Sessões Mediúnicas – Parte IV


Classificação - tipos de sessões mediúnicas


Sessões de cura — As sessões de cura distinguem-se das sessões de desobsessão por não tratarem apenas de problemas mentais e psíquicos, mas de todos os problemas da saúde. Os Espíritos exercem atividades curativas de todos os tipos e até mesmo realizam intervenções cirúrgicas em casos especiais.


Isso não parece estranho quando nos lembramos de que os Espíritos são simplesmente homens desencarnados que vivem numa dimensão física da realidade terrena, onde, como aqui, a mente opera sobre a matéria. Os planos espirituais mais próximos da crosta terrena são bastante semelhantes ao nosso.


As sessões de cura material seguem as normas da sessão de desobsessão, mas acrescidas de medidas de controle dos fenômenos, como os das sessões de ectoplasmia ou materializações. O ectoplasma é utilizado na recuperação de tecidos, na cicatrização muitas vezes imediata de incisões operatórias e no reequilíbrio de órgãos e funções.


Antecipando um século às práticas da medicina psicossomática, a terapêutica espírita mostrou que as doenças somáticas se originam no psiquismo. A descoberta do corpo-bioplásmico em nossos dias comprovou essa tese espírita. A Parapsicologia vem contribuindo bastante para o esclarecimento desse problema e hoje é grande o número de médicos que aceitam a contribuição espírita nesse campo.


Mas justamente por isso as sessões de cura não podem ser realizadas sem a participação de médicos-espíritas. A exigência da condição espírita dos médicos decorre da necessidade de conhecimentos da problemática espírita. Os médicos não-espíritas não dispõem de recursos para compreender o que então se passa, mas podem também participar dessas sessões, desde que acompanhados de colegas espíritas. É uma temeridade a aceitação do trabalho mediúnico de cura sem assistência médica ao médium.


As campanhas apaixonadas contra o Espiritismo criaram barreiras quase intransponíveis entre Espiritismo e Medicina, que só agora estão sendo derrubadas. Já existem, hoje, Sociedades de Medicina no Brasil e no Mundo. Essas instituições científicas se multiplicarão e ampliarão as suas atividades nos próximos anos. Os espíritas precisam colaborar para isso, evitando as práticas terapêuticas sem controle médico, que são arriscadas num ambiente de misticismo ingênuo como o nosso. Só assim ajudaremos a quebrar os tabus criados por mais de um século de calúnias assacadas contra os espíritas e o Espiritismo, em prejuízo evidente do progresso científico e do sofrimento humano.


As sessões de cura não passam de tentativas de auxílio, pois a cura espiritual não depende apenas dos fatores físicos da moléstia. Há fatores espirituais da doença que são quase sempre irremovíveis. São consequências de encarnações anteriores a que o espírito se submete de vontade própria a fim de libertar-se de pesadas angústias do passado. Mas há sempre algum benefício, mesmo nos casos incuráveis. E muitos casos que são incuráveis para a medicina terrena facilmente se curam com a intervenção das entidades espirituais através da mediunidade. Os Espíritos não são concorrentes dos médicos. Os próprios médicos desencarnados são os que mais se interessam em prestar a sua ajuda aos colegas terrenos, sem outro interesse que o de contribuir para o alívio possível do sofrimento humano.


Pessoas que não conhecem a doutrina costumam perguntar por que motivo os Espíritos não socorrem todos os enfermos e não curam todas as doenças, desde que dispõem de recursos superiores aos da medicina humana. É claro que tudo, no Universo, está sujeito a condições e leis. Um doente condicionado pela sua consciência profunda à necessidade de aliviá-la através das formas de sofrimentos que impôs a outras criaturas em vida anterior, tem nos sofrimentos atuais o seu próprio remédio e não uma doença. Passa por um doloroso processo de reajuste moral e espiritual, que reconhece necessário à sua tranquilidade futura. As leis morais da consciência o obrigam, em seu próprio benefício, a essas purgações dolorosas, mas benéficas. Não se trata de uma hipótese, mas de uma realidade comprovada nas pesquisas científicas sobre a memória profunda, em busca de provas sobre a reencarnação, hoje grandemente acumuladas. No Espiritismo predominam a razão e a prova. Como observou Richet, Kardec nunca aceitou um princípio que não fosse lógico e comprovado pela pesquisa. Graças a isso, a doutrina se mantém intacta em face de toda a espantosa evolução científica do nosso tempo. Os maiores avanços da Ciência nada mais fizeram, até agora, do que comprovar os princípios fundamentais do Espiritismo.


