O reflexo de Deus




Se o homem soubesse recolher-se e estudar a si próprio, se sua alma desviasse toda a sombra que as paixões acumulam, se, rasgando o espesso véu em que o envolvem os preconceitos, a ignorância, os sofismas, descesse ao fundo da sua consciência e da sua razão, acharia aí o princípio de uma vida interior oposta inteiramente à vida externa.


Poderia, então, entrar em relação com a Natureza inteira, com o Universo e Deus, e essa vida lhe daria um antegozo daquela que lhe reservam o futuro de além-túmulo e os mundos superiores. Aí também está o registro misterioso em que todos os seus atos, bons ou maus, ficam inscritos, em que todos os fatos de sua vida se gravam em caracteres indeléveis, para reaparecerem à hora da morte, como brilhante clarão.


Sim, há em cada um de nós fontes ocultas de onde podem brotar ondas de vida e de amor, virtudes, potências inumeráveis. É aí, é nesse santuário íntimo que cumpre procurar Deus.


Deus está em nós, ou, pelo menos, há em nós um reflexo d’Ele. Ora, o que não existe não poderia ser refletido. As almas refletem Deus como as gotas do orvalho da manhã refletem os fogos do Sol, cada qual segundo o seu brilho e grau de pureza.


Texto retirado do livro “Depois da Morte” - Léon Denis


Os Maus Espíritos



Há muitas classes de Espíritos maus?


- Há os Espíritos simplesmente inferiores, tais como os Espíritos levianos, imperfeitos, zombeteiros, que nossos pais chamavam de duendes, os brincalhões, e que gostam de travessuras de toda espécie; depois há os Espíritos perversos, que induzem os homens ao mal, pelo prazer de fazer o mal, e os que, como os Espíritos batedores, habitam as casas mal-assombradas.


Como vivem os Espíritos inferiores?


- Numa vida inquieta e atormentada; eles percorrem, sem destino certo, as regiões crepusculares da erraticidade, sem poderem compreender seu estado, nem achar seu caminho: é o que se chama de almas penadas.


Os Espíritos inferiores são nocivos?


- Alguns o são; e sua má influência sobre os homens deu lugar à crença nos demônios.


Os demônios, então, não existem?


- Não; há maus Espíritos, porém os que são chamados de demônios, ou espíritos eternamente maus, não existem; nem o mal, nem os maus podem ser eternos.


Como os homens podem entrar em relação com os maus Espíritos?


- Por meio dos fluidos e em virtude da lei de afinidade espiritual: “Quem se assemelha, se ajunta.”


Os maus Espíritos podem, então, exercer influência sobre os homens?


- Sim. Sobre os homens maus, que os invocam, ou sobre os homens fracos, que se entregam a eles; daí os frequentes fenômenos da possessão e da obsessão.



Que pensar do papel do demônio nas manifestações espíritas?


- O demônio não existe e não pode existir, porque, se ele existisse, Deus não existiria; um exclui necessariamente o outro.



Como assim?


- Se o demônio é eterno como Deus, há dois seres eternos. Ora a coexistência de duas eternidades é impossível; ela seria uma contradição na ordem metafísica. Esses dois deuses, um do bem, outro do mal, lembram a teoria oriental dos dois princípios: é uma reminiscência do dualismo dos maniqueus. Se, ao contrário, o demônio é uma criatura de Deus, Deus se torna responsável diante da humanidade de todo o mal que o demônio tem feito e fará ainda, eternamente. É a mais clamorosa injúria que se possa fazer a Deus, pois que é negar sua justiça e sua bondade. Há maus Espíritos, já o dissemos acima, que impelem ao mal o homem que a ele é propenso; mas o demônio, considerado como a personificação individual do mal, não existe.



Entretanto, a Igreja não ensina e afirma o caráter satânico de certas manifestações espíritas?


- A Igreja tem uma única palavra para explicar o que não compreende: Satã. No decorrer dos séculos, a Igreja sempre atribui a Satã todas as invenções do gênio, desde a do vapor às da estrada de ferro e da eletricidade. Está em sua lógica habitual e em sua característica dizer que os fenômenos do magnetismo e as revelações espíritas são obra de Satã. Todavia, apesar dos anátemas da Igreja, a ciência progride, o gênio do homem evolui e o Espiritismo se tornará à fé universal do futuro.



Retirado do livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis


Prece Para um Nascimento



Meu Deus, tu enviaste entre nós este Espírito, para que ele cumprisse numa existência nova tua lei de trabalho e de progresso.



Ele acaba de reencarnar na Terra, para desenvolver nela suas faculdades e suas qualidades morais, a fim de se elevar mais alto na hierarquia das almas e se reaproximar de Ti, porque este é o objetivo da vida, de todas as vidas.



