existência precedente, ou como expiação do passado; mas, uma vez que cada só é responsável pelas suas próprias faltas, não se explicam satisfatoriamente as infelicidades coletivas que atingem as aglomerações de indivíduos, por vezes, toda uma família, toda uma cidade, toda uma nação ou toda uma raça, e que atingem tanto os bons quanto os maus, os inocentes ou os culpados.


Resposta – Todas as leis que regem o Universo, quer sejam físicas ou morais, materiais ou intelectuais, foram descobertas, estudadas, compreendidas, procedendo do estudo da individualidade, e do da família para o de todo o conjunto, generalizando-as gradualmente, e constatando-lhe a universalidade dos resultados.


Ocorre o mesmo hoje com relação às leis que o estudo do Espiritismo dá a conhecer. Podem aplicar-se, sem medo de errar, as leis que regem o indivíduo à família, à nação, às raças, ao conjunto dos habitantes dos mundos, os quais formam individualidades coletivas. As faltas dos indivíduos, as da família, as da nação, cada uma, qualquer que seja o seu caráter, se expiam em virtude da mesma lei. O carrasco expia relativamente à sua vítima, quer indo encontrar-se em sua presença no espaço, quer vivendo em contato com ela numa ou em várias existências sucessivas, até à reparação de todo o mal cometido. Ocorre o mesmo quando se trata de crimes cometidos solidariamente, por um certo número de pessoas. As expiações também são solidárias, o que não aniquila a expiação simultânea das faltas individuais.


Em todo homem há três caracteres: o do indivíduo, do ser em si mesmo; o de membro de família, e, finalmente, o de cidadão. Sob cada uma dessas três faces ele pode ser criminoso e virtuoso, quer dizer, pode ser virtuoso como pai de família, e ao mesmo tempo ser criminoso como cidadão, e reciprocamente; daí as situações especiais que lhe são dadas em suas existências sucessivas.


Salvo alguma exceção, pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que, reunidos numa existência, têm uma tarefa comum, já viveram juntos para trabalhar com o mesmo objetivo, e se acharão reunidos ainda no futuro, até que tenham alcançado o objetivo, isto é, expiado o passado, ou cumprido a missão aceita por eles.


Graças ao Espiritismo, compreendeis agora a justiça das provas que não resultam de atos da vida presente, porque já vos foi dito que elas são a quitação de dívidas do passado. Por que não ocorreria o mesmo com relação às provas coletivas?


Dissestes que as infelicidades gerais atingem tanto o inocente como o culpado; mas sabeis que o inocente de hoje pode ter sido o culpado de ontem? Quer ele tenha sido atingido individual ou coletivamente, é que o mereceu. E depois, como já dissemos, há as faltas do indivíduo e as do cidadão; a expiação de uma falta não livra da expiação da outra, porque é necessário que toda a dívida seja paga até o último centavo.


As virtudes da vida privada diferem das da vida pública. Um, que é excelente cidadão, pode ser péssimo pai de família; outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios, pode ser um mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em crimes de lesa-sociedade.


São essas as faltas coletivas que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se reencontram para sofrerem juntos a pena de talião, ou ter a ocasião de repararem o mal que praticaram, provando o seu devotamento à causa pública, socorrendo e assistindo aqueles que outrora maltrataram. Assim, o que é incompreensível e inconciliável com a justiça de Deus, sem o conceito da preexistência da alma, se torna claro e lógico pelo conhecimento dessa lei.


A solidariedade, que é o verdadeiro laço social, não está, pois, apenas para o presente; ela se estende ao passado e ao futuro, uma vez que as mesmas individualidades se reuniram, reúnem e reunirão, para subirem juntas a escala do progresso, auxiliando-se mutuamente. Eis aí o que o Espiritismo faz compreensível, por meio da eqüitativa lei da reencarnação e da continuidade das relações entre os mesmos seres.


Clélie Duplantier



Fonte: Livro “Obras Póstumas” – Allan Kardec


Livros – Doutrina Espírita (2)



Outras Obras – Allan Kardec



O que é o Espiritismo


Publicado em 1859. Contém o resumo dos princípios da Doutrina Espírita e a definição de seus pontos fundamentais. Essencial pra quem quer conhecer a Doutrina Espírita.