Os Espíritos Terapeutas, como os médicos terrenos, não dispõem de saber absoluto, mas relativo ao seu grau de evolução. Trabalham geralmente em equipe, auxiliando-se mutuamente. O mais sábio e experiente dirige a equipe, exatamente como entre os homens. Qualquer interpretação sobrenatural da atividade natural dessas criaturas humanas leva-nos aos delírios, do mito, impedindo-nos de compreender a realidade dos fatos.


Os Espíritos curadores ou terapeutas não fazem milagres, não têm o poder de violar as leis naturais. Mas conhecem melhor essas leis do que os homens e dispõem de recursos que ainda desconhecemos. Por isso Jesus advertiu que os que seguissem o seu ensino poderiam fazer os supostos milagres que ele fazia e até mais do que ele. O problema não é de mística, mas de razão e sobretudo de conhecimento. Todo conhecimento é facultado ao homem, dentro das possibilidades progressivas do seu desenvolvimento espiritual. Conhece mais o que mais avançou no desenvolvimento das suas potencialidades ônticas, ou, como afirmou Kant, na realização de sua perfectibilidade possível. No sentido espiritual essa atualização das potencialidades de perfeição está ao alcance de todos, pois é inerente à natureza humana. Mas no sentido existencial terreno, essa atualização está condicionada ao grau de evolução atingido pelos esforços de cada indivíduo.


Do livro “O Espírito e o Tempo” - Herculano Pires


Sessões Mediúnicas – Parte III


Classificação - tipos de sessões mediúnicas


Sessões de desobsessão — Kardec classificou as obsessões em três tipos, segundo o grau de atuação do espírito e submissão da vítima: obsessão simples, fascinação e subjugação.


A obsessão simples pode ser tratada em sessões de doutrinação, sem maiores complicações. O obsedado é geralmente um médium em desenvolvimento, mas não sempre. Em muitos casos, uma vez esclarecido o espírito e o paciente se dedicando ao estudo e prática da doutrina, liberta-se e converte o obsessor em seu amigo e colaborador.


Mas a fascinação e a subjugação exigem tratamento mais intenso e restrito a pequeno grupo de trabalho, integrado por médiuns conscientes da responsabilidade e das dificuldades do serviço e dirigido por pessoas competentes e estudiosas. A cura pode ser obtida em poucos dias ou levar meses e até anos, com fases intermitentes de melhora e recaída. Só a insistência no trabalho desobsessivo e a vontade ativa do paciente no sentido de libertar-se podem apressar os resultados. A dificuldade maior está sempre na falta de vontade do paciente, acostumado à ligação obsessiva, numa situação ambivalente, em que ao mesmo tempo quer libertar-se mas continua apegado ao obsessor, sentindo sua falta quando ele se afasta e invocando-o inconscientemente.


Há obsessores que se consideram, com razão, obsedados pela sua vítima. Ideias, hábitos, tendências alimentadas pelo obsedado constituem elementos de atração para o obsessor. Nesses casos, o trabalho maior da desobsessão é com a própria vítima. Os dirigentes do trabalho precisam estar atentos, vigilantes quanto ao comportamento do obsedado, ajudando-o constantemente a reagir contra as influências do espírito e contra as suas próprias tendências e hábitos mentais. A mente do obsedado, nesses casos, é o pivô do processo. Ensinar-lhe a controlar e dominar sua mente pela vontade, com apoio no esclarecimento doutrinário, é o que mais importa. Do domínio da mente decorre naturalmente o domínio das emoções e dos sentimentos, que são por assim dizer os elementos de atração do espírito obsessor.


Nenhuma atitude exorcista, na tentativa de afastar o obsessor pela força ou através de ameaças dá resultados. A doutrinação é um trabalho paciente de amor. Deve-se compreender que estamos diante de casos de reconciliação de antigos desafetos, carregados de ódio e de cumplicidade mútua em atividades negativas. Todo e qualquer elemento material que se queira empregar — passes complicados, preces insistentes e demoradas, uso de objetos ou coisas semelhantes — tudo isso só servirá para prolongar o processo obsessivo. O importante é a persuasão amorosa, o esclarecimento constante de obsedado e obsessor.