Permitiste, ó Deus, que ele escolhesse esta família para aí reencontrar a forma, o corpo material, o instrumento necessário à realização desse fim. Faz que ele se torne para seus ascendentes um motivo constante de alegria, de satisfação moral e, mais tarde, um sustento, um apoio. Dá a seus pais o sentimento de seus deveres e de suas responsabilidades para com esta criança, da qual eles devem ser os protetores, os educadores.



Em Tua justiça e bondade, tu queres que cada Espírito seja o artífice de sua própria felicidade, que ele construa, com suas próprias mãos, sua coroa de luz e tu lhe deste para isso todos os recursos: a inteligência, a consciência e com elas as forças latentes que sua tarefa precisa para ser posta em ação, em seu próprio bem e no de seus semelhantes.



Tu queres, meu Deus, que, nas etapas inferiores de sua evolução, o Espírito suporte a lei da necessidade, isto é, as privações e as dificuldades da vida material; são os muitos estimulantes para sua iniciativa e sua energia, muitos meios para formar seu caráter e seu raciocínio, a fim de que, pelo trabalho, estudo e provas, saia de cada vida maior e melhor do que quando ali entrou.



Pela encarnação, reuniste a forma à idéia, para que a idéia espiritualista a forme e que o ser humano participe, por seus esforços, do progresso e da harmonia universais.



Ó Deus, nós te agradecemos por tua bondade, que envia para nós este Espírito! Que seu guia celeste o proteja, que nossa solicitude o envolva. Seus irmãos o recebem com afeição e ternura; eles se esforçarão em aplainar seu caminho, a fim de que siga sempre a senda da justiça e do amor que conduz para essa vida superior que tu reservas aos que lutaram, penaram e sofreram!



(Retirado do livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis)


A Hora Final


Que se passa no momento da morte e como se desprende o Espírito da sua prisão material? Que impressões ou sensações o esperam nessa ocasião temerosa? É isso o que interessa a todos conhecer, porque todos cumprem essa jornada. A vida foge-nos a todo instante: nenhum de nós escapará à morte.


As sensações que precedem e se seguem à morte são infinitamente variadas e dependentes, sobretudo do caráter, dos méritos, da elevação moral do Espírito que abandona a Terra. A separação é quase sempre lenta e o desprendimento da alma opera-se gradualmente. Começa, algumas vezes, muito tempo antes da morte e só se completa quando ficam rotos os últimos laços fluídicos que unem o perispírito ao corpo. A impressão sentida pela alma revela-se penosa e prolongada quando esses laços são mais fortes e numerosos. Causa permanente da sensação e da vida, a alma experimenta todas as comoções, todos os despedaçamentos do corpo material.


Dolorosa, cheia de angústias para uns, a morte não é, para outros, senão um sono agradável seguido de um despertar silencioso. O desprendimento é fácil para aquele que previamente se desligou das coisas deste mundo, para aquele que aspira aos bens espirituais e que cumpriu os seus deveres. Há, ao contrário, luta, agonia prolongada no Espírito preso à Terra, que só conheceu os gozos materiais e deixou de preparar-se para essa viagem.


Entretanto, em todos os casos, a separação da alma e do corpo é seguida de um tempo de perturbação, fugidio para o Espírito justo e bom, que desde cedo despertou ante todos os esplendores da vida celeste; muito longo, a ponto de abranger anos inteiros, para as almas culpadas, impregnadas de fluidos grosseiros. Grande número destas últimas crê permanecer na vida corpórea, muito tempo mesmo depois da morte. Para estas, o perispírito é um segundo corpo carnal, submetido aos mesmos hábitos e, algumas vezes, às mesmas sensações físicas como durante a vida terrena.


Outros Espíritos de ordem inferior se acham mergulhados em uma noite profunda, em um completo insulamento no seio das trevas. Sobre eles pesa a incerteza, o terror. Os criminosos são atormentados pela visão terrível e incessante das suas vítimas.


A hora da separação é cruel para o Espírito que só acredita no nada. Agarra-se como desesperado a esta vida que lhe foge; no supremo momento insinua-se-lhe a dúvida; vê um mundo temível abrir-se para abismá-lo e quer, então, retardar a queda. Daí, uma luta terrível entre a matéria, que se esvai, e a alma, que teima em reter o corpo miserável. Algumas vezes, ela fica presa até à decomposição completa, sentindo mesmo, segundo a expressão de um Espírito, “os vermes lhe corroerem as carnes”.


