Privações Voluntárias




Privações Voluntárias - Mortificações


Pergunta - As privações voluntárias, com vistas a uma expiação igualmente voluntária, têm algum mérito aos olhos de Deus?


Resposta dos Espíritos - Fazei o bem aos outros e tereis maior mérito.


Pergunta - Há privações voluntárias que sejam meritórias?


Resposta dos Espíritos - Sim, a privação dos prazeres inúteis, porque liberta o homem da matéria e eleva sua alma. O meritório é resistir à tentação que vos convida aos excessos e ao gozo das coisas inúteis; é retirar do necessário para dar aos que não têm o bastante. Se a privação nada mais for que um fingimento, será apenas uma zombaria.


Pergunta - A vida de mortificação ascética tem sido praticada desde toda a Antiguidade e nos diferentes povos; é ela meritória sob algum ponto de vista?


Resposta dos Espíritos - Perguntai a quem ela aproveita e tereis a resposta. Se não serve senão ao que a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísta, qualquer que seja o pretexto sob o qual se disfarce. Submeter-se a privações no trabalho pelos outros é a verdadeira mortificação, de acordo com a caridade cristã.


Do “Livro dos Espíritos” – Allan Kardec (Livro Terceiro – As Leis Morais – Cap. 5 – Lei de Conservação / Item V – Privações Voluntárias / Mortificações)


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Vida de Isolamento - Voto de Silêncio


Pergunta - O que pensar dos homens que vivem em reclusão absoluta para fugirem ao contato pernicioso do mundo?


Resposta dos Espíritos - Duplo egoísmo.


Pergunta - Mas se esse retraimento tiver por fim uma expiação, com a imposição de penosa renúncia, não é meritório?


Resposta dos Espíritos - Fazer maior soma de bem do que de mal, essa é a melhor expiação. Com esse retraimento, evitando o mal, o homem cai em outro, pois esquece a lei de amor e caridade.


Pergunta - Que pensar dos que fogem do mundo para se devotarem ao amparo dos infelizes?


Resposta dos Espíritos - Esses se elevam, rebaixando-se. Têm o duplo mérito de se colocarem acima dos prazeres materiais e de fazerem o bem pelo cumprimento da lei do trabalho.


Pergunta - E os que procuram no retiro a tranquilidade necessária a certos trabalhos?


Resposta dos Espíritos - Esse não é o retiro absoluto do egoísta; eles não se isolam da sociedade, pois trabalham para ela.


Pergunta - Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas desde a mais remota Antiguidade?


Resposta dos Espíritos - Perguntai antes se a palavra é faculdade natural e por que Deus a concedeu. Deus condena abuso e não o uso das faculdades por ele concedidas. Não obstante, o silêncio é útil porque no silêncio te recolhes; teu espírito se torna mais livre e pode então entrar em comunicação conosco. Mas o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida, os que consideram essas privações voluntárias como atos de virtude, têm boa intenção, mas se enganam por não compreenderem suficientemente as verdadeiras leis de Deus.


Comentário de Kardec - O voto de silêncio absoluto, da mesma maneira que o voto de isolamento, priva o homem das relações sociais que lhe podem fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso.


Do “Livro dos Espíritos” – Allan Kardec (Livro Terceiro – As Leis Morais – Cap. 7 – Lei de Sociedade / Item II – Vida de Isolamento / Voto de Silêncio)


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Como conseguiremos ajudar a Humanidade, simplesmente orando? Companheiros admiráveis organizam pousos solitários, desfiguram-se, atormentam-se e crêem auxiliar, por esse modo, a obra de redenção humana.

Mas se devêssemos procurar a tranquilidade própria, a fim de servir ao Criador, por que motivo teria Jesus vindo até nós, partilhando conosco o pão da vida?

Em que luta condecorar-se-á o soldado que desiste do combate? Em que país haverá colheita valiosa para o lavrador que nada mais faz que contemplar a terra, a pretexto de amá-la? Como semear o trigo, sem contato com o solo?

Como plantar o bem, entre as criaturas, sem suportar o assédio da miséria e da ignorância? Não podemos admitir salvação sem a intimidade daquele que salva com aquele que se encontra desviado ou perdido.


Edição de texto retirado do livro “Ave, Cristo!” – Autoria Espiritual de Emmanuel / Psicografia de Francisco Cândido Xavier