O doutrinador é sempre auxiliado pela ação dos Espíritos sobre obsessor e obsedado. Todas as prescrições de medidas prévias a serem tomadas pelos membros da equipe de médiuns, como abstenção de carne, repouso antes do trabalho, abstenção de fumo e álcool, comportamento angélico durante o dia e assim por diante, não passam de prescrições secundárias. Os médiuns têm naturalmente o seu comportamento normal regidos por princípios morais e espirituais. Se não o tiverem, de nada valerão essas improvisações de santidade. Se o tiverem, não necessitam desses artifícios.


Como Kardec explica, a única autoridade que se pode ter sobre os espíritos é a de ordem moral, e o que vale no socorro espiritual não são medidas de última hora, mas a intenção pura de médiuns e doutrinadores, pois que o Espiritismo é uma questão de fundo e não de forma.


As medidas que se devem tomar, quando médiuns e doutrinadores não forem suficientemente esclarecidos, são apenas as precauções que o bom senso indica: não exceder-se na alimentação, na bebida, nos falatórios impróprios e maldosos no dia do trabalho. É necessário afastar os artifícios do religiosismo místico e as pretensões de importância pessoal no ato de doutrinar. Médiuns e doutrinadores são apenas instrumentos — conscientes, é claro — mas instrumentos dos Espíritos benevolentes que deles se servem na hora do trabalho. O mérito individual do cada um está apenas na boa intenção e no amor que realmente os anime no serviço fraterno.


É natural a tendência mística na prática mediúnica, proveniente do sentimento religioso do homem e dos resíduos do fanatismo religioso do passado, em que fomos cevados no medo ao sobrenatural e no anseio de salvação pessoal através de sacramentos e atitudes piegas. Mas temos de combater e eliminar de nós esses resíduos farisaicos e egoístas, tomando uma atitude racional e consciente nas relações com os espíritos, que ainda ontem eram nossos companheiros na existência terrena e que a morte não transformou em santos ou anjos.


O meio espírita está cheio de pregadores de voz untuosa e expressões místicas, tanto encarnados como desencarnados, mas a doutrina não nos indica o caminho do artifício e do fingimento e sim o das atitudes e posições naturais, sinceras e positivas, que não nos levem a cobrir com peles de ovelha nosso pêlo grosso de lobos. O povo se deixa atrair facilmente pelo maravilhoso, pelos milagres e milagreiros, mas os espíritos, que nos vêem por dentro, não se iludem com as farsas dos santarrões.


A criatura humana é o que é e traz em si mesma os germes do seu aperfeiçoamento, não segundo as convenções formais da sociedade ou das instituições de santificação, mas segundo as suas disposições internas. Uma criatura espontânea, natural, aberta, choca-se com os artifícios, as manhas e os dengos de pessoas modeladas pelos figurinos da falsidade. Os espíritos, mais do que nós, sentem logo o cheiro de perfume barato e ardido desses anjinhos de procissão, cujas asas se derretem com os pingos da chuva. O Espiritismo não veio para nos dar novas escolas de farisaísmo, mas para nos despertar o gosto da autenticidade humana.


Sabemos muito bem que nada valem as maneiras suaves, a voz macia e empostada, os gestos de ternura dramática, se não formos por dentro o que mostramos por fora. E é uma ilusão estúpida pensarmos que essa disciplina exterior atinge o nosso íntimo. Nosso esquema interior de evolução não cede aos modismos e às afetações do fingimento.


A moral não é produto do meio social, mas da consciência. Seus princípios fundamentais estão em nosso íntimo e não fora de nós. A moral exógena (exterior) vem dos costumes, mas a moral endógena (interior) nasce das exigências da nossa consciência. A ideia de Deus no homem é a fonte dessa moral interna que supera o moralismo superficial da sociedade.


Nas sessões de desobsessão o que vale não é o falso moralismo dos homens, mas a moral legítima do homem. Essa busca do natural, do legítimo, do humano, é a constante fundamental do Espiritismo.


Do livro “O Espírito e o Tempo” - Herculano Pires


Sessões Mediúnicas – Parte II


Classificação - tipos de sessões mediúnicas


Sessões de doutrinação — Precedidas sempre de uma prece, realizam-se à meia luz, para facilitar a concentração mental dos participantes. Essas características levam os adversários do Espiritismo a classificá-las como reuniões de magia ou de misticismo inferior. Na verdade são as mais úteis e necessárias, controladas por Espíritos caridosos que promovem a comunicação de entidades sofredoras e perturbadoras. Sua finalidade é esclarecer essas entidades e libertar as suas vítimas das perturbações que lhes causam. Não se evocam espíritos. As comunicações ficam a cargo do mundo espiritual.