Pacífica, resignada, alegre mesmo, é a morte do justo, a partida da alma que, tendo muito lutado e sofrido, deixa a Terra confiante no futuro. Para esta, a morte é a libertação, o fim das provas. Os laços enfraquecidos que a ligam à matéria destacam-se docemente; sua perturbação não passa de leve entorpecimento, algo semelhante ao sono.


Deixando sua residência corpórea, o Espírito, purificado pela dor e pelo sofrimento, vê sua existência passada recuar, afastar-se pouco a pouco com seus amargores e ilusões; depois, dissipar-se como as brumas que a aurora encontra estendidas sobre o solo e que a claridade do dia faz desaparecer. O Espírito acha-se, então, como que suspenso entre duas sensações: a das coisas materiais que se apagam e a da vida nova que se lhe desenha à frente. Entrevê essa vida como através de um véu, cheia de encanto misterioso, temida e desejada ao mesmo tempo. Após, expande-se a luz, não mais a luz solar que nos é conhecida, porém uma luz espiritual, radiante, por toda parte disseminada. Pouco a pouco o inunda, penetra-o, e, com ela, um tanto de vigor, de remoçamento e de serenidade. O Espírito mergulha nesse banho reparador. Aí se despoja de suas incertezas e de seus temores. Depois, seu olhar destaca-se da Terra, dos seres lacrimosos que cercam seu leito mortuário, e dirige-se para as alturas. Divisa os céus imensos e outros seres amados, amigos de outrora, mais jovens, mais vivos, mais belos que vêm recebê-lo, guiá-lo no seio dos espaços. Com eles caminha e sobe às regiões etéreas que seu grau de depuração permite atingir. Cessa, então, sua perturbação, despertam faculdades novas, começa o seu destino feliz.


A entrada em uma vida nova traz impressões tão variadas quanto o permite a posição moral dos Espíritos. Aqueles – e o número é grande – cujas existências se desenrolam indecisas, sem faltas graves nem méritos assinalados, acham-se, a princípio, mergulhados em um estado de torpor, em um acabrunhamento profundo; depois, um choque vem sacudir-lhes o ser. O Espírito sai, lentamente, de seu invólucro: como uma espada da bainha; recobra a liberdade, porém, hesitante, tímido, não se atreve a utilizá-la ainda, ficando cerceado pelo temor e pelo hábito aos laços em que viveu. Continua a sofrer e a chorar com os entes que o estimaram em vida. Assim corre o tempo, sem ele o medir; depois de muito, outros Espíritos auxiliam-no com seus conselhos, ajudando a dissipar sua perturbação, a libertá-lo das últimas cadeias terrestres e a elevá-lo para ambientes menos obscuros.


Em geral, o desprendimento da alma é menos penoso depois de uma longa moléstia, pois o efeito desta é desligar pouco a pouco os laços carnais. As mortes súbitas, violentas, sobrevindo quando a vida orgânica está em sua plenitude, produzem sobre a alma um despedaçamento doloroso e lançam-na em prolongada perturbação. Os suicidas são vítimas de sensações horríveis. Experimentam, durante anos, as angústias do último momento e reconhecem, com espanto, que não trocaram seus sofrimentos terrestres senão por outros ainda mais vivazes.


O conhecimento do futuro espiritual e o estudo das leis que presidem a desencarnação são de grande importância como preparativos à morte. Podem suavizar os nossos últimos momentos e proporcionar-nos fácil desprendimento, permitindo mais depressa nos reconhecermos no mundo novo que se nos desvenda.



Texto retirado do livro “Depois da Morte” - Léon Denis



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Chico Xavier fala sobre “Morte Suave” (Programa Pinga Fogo)






“Cumpramos os nossos deveres, compreendendo que a nossa responsabilidade tem o tamanho do nosso conhecimento.” Chico Xavier



A Mediunidade, por Léon Denis


Chama-se Mediunidade, o conjunto de faculdades que permitem ao ser humano comunicar-se com o Mundo Invisível.


O médium desfruta, por antecipação, dos meios de percepção e de sensação que pertencem mais à vida do espírito que à do homem, por isso tem o privilégio de servir de traço de união entre eles.


Toda extensão das percepções da alma é uma preparação para uma vida mais ampla e mais elevada, uma saída aberta a um horizonte mais vasto. Sob este ponto de vista, as mediunidades, em conjunto, representam uma fase transitória entre a vida terrestre e a vida livre do espaço.


O primeiro fenômeno desse gênero, que chamou a atenção dos homens, foi o da visão. Por ela se revelaram, desde a origem dos tempos, a existência do mundo do Além e a intervenção, entre nós, das almas dos mortos. Estas manifestações, ao se repetirem, deram nascimento ao culto dos espíritos, ponto de partida e base de todas as religiões. Depois, as relações entre os habitantes da Terra e do Espaço se estabeleceram das mais diversas e variadas formas, que se foram desenvolvendo através dos tempos, sob diferentes nomes, mas todas partem de um único princípio.


