Pergunta: O arrependimento se verifica no estado corpóreo ou no estado espiritual?
Resposta dos Espíritos — No estado espiritual. Mas pode também verificar-se no estado corpóreo, quando bem compreendeis a distinção entre o bem e o mal.
Pergunta: Qual é a conseqüência do arrependimento no estado espiritual?
Pergunta: Qual é a conseqüência do arrependimento no estado corpóreo?
Resposta dos Espíritos — Adiantar-se, ainda na vida presente, se houver tempo para reparação das faltas. Quando a consciência reprova e mostra uma imperfeição, sempre se pode melhorar.
Pergunta: Não há homens que só possuem o instinto do mal, sendo inacessíveis ao arrependimento?
Resposta dos Espíritos — Já te disse que se deve progredir sem cessar. Aquele que nesta vida só possui o instinto do mal, numa outra terá o do bem, e é para isso que renasce muitas vezes, pois é necessário que todos avancem e atinjam o alvo, uns com mais rapidez, e outros de maneira mais demorada, segundo os seus desejos. Aquele que só tem o instinto do bem já está purificado, porque pode ter tido o do mal numa existência anterior.
Pergunta: O homem perverso, que durante a vida não reconheceu suas faltas, sempre as reconhecerá depois da morte?
Resposta dos Espíritos — Sim, ele sempre as reconhece, e então sofre mais porque sente todo o mal que praticou ou do qual foi a causa voluntária. Entretanto, o arrependimento nem sempre é imediato. Há Espíritos que se obstinam no mau caminho, apesar dos sofrimentos. Mas, cedo ou tarde, reconhecerão haver tomado um falso caminho e o arrependimento se manifestará. É para esclarecê-los que os bons Espíritos trabalham e que vós mesmos podeis trabalhar.
Pergunta: O arrependimento sincero durante a vida é suficiente para extinguir as faltas e fazer que se mereça a graça de Deus?
Resposta dos Espíritos — O arrependimento auxilia a melhora do Espírito, mas o passado deve ser expiado.
Pergunta: Se, de acordo com isso, um criminoso dissesse que, tendo de expiar o passado, não precisa se arrepender, quais seriam para ele as conseqüências?
Resposta dos Espíritos — Se teimar no pensamento do mal, sua expiação será mais longa e mais penosa.
Pergunta: Podemos, desde esta vida, resgatar as nossas faltas?
Resposta dos Espíritos — Sim, reparando-as. Mas não julgueis resgatá-las por algumas privações pueris ou por meio de doações depois da vossa morte, quando não tereis mais necessidade de nada. Deus não considera um arrependimento estéril, sempre fácil e que só custa o trabalho de bater no peito. A perda de um dedo, quando se presta um serviço, apaga maior número de faltas do que o cilício (suplício da carne) suportado durante anos, sem outro objetivo que o bem de si mesmo.
O mal não é reparado senão pelo bem, e a reparação não tem mérito algum se não atingir o homem no seu orgulho ou nos interesses materiais. De que lhe serve restituir após a morte, corno justificação, os bens mal adquiridos, que foram desfrutados em vida e já não lhe servem para nada? De que lhe serve a privação de alguns gozos fúteis e de algumas superfluidades, se o mal que fez a outrem continue o mesmo? De que lhe serve, enfim, humilhar-se diante de Deus, se conserva o seu orgulho diante dos homens?
Pergunta: Não há nenhum mérito em se assegurar, após a morte, um emprego útil para os bens que deixamos?
Resposta dos Espíritos — Nenhum mérito não é bem o termo; isso vale sempre mais do que nada. Mas o mal é que aquele que dá ao morrer, geralmente é mais egoísta do que generoso. Quer ter as honras do bem sem lhe haver provado as penas. Aquele que se priva em vida tem duplo proveito: o mérito do sacrifício e o prazer de ver felizes os que beneficiou. Mas há sempre o egoísmo a dizer ao homem: ‘O que dás, tiras dos teus próprios gozos’. E como o egoísmo fala mais alto que o desinteresse e a caridade, ele guarda em vez de dar, sob o pretexto das suas necessidades e das exigências da sua posição. Ah! Lastimai aquele que desconhece o prazer de dar, porque foi realmente deserdado de um dos mais puros e suaves gozos do homem. Deus, submetendo-o à prova da fortuna, tão escorregadia e perigosa para o seu futuro, quis dar-lhe em compensação a ventura da generosidade, de que ele pode gozar neste mundo.
Pergunta: O que deve fazer aquele que, no último momento, na hora da morte, reconhece as suas faltas, mas não tem tempo para repará-las? É suficiente arrepender-se, nesse caso?
Resposta dos Espíritos — O arrependimento apressa a sua reabilitação, mas não o absolve. Não tem ele o futuro pela frente, que jamais se lhe fecha?