Comunicações com o Mundo Invisível (1)




A existência, a sobrevivência e a individualidade da alma sendo admitidas, o Espiritismo se reduz a uma só questão principal: as comunicações entre as almas e os vivos são possíveis? Essa possibilidade é um resultado da experiência. O fato de o intercâmbio entre o mundo visível e o mundo invisível, uma vez estabelecido, a natureza, a causa e o modo desses intercâmbios sendo conhecidos, é um novo campo aberto à observação e a chave de uma multidão de problemas; é, ao mesmo tempo, um poderoso elemento moralizador para acabar com a dúvida sobre o futuro.

Os intercâmbios entre o mundo visível e o mundo invisível podem ser ocultos ou patentes, espontâneos ou provocados.


Os Espíritos agem sobre os homens, de maneira oculta, pelos pensamentos que lhes sugerem e por certas influências; de um modo patente, por efeitos apreciáveis pelos sentidos.


As comunicações que se recebem dos Espíritos podem ser boas ou más, justas ou falsas, profundas ou superficiais, segundo a natureza dos Espíritos que se manifestem.


Aqueles que provam sabedoria e saber são Espíritos que progrediram; aqueles que provam ignorância e más qualidades são Espíritos ainda atrasados, que progredirão com o tempo. Os Espíritos não podem responder senão sobre o que sabem, segundo seu adiantamento, e, além disso, sobre o que lhes é permitido dizer, porque há coisas que não devem revelar, visto que não é dado, ainda, ao homem, tudo conhecer.


Reconhece-se a qualidade dos Espíritos pela sua linguagem; a dos Espíritos verdadeiramente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica, isenta de contradições; nela transparecem a sabedoria, a benevolência, a modéstia e a moral mais pura; ela é concisa e sem palavras inúteis.


Nos Espíritos inferiores, ignorantes ou orgulhosos, o vazio das idéias é quase sempre compensado pela abundância de palavras. Todo pensamento evidentemente falso, toda máxima contrária à moral sadia, todo conselho ridículo, toda expressão grosseira, trivial ou simplesmente frívola, enfim, toda marca de malevolência, presunção ou arrogância, são sinais incontestáveis de inferioridade num Espírito.


Os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes; seu horizonte moral é limitado, sua perspicácia restrita. Eles não têm das coisas senão uma idéia freqüentemente falsa e incompleta e estão, por outro lado, ainda sob a influência dos preconceitos terrestres que tomam, algumas vezes, por verdades; por isso, eles são incapazes de resolverem certas questões. Eles podem nos induzir ao erro, voluntária ou involuntariamente, sobre o que eles próprios não compreendem.


Os Espíritos inferiores não são, por isso, todos essencialmente maus; há os que não são senão ignorantes e levianos; há os gracejadores, os espirituosos, os divertidos e que sabem manejar o gracejo fino e mordaz. Ao lado disso, encontram-se no mundo dos Espíritos, como sobre a Terra, todos os gêneros de perversidades e todos os graus de superioridade intelectual e moral.


Os Espíritos superiores não se ocupam senão com manifestações inteligentes objetivando nossa instrução; as manifestações físicas ou puramente materiais, estão mais especialmente nas atribuições dos Espíritos inferiores, vulgarmente designados sob o nome de Espíritos batedores, como, entre nós, os torneios de força cabem aos saltimbancos e não aos sábios.


Os Espíritos são atraídos pela simpatia, semelhança de gostos e de caráter e pela intenção dos que desejam sua presença. Os Espíritos superiores não vão mais a uma reunião fútil do que um sábio da Terra não iria a uma reunião de jovens estouvados. O simples bom senso diz que não poderia ser de outra forma. Se eles vão, algumas vezes, é para dar um conselho salutar, combater os vícios, procurar conduzir ao bom caminho; se não são escutados, retiram-se.


Seria ter uma idéia completamente falsa, crer-se que os Espíritos sérios pudessem se comprazer em responder a futilidades, a questões ociosas que não provam, ou atribuem, nem respeito por eles nem desejo real de instrução, e ainda menos que possam vir dar espetáculo para divertir curiosos. Se não o fizeram durante sua vida, não o podem fazer depois da sua morte.


Um outro ponto igualmente essencial a considerar é que os Espíritos são livres; eles se comunicam quando querem, com quem lhes convém e também quando podem, porque têm suas ocupações. Eles não estão às ordens e ao capricho de quem quer que seja, e não é dado a ninguém fazê-los vir contra a sua vontade, nem dizerem o que querem calar; de sorte que ninguém pode afirmar que um Espírito qualquer virá ao seu chamado em um momento determinado, ou responderá a tal ou tal questão. Dizer o contrário é provar ignorância absoluta dos mais elementares princípios do Espiritismo; só o charlatanismo tem fontes infalíveis.


CONTINUA...