Por meio da mediunidade sempre existiu um laço entre ambos os mundos, uma via traçada pela qual a alma humana recebia revelações, gradualmente mais elevadas, acerca do bem e do dever, luzes cada vez mais vivas sobre seus destinos imortais.


Os grandes espíritos, por motivo de sua evolução, adquirem conhecimentos progressivamente mais amplos e se convertem em instrutores, em guias dos humanos cativos na matéria.


Por todos os procedimentos medianímicos, os espíritos superiores se esforçam em trazer a alma humana das profundidades da matéria para as altas e sublimes verdades que regem o Universo, para que se revistam dos altos fins da vida e encarem a morte sem terror, para que aprendam a desprender-se dos bens passageiros da Terra e prefiram os bens imperecíveis do espírito.


A autoridade e o prestígio de seus ensinamentos ficam realçados ainda mais pelas profecias, pelas previsões que os precedem ou os acompanham.


Aos espíritos superiores se unem as almas amigas dos parentes mortos, cuja solicitude continua estendendo-se sobre nós, assistindo-nos em nossas dolorosas lutas contra a adversidade e contra o mal.


Então pode-se ver como se estabeleceu a comunicação dos vivos e dos mortos; como se constitui essa fronteira ideal onde as duas humanidades, uma visível e a outra invisível, entram em contato; como, graças a essa penetração, se estende e se esclarece nosso conhecimento da vida futura, a noção que possuímos das leis morais que a regem, com todas as suas conseqüências e suas sanções.


Assim, a mediunidade bem exercida se converte em um manancial de luzes e consolos. Por seu intermédio, as vozes do Alto nos dizem:


Escutai nossas chamadas; vós que buscais e chorais não estais abandonados... Temos sofrido para lograr estabelecer um meio de comunicação entre o vosso mundo esquecido e o nosso mundo de recordações.


A mediunidade já não se verá enxovalhada, menosprezada, maldita, porque os homens já não poderão desconhecê-la. Ela é o único laço possível entre os vivos e nós, a quem nos chamam mortos.


Esperai, não deixaremos fechar-se a porta que temos entreaberta para que, em meio às vossas dúvidas e vossas inquietudes, possais entrever as claridades celestes.”


A alma não pode achar harmonia senão no conhecimento e na prática do bem, e somente dessa harmonia é que flui, para ela, a felicidade.


Retirado do livro ‘Espíritos e Médiuns’ - Léon Denis


Os Espíritos


O que é o Espírito?


- É uma substância imaterial, indivisível, imortal, princípio inteligente do universo.


Podemos nós ver e compreender o Espírito?


- Não. Sua natureza íntima nos é desconhecida; não conhecemos ainda a essência dos seres nem das coisas; mas nós a chamamos espírito por oposição à matéria.


Que são os Espíritos?


- São os seres inteligentes, vivendo de uma vida pessoal e consciente, destinados a progredir indefinidamente para a Verdade, o Belo, o Bem eternos.



Como vivem os Espíritos no espaço?


- Os Espíritos superiores vivem de uma vida puramente fluídica, isto é, desprendida da matéria, na proporção de seu grau de adiantamento espiritual; os Espíritos inferiores, ainda entorpecidos pelo peso da materialidade, erram nas esferas mais baixas, esperando que seu desprendimento completo se realize.



Um espírito desencarnado pode, então, estar ainda ligado à matéria?


- Sim. Porque o perispírito permanece impregnado dos fluidos pesados, que o impedem de deslocar-se no espaço, como a asa de um pássaro, que se arrastou na lama, o impede de se elevar para o céu.


Cada homem tem um Espírito protetor ligado à sua pessoa?


- Ordinariamente, temos muitos. São parentes, amigos que nos conheceram ou amaram; ou ainda Espíritos cuja missão consiste em proteger os homens, guiá-los na senda do bem, e que progridem, eles próprios, trabalhando pelo adiantamento dos outros.


Os homens, neste mundo, e os Espíritos, no outro, trabalham de comum acordo?


- Certamente. Tudo se liga e se encadeia no universo: os corpos, por suas irradiações, atuam uns sobre os outros; o mesmo acontece no domínio dos Espíritos. Tudo que os homens fazem de bem, de belo, de grande na Terra lhes é inspirado, muitas vezes, por influências invisíveis: é por essa lei de solidariedade moral que Deus governa o universo.


Assim, a história humana é ditada pelo mundo invisível?