Há dois tipos fundamentais:


- Sessões livres ou abertas: em que muitos espíritos se comunicam ao mesmo tempo e são doutrinados por vários doutrinadores. O ambiente parece tumultuado e muitas pessoas sistemáticas condenam esse sistema. É o mais eficiente e produtivo, o mais conveniente numa fase de transição como a nossa, em que os problemas de obsessão se multiplicam. São consideradas como de Pronto Socorro Espiritual, em que dezenas de doentes são socorridos ao mesmo tempo. O dirigente controla a ação dos médiuns e os Espíritos agem de duas maneiras, controlando o acesso dos espíritos necessitados e ajudando muitas vezes na doutrinação dos casos mais difíceis. Há barulho, muita gente falando ao mesmo tempo, mas não há desordem. Os espíritos mais rebeldes são controlados pelos médiuns devidamente instruídos e pela assistência espiritual. Não se submetem os médiuns a cursos complicados e longos, mas a instruções práticas e objetivas, que são de grande eficiência. O volume de pessoas atendidas e de espíritos beneficiados é grande, mas vai diminuindo na proporção em que o tempo do trabalho se esgota. São encerradas com uma prece de agradecimento, às vezes precedidas de breves explicações sobre os casos mais difíceis, já então num ambiente de absoluta tranquilidade.


- Sessões fechadas: é dirigido pelo presidente dos trabalhos, que submete as comunicações ao seu controle absoluto. As comunicações são reduzidas ao mínimo. Os médiuns não se deixam envolver pelas entidades sem que o presidente os autorize. Se ocorre uma comunicação demorada, vários médiuns permanecem inativos, à espera da sua vez. Não têm o sentido dinâmico de atendimento simultâneo num Pronto Socorro. Parecem-se mais a consultórios médicos em que os clientes têm hora marcada. Não obstante, produzem os seus resultados. Muitas entidades são doutrinadas 'indiretamente' assistindo à doutrinação de outras. Quando não se dispõe de médiuns e doutrinadores em número suficiente, esse sistema de controle fechado dá mais segurança ao presidente. Mas há a grande desvantagem de se colocar o presidente numa posição que lhe excita a vaidade e o autoritarismo. Os adeptos desse sistema apóiam-se nas instruções do Apóstolo Paulo em sua I Epístola aos Coríntios. Paulo, de formação judaica, aconselha o uso controlado dos dons espirituais, cada médium falando por sua vez. Acontece que são bem diferentes as condições do tempo apostólico e as de hoje. As sessões livres ou abertas atendem melhor às necessidades atuais.


Psicografia X Comunicação oral


Kardec, num país em que o analfabetismo não contava, dedicou maior interesse às sessões de psicografia. Mesmo porque essas sessões correspondiam às exigências de documentação de suas experiências. Em todo o mundo a psicografia ainda se mantém como uma forma mais eficiente de comunicação, pois permite a permanência dos textos para exames e comparações posteriores. Mesmo entre nós a psicografia tem um papel importante no desenvolvimento da doutrina, como se vê pelas contribuições de vários médiuns e particularmente da obra imensa e altamente significativa de Francisco Cândido Xavier. Mas nos centros e grupos espíritas populares, onde o analfabetismo está presente nos dois lados, com a manifestação de espíritos inferiores na maioria analfabetos, a psicografia se torna quase sempre impraticável. Essa a razão pela qual a preferência pelas sessões de comunicação oral se impôs.


Por outro lado, nas sessões de doutrinação e desobsessão a comunicação oral é mais valiosa, permitindo expressão mais completa do estado emocional e até mesmo patológico do espírito comunicante. Também a identificação do espírito se torna mais fácil, em geral com a evidência da voz, da mímica, dos modismos característicos da criatura que deixou o plano físico e no entanto retorna com todas as modalidades, tiques e trejeitos do seu corpo carnal desaparecido, o que comprova a identidade teórica do corpo somático com o corpo espiritual. Essa identidade não é constante, pois o espírito evolui no plano espiritual, mas a flexibilidade extrema da estrutura do perispírito permite a este voltar às condições anteriores numa comunicação com pessoas íntimas, seja pela vontade do espírito comunicante ou involuntariamente, pelas simples emoções desencadeadas no ato de aproximação do médium ou no ato de transmissão da comunicação.


