A Transição - Parte 4 de 4

O estado do Espírito por ocasião da morte pode ser assim resumido: tanto maior é o sofrimento do Espírito quanto mais lento for o desprendimento do perispírito; a presteza deste desprendimento está na razão direta do adiantamento moral do Espírito; para o Espírito desmaterializado, de consciência pura, a morte é qual um sono breve, isento de agonia, e cujo despertar é suavíssimo.


Para que cada qual trabalhe na sua própria purificação, reprimindo as más tendências e dominando as paixões, preciso se faz que abdique das vantagens imediatas em prol do futuro, visto como, para identificar-se com a vida espiritual, encaminhando para ela todas as aspirações e preferindo-a à vida terrena, não basta crer, mas é preciso compreender.


Devemos considerar essa vida debaixo de um ponto de vista que satisfaça ao mesmo tempo à razão, à lógica, ao bom senso e ao conceito em que temos a grandeza, a bondade e a justiça de Deus.


Considerado deste ponto de vista, o Espiritismo é, de todas as doutrinas filosóficas que conhecemos, a que exerce mais poderosa influência, pela fé inabalável que proporciona.


O espírita sério não se limita a crer, porque compreende, e compreende, porque raciocina; a vida futura é uma realidade que se desenrola incessantemente a seus olhos; uma realidade que ele toca e vê, por assim dizer, a todos os instantes e de modo que a dúvida não pode penetrar na sua mente, ou ter guarida em sua alma. A vida corporal, tão limitada, se apaga diante da vida espiritual, que se apresenta como a verdadeira vida.


Que lhe importam os incidentes da jornada, se ele compreende a causa e utilidade das vicissitudes humanas, quando suportadas com resignação? As relações diretas que mantém com o mundo invisível elevam-lhe a alma. Os laços fluídicos que o ligam à matéria se enfraquecem. E é assim que vai se operando por antecipação o desprendimento parcial que facilita a passagem desta para a outra vida. A perturbação consequente à transição pouco perdura, porque, uma vez franqueado o passo, para logo se reconhece, nada estranhando, antes compreendendo, a sua nova situação.


Com certeza não é só o Espiritismo que nos assegura esse resultado, nem ele tem a pretensão de ser o meio exclusivo, a garantia única de salvação para as almas. Porém, pelos conhecimentos que fornece, pelos sentimentos que inspira, como pelas disposições em que coloca o Espírito, fazendo-o compreender a necessidade de melhorar-se, facilita enormemente a salvação. Ele dá a mais, e a cada um, os meios de auxiliar o desprendimento doutros Espíritos ao deixarem o invólucro material, abreviando-lhes a perturbação pela evocação e pela prece.


Pela prece sincera, que é uma forma de magnetização espiritual, provoca-se a desagregação mais rápida do fluido perispiritual; pela evocação conduzida com sabedoria e prudência, com palavras de benevolência e conforto, combate-se o entorpecimento do Espírito, ajudando-o a reconhecer-se mais cedo, e, se é sofredor, incute-se-lhe o arrependimento - único meio de abreviar seus sofrimentos.


- Texto retirado do livro “O Céu e o Inferno” - Allan Kardec / 2ª Parte - Cap. I

- Nota do blog Espírita na Net – Edição realizada dos textos retirados do livro “O Céu e o Inferno”, das editoras FEB (40ª Edição) e LAKE (12ª Edição - Com tradução de J. Herculano Pires).


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Leia também o texto: A Hora Final


Sugestões de livros sobre o tema:

A Crise da Morte

Fenômenos Psíquicos no Momento da Morte