- Sim. Deus a dita, os Espíritos a traduzem e os homens a cumprem. Toda a filosofia dos séculos está encerrada nesses três termos. Mas é preciso levar em conta a liberdade humana que, muitas vezes, entrava as vistas de mais alto. Daí vêm as contradições aparentes da história.



Retirado do livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis



A Reencarnação





A doutrina da reencarnação é uma descoberta recente do espírito humano?


- De forma alguma: a humanidade sempre acreditou nela; toda a Antigüidade a professou; os grandes iniciados a ensinaram ao mundo e Jesus mesmo a ela se referiu em seu Evangelho.


Temos provas da reencarnação dos Espíritos?


- Sim, primeiramente as que os próprios Espíritos nos trazem em suas revelações; em seguida, as aptidões inatas de cada indivíduo, que determinam sua vocação e lhe traçam neste mundo as grandes linhas de sua vida. Daí, as diferenças materiais, intelectuais e morais que distinguem entre si os homens na Terra e explicam as desigualdades sociais.



Onde o Espírito reencarna?


- Por toda parte no universo. Todos os mundos são destinados a receber a vida sob suas formas variadas e em todos os graus.


Onde estava a alma, antes de encarnar num corpo?


- No espaço. O espaço é o lugar dos Espíritos, como o mundo terrestre é o lugar dos corpos.


Que é o espaço?


- É a imensidade, isto é, o infinito onde se movem os mundos, a esfera sem limites, que nosso limitado pensamento não pode conceber nem definir.


Por que o Espírito que está no espaço encarna em um corpo?


- Porque é a lei de sua natureza, a condição necessária de seus progressos e de seu destino. A vida material, com suas dificuldades, precisa do esforço e o esforço desenvolve nossos poderes latentes e nossas faculdades em germe.



O Espírito só encarna uma vez?


- Não. Ele reencarna tantas vezes quantas sejam necessárias para atingir a plenitude de seu ser e de sua felicidade.


Mas, para atingir esse fim, a pluralidade das existências é então necessária?


- Sim, porque a vida do Espírito é uma educação progressiva, que pressupõe uma longa série de trabalhos a realizar e de etapas a percorrer.


Uma só existência humana, quando é muito boa e muito longa, não poderia bastar ao destino de um Espírito?


- Não. O Espírito só pode progredir, reparar, renovando várias vezes suas existências em condições diferentes, em épocas variadas, em meios diversos. Cada uma de suas reencarnações lhe permite apurar sua sensibilidade, aperfeiçoar suas faculdades intelectuais e morais.


Dissestes que o Espírito reencarna para reparar; então, ele praticou o mal em suas vidas precedentes?


- Sim. O Espírito praticou o mal, já que não fez todo o bem que devia ter feito. Existe aí uma lacuna que é necessário preencher.


Que é o mal?


- É a ausência do bem, como o falso é a negação do verdadeiro e a noite a ausência da luz. O mal não tem existência positiva; ele é negativo por natureza. A prática do bem engrandece o nosso Ser; a sua omissão o diminui.


Como as reencarnações nos permitem reparar as existências falhas?


- Da mesma forma como o operário recomeça a tarefa que fez mal, assim o Espírito refaz a vida em que falhou.


Já que vivemos várias vezes, como se explica que não guardamos nenhuma lembrança de nossas vidas passadas?


- Deus não o permite, porque nossa liberdade ficaria diminuída pela influência da lembrança do nosso passado. “O que põe a mão na charrua, se quer fazer bem seu trabalho, não deve olhar para trás.”


Por qual fenômeno o esquecimento de nossas vidas anteriores se produz assim entre nós?


- No momento em que o Espírito reencarna, isto é, toma um corpo, à medida que nele penetra, suas faculdades adormecem, uma após outra; a memória se apaga e a consciência adormece. No momento da morte se produz o fenômeno contrário: à medida que o Espírito desencarna, as faculdades se desprendem, uma após outra, a memória se liberta, a consciência desperta. Todas as vidas anteriores vêm, pouco a pouco, ligar-se à vida que o Espírito acaba de deixar.


É necessário que a vida atual seja suspensa, adormecida, para que as vidas anteriores se revelem?


- Sim, como é necessário que o sol se deite para que as estrelas, ocultas nas profundezas da noite, apareçam a nossos olhos.


Não existe algum meio de provocar momentaneamente a lembrança das vidas passadas?


- Sim. Pela hipnose ou sono artificial em diversos graus. Sábios contemporâneos fizeram e ainda fazem em nossos dias experiências concludentes, que comprovam a realidade das existências anteriores.


Como se fazem essas experiências?