Allan Kardec ressalta que o Espiritismo é ao mesmo tempo ciência experimental e doutrina filosófica. Como ciência prática, tem a sua essência nas relações que se podem estabelecer com espíritos. Como filosofia compreende todas as conseqüências morais decorrentes dessas relações. Concluindo, Kardec menciona que o Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como suas relações com o mundo corporal.


Como disse Kardec: "este resumo não é somente útil para os iniciantes que poderão nele, em pouco tempo e sem muito esforço, haurir as noções mais essenciais, mas também o é para os adeptos, aos quais ele fornece os meios para responder às primeiras objeções que não deixam de lhes fazer, e, de outra parte, porque aqui encontrarão reunidos, em um quadro restrito, e sob um mesmo exame, os princípios que eles não devem jamais perder de vista".



O Espiritismo em sua Expressão mais Simples


Publicado em 1862. Contém um pequeno resumo a respeito da Doutrina Espírita, seu histórico e alguns ensinamentos dos Espíritos.



“O objetivo desta publicação é dar, num quadro muito sucinto, o histórico do Espiritismo e uma idéia suficiente da Doutrina dos Espíritos, para que se lhe possa compreender o objetivo moral e filosófico. Pela clareza e pela simplicidade do estilo, procuramos pô-lo ao alcance de todas as inteligências. Contamos com o zelo de todos os verdadeiros Espíritas para ajudar a sua propagação." (Comentário de Allan Kardec, em Janeiro de 1862, na ‘Revista Espírita’, sobre o livreto ‘O Espiritismo em Sua Expressão Mais Simples’, que acabara de editar)



Obras Póstumas


Publicado em 1890, após o desencarne de Allan Kardec. Contém vasto material doutrinário deixado por Kardec em seu escritório de trabalho, quando regressou ao mundo espiritual e que foi reunido, formando este livro, em face de seu inestimável valor.


Esta obra está dividida em duas partes. A primeira é constituída pelos últimos trabalhos de Kardec, artigos de grande qualidade doutrinária. Trata de temas como: manifestações dos espíritos, estudo sobre a natureza do Cristo, introdução ao estudo da fotografia e telegrafia do pensamento, vida futura, música espírita, expiações coletivas, dentre outros.


Na segunda parte, a obra apresenta uma coletânea de mensagens mediúnicas e estudos do autor, no que constituiria o livro Previsões Concernentes ao Espiritismo. Esta parte é um documento íntimo de Kardec. Registra a iniciação do Codificador no Espiritismo, bem como os diálogos e as informações pessoais que os Espíritos lhe foram transmitindo no decorrer da elaboração da Codificação Espírita. Excelente obra para quem deseja conhecer um pouco mais do ‘homem’ Allan Kardec, por ele mesmo.



O Principiante Espírita



Editado depois do desencarne de Kardec, este livro contém sua biografia. Além disso, contém os ensinamentos de ‘O que é Espiritismo’, escrito por Allan Kardec. Ou seja, foi uma obra retirada de outra já existente, contendo um resumo, no que se refere às noções de Espiritismo, a solução de alguns problemas e as respostas às principais objeções pela Doutrina Espírita. Nele encontramos temas como: médiuns, identidades dos espíritos, charlatanismo, conseqüências do Espiritismo entre outros.



Revista Espírita


Coleção composta por 12 livros, que são coletâneas dos volumes da Revue Spirite (Revista Espírita), publicação editada pelo próprio Allan Kardec de 1858 a 1869.


Editada por Kardec durante doze anos, a Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos é um clássico, fundamental para entender o pensamento kardequiano. Foi lançada em 1º de Janeiro de 1858 e serviu como laboratório experimental para as obras e projetos futuros do Codificador do Espiritismo. Muitos textos que aparecem em suas páginas depois fizeram parte das obras de Kardec, que se seguiram à publicação de O Livro dos Espíritos.


Contêm textos sobre as ciências, a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e o seu futuro, a história do Espiritismo na antigüidade e suas relações com o Magnetismo, a explicação das lendas, das crenças populares e da mitologia de todos os povos, entre outros temas.


