O elemento dispensável



A senhora não falava. Nas reuniões mediúnicas do grupo ao qual pertencia, ‘entrava muda e saía calada’, como se costuma dizer na gíria. Ao ser-lhe perguntado o que tinha sentido durante a reunião, ela respondia invariavelmente que se tinha sentido bem. Boas presenças. Nada mais adiantava.


Os outros componentes do grupo mediúnico, dadas as poucas palavras desta companheira, concluíram por unanimidade que a sua presença era dispensável. Com bons modos, para não ferir eventuais suscetibilidades, fizeram-lhe sentir que a sua presença no grupo não era necessária.


Ela reagiu como habitualmente: com poucas palavras. Mas notava-se no rosto enorme tristeza. É que o grupo mediúnico no qual ela participava havia anos lhe era muito caro. Era aí que ela sentia que poderia fazer alguma coisa pelos outros. Alguma coisa que estava ao seu alcance, dadas as suas poucas posses materiais e os seus fracos recursos escolares. Mas aceitou a decisão com um misto de desilusão e desencanto, tal como já havia acontecido muitas vezes na sua vida.


Passou-se algum tempo. O grupo mediúnico que tanto frutificara acabou por se ir desfazendo aos poucos. Agora saía um elemento, depois outro. Surgiam mistificações nas comunicações mediúnicas...


Até que um dia se apresentou o antigo guia espiritual orientador dos trabalhos, que já há bastante tempo não se manifestava. O júbilo do reencontro foi geral. Foi-lhe perguntado o porquê do rumo menos adequado que os trabalhos mediúnicos estavam seguindo. Ele explicou:


Sabem, irmãos, vocês expulsaram a trave mestra deste grupo. Ela não falava, não dizia palavra. Mas enquanto aqui estava ela transmitia vibrações de amor que sustentavam nossos trabalhos...”


Moral da história: Nunca julguemos os outros pelo imediatismo das aparências. Os sentimentos não se vêem.


Mário


Retirado do blog Idéia Espírita