- Quando um experimentador consciencioso e competente encontra um indivíduo apto a suportar sua influência magnética, ele o adormece. Graças a esse sono, a vida presente é momentaneamente suspensa: então, a lembrança das vidas anteriores, adormecida nas profundezas da consciência, desperta e o indivíduo hipnotizado revê e narra todo o seu passado. Foram escritos livros inteiros sobre essas revelações preciosas, que nos fazem conhecer as leis do destino.



Retirado do livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis



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Sugestão de leitura sobre o tema “regressão a vidas passadas”:

Livro “Muitas Vidas, Muitos Mestres” - Dr. Brian Weiss.



O homem: corpo, alma, perispírito





Que é um ser humano?


- Um ser composto de uma alma e de um corpo, isto é, de espírito e carne.


Que é, então, a alma?


- É o princípio de vida em nós. A alma do homem é um Espírito encarnado; é o princípio da inteligência, da vontade, do amor, a sede da consciência e da personalidade.


Que é o corpo?


- O corpo é um envoltório de carne, composto de elementos materiais, sujeitos à mudança, à dissolução e à morte.


O corpo é, então, inferior à alma?


- Sim, porque ele é apenas sua vestimenta.


É necessário então desprezar o corpo, já que ele é inferior à alma?


- De maneira alguma: nada é desprezível. O corpo é o instrumento de que a alma tem necessidade para realizar seu destino; o operário não deve desprezar o instrumento com o qual ganha seu sustento.


A alma está encerrada no corpo ou é o corpo que está contido na alma?


- Nem uma nem outra coisa. A alma, que é espírito, não pode ficar encerrada num corpo; ela irradia por fora, como a luz através do cristal da lâmpada. Nenhum corpo pode mantê-la materialmente cativo; ela pode exteriorizar-se.


Como está unida a alma ao corpo, o espírito à carne?


- Por meio de um elemento intermediário, chamado corpo fluídico ou perispírito, que participa, ao mesmo tempo, da alma e do corpo, do espírito e da carne e os vincula, de alguma forma, um ao outro.


Que quer dizer a palavra perispírito?


- Esta palavra quer dizer: o que está em torno do Espírito. Da mesma forma que o fruto está contido num envoltório muito delgado chamado perisperma, o Espírito está envolvido por um corpo muito sutil denominado perispírito.


Como o perispírito pode unir a carne ao Espírito?


- Penetrando-os e permitindo se interpenetrarem. O perispírito comunica-se com a alma através de correntes magnéticas e com o corpo por meio do fluido vital e do sistema nervoso, que lhe serve, de certa forma, de transmissor.


Então, o homem é, na realidade, composto de três elementos constitutivos?


- Sim, esses três elementos são: o corpo, o espírito e o perispírito.


Quando e onde começa essa união da alma e do corpo?


- No momento da concepção, e se torna definitiva e completa por ocasião do nascimento.


A alma se separa do perispírito, quando se separa do corpo?


- Nunca. O perispírito é sua vestimenta fluídica indispensável. O perispírito precede a vida presente e sobrevive à morte. É ele que permite aos Espíritos desencarnados materializar-se, isto é, aparecer aos vivos, falar-lhes, como acontece por vezes nas reuniões espíritas.


O perispírito é então um corpo fluídico semelhante a nosso corpo material?


- Sim. É um organismo fluídico completo; é o verdadeiro corpo, as verdadeiras formas humanas, a que não muda em sua essência. Nosso corpo material se renova a cada instante; seus átomos se sucedem e se reformam; nosso rosto se transforma com a idade; o corpo fluídico propriamente dito não se modifica materialmente; ele é nossa verdadeira fisionomia espiritual, o princípio permanente de nossa identidade e de nossa estabilidade pessoal.


Onde, então, o perispírito encontrou seu fluido?


- No fluido universal, isto é, na força primordial, etérea. Cada mundo tem seus fluidos especiais, tomados ao fluido universal; cada Espírito tem seu fluido pessoal, em harmonia com o do mundo que ele habita e seu próprio estado de adiantamento.



Retirado do livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis



A Doutrina do Espiritismo




Que significa esta palavra: Espiritismo?


- Significa: Ciência do Espírito ou ensino dos Espíritos, porque são os próprios Espíritos que no-lo revelaram.


O Espiritismo é uma ciência ou uma crença?


- O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência positiva, uma filosofia, uma doutrina social; é também uma crença, porém, baseada na ciência experimental.


É uma ciência, uma filosofia, uma doutrina, uma crença nova?


- De modo algum; é a ciência integral, a filosofia humana, a doutrina universal. Ele é o antigo e novo, como a Verdade, que é eterna.


Por que espiritualismo experimental?


- Porque essa doutrina repousa sobre fatos positivos, controlados pela experimentação científica.



Prove que o Espiritismo é uma ciência.