Também a Revista Espírita foi peça fundamental para o intercâmbio de espíritas e simpatizantes de várias partes do mundo, embora sua grande vocação sempre tenha sido a contribuição à difusão da então nascente Doutrina Espírita.


Foi um meio de divulgação da doutrina, além também de uma forma de se expor novas idéias, ensinamentos e teorias, colocando-os sob análise e discussão.


Obras indispensáveis a todos os espíritas.



Viagem Espírita em 1862


Contém a descrição de viagem realizada por Allan Kardec, quando ele percorreu mais de vinte cidades na França e Bélgica e participou de inúmeras reuniões espíritas. Segundo Kardec, o relato dessa viagem era muito extenso para ser colocado na ‘Revista Espírita’, pois absorveria quase dois números.


Inclui, além dos discursos pronunciados por Kardec nas reuniões, suas observações sobre o desenvolvimento do Espiritismo e as instruções dadas nas diferentes instituições, entre outros. Contém ainda o roteiro das viagens. Um livro muito interessante, através dele podemos observar o desenvolvimento do movimento espírita na época de Kardec.



Para ler e/ou fazer o download de algumas das obras de Allan Kardec, visitem os seguintes links:



Livro dos Médiuns


Livro dos Espíritos


Autores Espíritas Clássicos


Federação Espírita Brasileira


O Evangelho Segundo o Espiritismo



Reflexões de Kardec...




Fora da Caridade não há Salvação




"Estes princípios, para mim, não existem apenas em teoria, pois que os ponho em prática; faço tanto bem quanto o permite a minha posição; presto serviços quando posso; os pobres nunca foram repelidos de minha porta, ou tratados com dureza; foram recebidos sempre, a qualquer hora, com a mesma benevolência; jamais me queixei dos passos que hei dado para fazer um benefício; pais de família têm saído da prisão, graças aos meus esforços. Certamente, não me cabe inventariar o bem que já pude fazer; mas, do momento em que parecem esquecer tudo, é-me lícito, creio, trazer à lembrança que a minha consciência me diz que nunca fiz mal a ninguém, que hei praticado todo o bem que esteve ao meu alcance, e isto, repito-o, sem me preocupar com a opinião de quem quer que seja.


A esse respeito trago tranqüila a consciência; e a ingratidão com que me hajam pago em mais de uma ocasião não constituirá motivo para que eu deixe de praticá-lo. A ingratidão é uma das imperfeições da Humanidade e, como nenhum de nós está isento de censuras, é preciso desculpar os outros, para que nos desculpem, de sorte a podermos dizer como Jesus-Cristo: “atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado”. Continuarei, pois, a fazer todo o bem que me seja possível, mesmo aos meus inimigos, porquanto o ódio não me cega. Sempre lhes estenderei as mãos, para tirá-los de um precipício, se se oferecer oportunidade.


Eis como entendo a caridade cristã. Compreendo uma religião que nos prescreve retribuamos o mal com o bem e, com mais forte razão, que retribuamos o bem com o bem. Nunca, entretanto, compreenderia a que nos prescrevesse que paguemos o mal com o mal."



(Pensamentos íntimos de Allan Kardec,

num documento achado entre os seus papéis.)



Texto retirado do livro “Obras Póstumas” – Allan Kardec


O Espiritismo, por Allan Kardec



O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas, não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote. Estes qualificativos são de pura invenção da crítica.


As crenças que propugna, as tendências que manifesta e o fim a que visa se resumem nas proposições seguintes:


1º) O elemento espiritual e o elemento material são os dois princípios, as duas forças vivas da Natureza, as quais se completam uma a outra e reagem incessantemente uma sobre a outra, indispensáveis ambas ao funcionamento do mecanismo do Universo.


Da ação recíproca desses dois princípios se originam fenômenos que cada um deles, isoladamente, não tem possibilidade de explicar.


À Ciência, propriamente dita, cabe a missão especial de estudar as leis da matéria.


O Espiritismo tem por objeto o estudo do elemento espiritual em suas relações com o elemento material e aponta na união desses dois princípios a razão de uma imensidade de fatos até então inexplicados.


O Espiritismo caminha ao lado da Ciência, no campo da matéria: admite todas as verdades que a Ciência comprova; mas, não se detém onde esta última pára: prossegue nas suas pesquisas pelo campo da espiritualidade.


