A Doutrinação - Parte 1/4



A doutrinação é a moderna técnica espírita de afastar os Espíritos obsessores por meio do esclarecimento doutrinário. Essa técnica é moderna e foi criada e desenvolvida por Allan Kardec para substituir as práticas bárbaras do exorcismo, largamente usada na Antiguidade, tanto na medicina como nas religiões.

O conceito do doente mental como possessão demoníaca gerou a ideia de espancar o doente para retirar o demônio do seu corpo. Nos hospitais a cura se processava por meio de espancamentos diários. Nas religiões recorria-se a métodos de expulsão por meio de preces, objetos sagrados como crucifixos, relíquias, rosários e terços, medalhas, aspersão de água benta, ameaças e xingos, queima de incensos e outros ingredientes, pancadas e torturas. As formas de exorcismo mais conhecidas entre nós são a judaica e a católica, sendo a judaica a mais racional, pois nela se empregavam também o apelo à razão do Dibuk, considerado como Espírito demoníaco ou alma penada. A tradução da palavra hebraica Dibuk, que nos parece mais acertada, é a de alma penada, pois os judeus reconheciam e identificavam o Espírito obsessor como espírito humano de pessoa morta que se vingava do obsedado ou cobrava débitos dele e da família. No exorcismo católico prevaleceu até hoje a ideia de possessão demoníaca.


As pesquisas espíritas, do século XIX, levaram Kardec a instituir e praticar intensivamente a doutrinação como forma persuasiva de esclarecimento do obsessor e do obsedado, em sessões de desobsessão. Ambos necessitam de esclarecimento evangélico para superarem os conflitos do passado. Afastada a ideia terrorista do diabo, obsessor e obsedado são tratados com amor e compreensão, como criaturas humanas e não como algoz satânico e vítima inocente. A doutrinação espírita humanizou e cristianizou o tratamento das doenças mentais e psíquicas, influindo nos novos rumos que a medicina tomava nesse sentido.


Alguns espíritas atuais pretendem suprimir a doutrinação, alegando que esta é realizada com mais eficiência pelos Espíritos bons no plano espiritual. Essa é uma prova de ignorância generalizada da Doutrina no próprio meio espírita, pois nela tudo se define em termos de relação e evolução.


Os Espíritos sofredores, que são os obsessores, permanecem mais ligados à Terra e portanto à matéria. Dessa maneira, os Espíritos benevolentes muitas vezes se manifestam nas sessões de desobsessão e servem-se dos médiuns para poderem comunicar-se com os obsessores. Apegados à matéria e à vida terrena, os obsessores necessitam de sentir-se seguros no meio mediúnico, envolvidos nos fluidos e emanações ectoplásmicas da sessão, para poderem conversar de maneira proveitosa com os Espíritos esclarecedores. Basta esse fato, comum nas sessões bem orientadas, para mostrar que a doutrinação humana dos Espíritos desencarnados é uma necessidade.


Os planos espirituais são superpostos. A partir da Terra, constituem as chamadas esferas da tradição espiritualista européia, segundo o esquema da Escala Espírita (O Livro dos Espíritos) como regiões destinadas aos vários graus ou ordens dos Espíritos. Essas esferas ou planos espirituais são mundos que se elevam ao infinito. Quanto mais elevado o mundo, mais distanciado está do nosso mundo carnal. A doutrinação existe em todos os planos, mas o trabalho mais rude e pesado é o que se processa em nosso mundo, onde os Espíritos dos mundos imediatamente superiores vêm colaborar conosco, ajudar-nos e orientar-nos no trabalho doutrinário.


Do livro “Obsessão, o passe, a doutrinação”

J. Herculano Pires - Editora Paidéia