- O Espiritismo é uma ciência porque repousa em princípios positivos de onde se podem tirar deduções científicas incontestáveis. Além disso, ele é a própria razão da ciência, porque a ciência que não esclarece o homem sobre sua natureza íntima e sobre seu destino é uma ciência incompleta e estéril, como o positivismo. Ora, o Espiritismo é a ciência completa do homem; ela lhe indica sua verdadeira natureza, seu princípio fundamental, seu destino final e, por consequência, se esforça, dando-lhe toda a luz sobre sua vida para torná-la mais feliz e melhor.



Quais são as provas científicas atuais do Espiritismo?


- As provas atuais do Espiritismo são as descobertas recentes da radioatividade de todos os corpos e de todos os seres, a hipnose, o magnetismo, os fenômenos múltiplos da telepatia, do desdobramento, os fantasmas dos vivos e dos mortos, em uma palavra, todo o conjunto dos fenômenos de ordem psíquica. As descobertas futuras, das quais estas são apenas o prefácio, darão ao Espiritismo experimental uma consagração definitiva.



Se o Espiritismo é uma ciência positiva, por que encontra tanta oposição, hostilidade mesmo, entre os sábios?


- O Espiritismo só é combatido, geralmente, pelos sábios oficiais, precisamente porque ele é uma revolução na ciência oficial. A maioria dos sábios livres e independentes é, ao contrário, favorável ao Espiritismo e vem engrossar nossas fileiras.



Como o Espiritismo, que é uma ciência, é, ao mesmo tempo, uma filosofia e uma moral?


- Porque o Espiritismo é uma ciência eminentemente prática, que ensina aos homens as duas grandes virtudes sobre as quais repousa toda a moral humana: a justiça e a solidariedade, isto é, o progresso na ordem e o amor.



O Cristianismo não explica essa moral?


- Sim, é a moral universal escrita, em todos os tempos, na consciência humana. Jesus a ensinou ao mundo, há vinte séculos, mas os sacerdócios e as teologias a desnaturaram e alteraram por meio de acréscimos interesseiros ou de interpretações sutis. O Espiritismo lhe restitui sua pureza primitiva, a apóia em provas sensíveis e a apresenta ao gênero humano com toda a amplitude que convém à sua evolução atual e a seus progressos futuros.



Entretanto, toda moral pede uma sanção, isto é, uma recompensa para o bem, um castigo para o mal?


- A recompensa do bem cumprido é o próprio bem, como o castigo do mal cometido é a consciência de o ter praticado com premeditação; daí o remorso. O espírito humano é para consigo mesmo seu próprio recompensador ou seu algoz. Deus não pune nem recompensa ninguém. Uma lei imutável, uma justiça imanente presidem a ordem do universo e as ações dos homens. Todo ato cumprido encerra suas consequências. Deus deixa ao tempo o cuidado de realizá-las.


Não há, portanto, céu nem inferno?


- O céu ou o inferno estão na consciência de cada um de nós; toda alma traz em si e consigo sua alegria ou seu sofrimento, sua glória ou sua miséria, conforme seus méritos ou seus deméritos.



Então, por que fazer o bem e evitar o mal, se não se é recompensado pelo céu, nem punido pelo inferno?


- É necessário fazer o bem e evitar o mal, não com o fim egoístico de uma recompensa, nem pelo temor servil de um castigo, mas unicamente porque é a lei de nosso adiantamento. O progresso dos seres é o resultado de seu esforço individual; assim se anulam o dogma injurioso da graça e a teoria fatalista da predestinação.



Como é formulada a lei do destino?


- Cada um de nossos atos, bom ou mau, temos dito, recai sobre nós. A vida presente, feliz ou infeliz, é o resultado de nossos atos passados e a preparação de nossas vidas futuras. Colhemos, matematicamente, através dos séculos o que semeamos. A lembrança de nossas vidas anteriores se apaga por ocasião da volta da alma à carne; mas o passado subsiste nas profundezas do ser. Essa lembrança se recobra na morte e até durante a vida, quando a alma se desprende do corpo material, nos diferentes estados do sono. Então, o encadeamento de nossas vidas e, por conseguinte, o das causas e dos efeitos que as rege se reconstituem. A realização nelas de uma lei soberana de justiça torna-se evidente para nós.



Como ciência, o Espiritismo se dirige à razão; mas como se dirige ao coração humano?


1) Consolando-o na provação; 2) fazendo-o amar a vida, a natureza, o universo, como uma obra solidária e harmoniosa, toda impregnada de amor, de poesia, de beleza.


Como o Espiritismo consola o homem em suas provas?


