A (Necessidade de) Modernização do Espiritismo



Kardec afirmou que o Espiritismo é uma ciência experimental, constituída a partir das instruções dadas pelos Espíritos sobre todos os assuntos que interessam à Humanidade e, também, através das respostas às perguntas que lhes foram propostas, tendo sido recolhidas e coordenadas com cuidado (OE, p.186). Tais instruções possibilitaram a Kardec produzir três estudos fundamentais, um de ordem filosófica (O Livro dos Espíritos), um de ordem moral (O Evangelho segundo o Espiritismo) e um científico sobre o processo de comunicação mediúnica (O livro dos Médiuns).


Porém, não podemos nos esquecer que Kardec viveu e escreveu imbuído pelos valores dominantes do homem europeu do século XIX: o evolucionismo, o positivismo etc.


Além disso, se tais livros abarcaram “todos” os assuntos que interessavam naquele momento da história européia e ocidental, não significa que outros assuntos fossem interditados ao Espiritismo. Será que as perguntas formuladas por Kardec aos espíritos dão conta de todos os assuntos que interessaram à humanidade do século XX e dos que interessarão à humanidade do século XXI?


Será que Kardec poderia prever que entre outros assuntos, o homem ocidental se preocuparia com a preservação do meio ambiente e, relacionado a esse tema, com o vegetarianismo e com o direito dos animais? Ele poderia prever o surgimento de novas terapias vibracionais como os Florais, o Reiki, a Cromoterapia ou a Musicoterapia? Ou que o homem dito “civilizado” demonstraria um interesse gradativo pelas ancestrais filosofias e práticas corporais do Oriente, tais como o T’ai Chi Chuan, o Yoga, a Meditação, o Do-In, a Acupuntura?


E mesmo no campo do mediunismo, será que Kardec imaginaria que no século XX a Umbanda praticada no Brasil seria renovada, abolindo o sacrifício de animais e a cobrança pelo trabalho de assistência espiritual ou que haveria uma crescente manifestação mediúnica de entidades na forma de índios, pretos-velhos, crianças, orientais etc., além dos famosos políticos, escritores e filósofos que ditaram as mensagens que possibilitaram o surgimento de seus livros?


Será que Kardec poderia prever o surgimento da Transcomunicação Instrumental, justamente, no seio da Igreja Católica, no Vaticano? E a Apometria, com o diagnóstico de outras enfermidades espirituais e técnicas de desobsessão, apoiadas nos fundamentos da chamada Física Quântica?


Em suma, são tantos temas e fatos espíritas* que, se Kardec tivesse encarnado no século XX, teria produzido, ou orientado, muitos estudos segundo o Espiritismo. Ou seja, usando o método de intercâmbio com os Espíritos que idealizou, iria pesquisar e sistematizar as informações e os ensinamentos dos seres incorpóreos sobre os mais diversos assuntos morais e sociais.


Se o pensamento de Kardec for retomado, os fatos espíritas (ou causados pelos Espíritos) podem se tornar, realmente, objetos científicos. Mas, enquanto o objetivo for fazer prosélitos, menos científico será o discurso “espírita”.


Foi por isso que, antes de afirmar que existem Leis que regem o intercâmbio entre o mundo visível e o invisível, Kardec procurou reunir um número significativo de evidências da existência de tal mundo invisível. E hoje em dia elas são ainda em maior quantidade. Porém, não foi o Espiritismo que as produziu. O Espiritismo apenas é a ciência que as transformou em objeto de estudo.


Lembremos que o próprio Léon Denis, possivelmente aquele que mais se preocupou em dar continuidade à obra iniciada por Allan Kardec, gostava de afirmar que o Espiritismo não poderia se restringir aos estudos de Kardec, por mais abrangente que fosse a obra do codificador.


Muitas vezes chamamos de heterodoxos os que estudam os hodiernos “fatos espíritas”, como a Transcomunicação Instrumental, a Apometria, as novas terapias vibracionais etc., e de ortodoxos os que fazem críticas e ofensas a esses estudiosos. Nada mais falso. Os que estudam esses “fatos espíritas” estão respeitando a memória de Kardec, pois não fazem do Espiritismo palco para pregação doutrinária ou proselitismo, mas ciência.


E como todo campo científico, o Espiritismo também deve se aprimorar, mudar de paradigmas, de heurísticas etc. E, no âmbito científico, a única conclusão cabal que se pode tirar do Espiritismo é que há influência do mundo invisível sobre o mundo visível. E que já se pode definir algumas das relações que existem entre eles. Porém, afirmar que o Espiritismo já revelou tudo sobre o mundo espírita e que mais nada há para se estudar, é muita preguiça mental.



* Segundo a denominação de Allan Kardec, “fatos espíritas” são todos os fenômenos causados pela intervenção de inteligências desencarnadas, ou seja, por Espíritos.





Texto retirado de estudo feito pelo “Centro Ecumênico de Cultura e Educação para a Paz” e que pode ser visto na íntegra no link: http://www.csf.org.br/Biblioteca/reikiespirito.pdf



Chico Xavier, no Programa Pinga Fogo, fala sobre Transcomunicação Instrumental.