2º) Sendo o elemento espiritual um estado ativo da Natureza, os fenômenos em que ele intervém estão submetidos a leis e são por isso mesmo tão naturais quanto os que derivam da matéria neutra
.


Alguns de tais fenômenos foram reputados sobrenaturais, apenas por ignorância das leis que os regem. Em virtude desse princípio, o Espiritismo não admite o caráter de maravilhoso atribuído a certos fatos, embora lhes reconheça a realidade ou a possibilidade. Não há, para ele, milagres, no sentido de derrogação das leis naturais, donde se segue que os espíritas não fazem milagres e que é impróprio o qualificativo de taumaturgos que umas tantas pessoas lhes dão.


O conhecimento das leis que regem o princípio espiritual prende-se de modo direto à questão do passado e do futuro do homem. Cinge-se a sua vida à existência atual? Ao entrar neste mundo, vem ele do nada e volta para o nada ao deixá-lo? Já viveu e ainda viverá? Como viverá e em que condições? Numa palavra: donde vem ele e para onde vai? Por que está na Terra e por que sofre aí? Tais as questões que cada um faz a si mesmo, porque são para toda gente de capital interesse e às quais ainda nenhuma doutrina deu solução racional. A que lhe dá o Espiritismo, baseada em fatos, por satisfazer às exigências da lógica e da mais rigorosa justiça, constitui uma das causas principais da rapidez de sua propagação.


O Espiritismo não é uma concepção pessoal, nem o resultado de um sistema preconcebido. É a resultante de milhares de observações feitas sobre todos os pontos do globo e que convergiram para um centro que os coligiu e coordenou. Todos os seus princípios constitutivos, sem exceção de nenhum, são deduzidos da experiência. Esta precedeu sempre a teoria.


O Espiritismo não é solidário com aqueles a quem apraza dizerem-se espíritas, do mesmo modo que a Medicina não o é com os que a exploram, nem a sã religião com os abusos e até crimes que se cometam em seu nome. Ele não reconhece como seus adeptos senão os que lhe praticam os ensinos, isto é, que trabalham por melhorar-se moralmente, esforçando-se por vencer os maus pendores, por ser menos egoístas e menos orgulhosos, mais brandos, mais humildes, mais caridosos para com o próximo, mais moderados em tudo, porque é essa a característica do verdadeiro espírita.


É-se espírita pelo só fato de simpatizar com os princípios da doutrina e por conformar com esses princípios o proceder. Trata-se de uma opinião como qualquer outra, que todos têm o direito de professar, como têm o de ser judeus, católicos, protestantes, simonistas, voltairiano, cartesiano, deísta e, até, materialista.


Coerente com seus princípios, o Espiritismo não se impõe a quem quer que seja; quer ser aceito livremente e por efeito de convicção. Expõe suas doutrinas e acolhe os que voluntariamente o procuram. Não cuida de afastar pessoa alguma das suas convicções religiosas; não se dirige aos que possuem uma fé e a quem essa fé basta; dirige-se aos que, insatisfeitos com o que se lhes dá, pedem alguma coisa melhor.


Assim, desde o começo, o Espiritismo lançou raízes por toda parte. A História nenhum exemplo oferece de uma doutrina filosófica ou religiosa que, em dez anos, tenha conquistado tão grande número de adeptos. Entretanto, não empregou, para se fazer conhecido, nenhum dos meios vulgarmente em uso; propagou-se por si mesmo, pelas simpatias que inspirou.


O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; reclama-a para os seus adeptos, do mesmo modo que para toda a gente. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão da reciprocidade. Da liberdade de consciência decorre o direito de livre-exame em matéria de fé. O Espiritismo combate a fé cega, porque ela impõe ao homem que abdique da sua própria razão; considera sem raiz toda fé imposta, donde o inscrever entre suas máximas: Não é inabalável, senão a fé que pode encarar de frente a razão em todas as épocas da Humanidade.



Edição do texto LIGEIRA RESPOSTA AOS DETRATORES DO ESPIRITISMO, presente no livro OBRAS PÓSTUMAS – ALLAN KARDEC