- Fazendo-o compreender que o sofrimento é uma educação necessária ao seu destino; que ele engrandece a alma, forma o juízo, tempera o caráter, apura as sensações e inspira o nobre sentimento da piedade, pelo qual nos assemelhamos mais a Deus.


Isso são consolações que se dirigem mais à razão; mas as verdadeiras penas do coração, tais como a perda daqueles que amamos, de uma mãe, de um filho, de um amigo etc. não são penas inconsoláveis?


- Não há penas inconsoláveis. São precisamente essas que o Espiritismo consola melhor, porque graças a seu ensino e a suas práticas, sentimos em torno de nós a presença de nossos mortos bem amados. Seu fluido nos envolve; eles nos falam, por vezes se deixam ver e até fotografar. A fé religiosa dá somente a esperança; o Espiritismo dá a certeza e faz tocar a realidade.


O Espiritismo nega, então, a morte?


- Não, mas a livra dos terrores e dos temores cujos prejuízos a cercam. O Espiritismo nos faz amar a vida e nos ensina a não temer a morte.



Como o Espiritismo nos faz amar a vida?


- Apresentando-a como uma das etapas necessárias de nosso destino. Além disso, ele nos faz compreender como a existência humana, apesar de sua duração e suas aparências efêmeras, se liga ao plano geral da evolução, do amor e da beleza, que constitui o universo.



Como o Espiritismo compreende a solidariedade humana?


- Em seu mais alto e mais amplo sentido. Cada homem, devendo renascer um dia para reparar suas faltas ou aperfeiçoar sua vida nesta mesma Terra, que é o campo de batalha de suas lutas e o terreno de seus labores, não tem ele todo o interesse de aí fazer o bem em torno de si, de amar seus semelhantes, lhes prestar serviço, a fim de preparar para si próprio um retorno feliz neste mundo de provas?



Acabamos de ver que o Espiritismo é uma ciência positiva e uma filosofia moral; como, além disso, é uma doutrina social?


- Porque o Espiritismo bem compreendido e bem praticado torna o indivíduo melhor e que é somente pela melhoria do indivíduo que se pode obter a da sociedade.


Como o Espiritismo torna o indivíduo melhor?


- Dando-lhe a verdadeira noção da vida e, portanto, a do seu destino, isto é, realizando a educação moral do homem individual e do homem social.




Retirado do livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis



Beleza, Natureza, Artes




Que é a beleza?


- É o que agrada ao espírito e encanta os olhos.


Por que o que é belo é o que agrada ao espírito e aos olhos?


- Porque o belo é conforme a natureza, como a natureza, a seu turno, é conforme a idéia divina, que é seu modelo eterno.


A natureza é, então, eterna?


- A natureza é o efeito; somente a causa é eterna: é Deus.


Deus é, pois, o autor da natureza?


- Sim; por toda parte encontramos seu poder, sua inteligência, seu amor e o reflexo de sua beleza.


A natureza é, então, o reflexo de Deus?


- Sim, é um transparente sob o qual se descobre Deus; cada um dos fenômenos da natureza é o símbolo de um pensamento divino.


Como acontece que tão poucos homens vejam a natureza dessa maneira?


- Porque o maior número dos homens olha essas coisas com a visão fatigada pelo hábito ou falseada pela paixão. O homem que guardou a mocidade do coração e a pureza do olhar vê a natureza e a vida na verdadeira luz. Foi nesse sentido que Jesus disse: “Felizes os corações puros, porque verão a Deus.” e ainda: “Se vosso olhar é simples, todo o vosso corpo será iluminado.”


A natureza é, então, a expressão da beleza?


- Sim, a natureza é o primeiro fato estético que se impõe ao nosso pensamento e aos nossos olhares. É a regra impecável, o modelo onde as artes encontrarão sempre a medida de sua inspiração.


Como o homem exprime a beleza da natureza?


- Pelas artes.


Que são as artes?


- As artes são a expressão material dos três elementos que constituem a beleza: isto é, a idéia, a forma e a vida.


Onde busca o artista a idéia ou, antes, o ideal de suas obras?


- Na contemplação interior de uma beleza incriada, entrevista como uma miragem da beleza eterna, que é Deus visto em suas obras. É essa visão interna que se chama: concepção do gênio e inspiração.


O artista não deve, então, imitar simplesmente a natureza?


- Sim, mas não deve ser copista servil, como o pretende a escola dita realista. Deve somente emprestar-lhe as formas sensíveis, os sinais materiais necessários para dar corpo ao ideal que está nele. Quanto mais um artista se aproxima do ideal, mais exprime a realidade; da mesma forma que, quanto mais se aproxima de uma alma, melhor se possui e se conhece o homem por completo.




Retirado do livro Síntese Doutrinária – Léon Denis