As pessoas que não conhecem a doutrina e não dispõem de experiência na prática mediúnica sentem-se intrigadas com esses problemas. Como aconselhava Kardec, é conveniente não participarem de sessões sem terem lido obras esclarecedoras ou pelo menos recebido explicações de pessoa competente. Mas exigir que pessoas obsedadas ou médiuns em franco desenvolvimento tenham de frequentar cursos de vários anos para poderem frequentar as sessões de que necessitam, como fazem algumas instituições, é simplesmente um absurdo que raia pela falta de caridade.


Do livro “O Espírito e o Tempo” - Herculano Pires


Sessões Mediúnicas – Parte I


Introdução


As sessões mediúnicas propriamente ditas são as que se destinam à relação normal dos homens com os espíritos para fins de esclarecimento e orientação. A expressão paranormal, adotada e divulgada pela Parapsicologia, não se aplica ao campo espírita. Foi criada para substituir as expressões sobrenatural e patológica, das religiões e ciências do passado. No Espiritismo sabemos que as manifestações mediúnicas são ocorrências normais, que se verificaram desde todos os tempos, e mais, que essas ocorrências são de vários graus, desde a simples percepção extra-sensorial até às aparições, às materializações ou fenômenos de ectoplasmia (segundo a definição metapsíquica) e aos fenômenos de agêneres, bem definidos por Kardec. Nossas relações com os espíritos são constantes e naturais, tanto se passam no plano puramente mental, quanto no psíquico em geral e no plano sensorial. A comunicação mediúnica oral, escrita, tiptológica (através de pancadas ou raps), voz-direta (ou psicofonia subjetiva ou objetiva), como esclareceu Kardec, ocorre normalmente. A mente do desencarnado, como verificou em nosso tempo o cientista Wathely Carington, da Universidade de Cambridge, Inglaterra, é a mesma do homem, do espírito encarnado.

Como os espíritos são, segundo Kardec, “uma das forças da Natureza”, e convivem conosco, como os micróbios, os vírus, suas relações conosco são evidentemente normais, fazem parte do complexo de fenômenos da existência humana natural. O critério do normal e do anormal não decorre de normas estabelecidas pelos homens, mas da naturalidade dos fatos no equilíbrio das leis naturais. A loucura é anormal porque é um desequilíbrio. Nos fenômenos mediúnicos as leis naturais foram definidas por Kardec e posteriormente confirmadas pelas pesquisas científicas em todo o mundo. Os que pretenderam teorizar sobre a chamada loucura espírita só conseguiram revelar sua ignorância do assunto ou sua má-fé a serviço de interesses mesquinhos de sectarismos bastardos.

Desde a selva até a civilização, os fenômenos mediúnicos se verificam em todos os tempos, como um processo normal de comunicações entre homens e espíritos. Como esse processo se passa entre mundos de dimensões materiais diferentes, Rhine concordou em chamá-los de extrafísicos, o que na verdade não está certo, pois o plano espiritual também possui densidade física e a própria Física foi obrigada a reconhecer essa realidade em nossos dias. É graças a essa identidade física que o espírito desencarnado, mas ainda revestido do corpo espiritual da tradição cristã (classificado na pesquisa soviética como corpo bioplásmico, formado de plasma físico) consegue relacionar-se energeticamente com o corpo denso do médium e comunicar-se com os homens. O que se chama de mediunidade não é mais do que a possibilidade menor ou maior desse relacionamento, na verdade existente em todos os indivíduos humanos. O ato mediúnico é, portanto, um ato de relacionamento humano, em que o sobrenatural só pode figurar como antiga superstição reavivada por pessoas cientificamente incapazes ou pelo menos desatualizadas.

A expressão médium (intermediário) adotada por Kardec, é a mais apropriada, estando por isso mesmo generalizada em nossos dias, sendo empregada até mesmo nas ciências soviéticas. Expressões como sensitivos, psicorrágigos metérgicos e outras servem apenas para denunciar posições contrárias ao Espiritismo. Mas o médium não é apenas o intermediário dos espíritos de pessoas mortas. O médium é também o intermediário de si mesmo, dos extratos profundos de sua personalidade anímica, da consciência subliminar da teoria de Frederic Myers. As manifestações anímicas dos médiuns não são mistificações, mas catarses necessárias para aliviá-lo de tensões conflitivas de sua memória profunda que perturbam o seu comportamento atual. Os fenômenos de vidência, visão à distância, precognição e outros são também mediúnicos, pois constituem manifestações de entidades subsistentes no psiquismo ancestral do médium ou o desencadear de percepções contidas nas hipóstases reencarnatórias da sua consciência subliminar.

Alguns estudiosos ainda discutem se a mediunidade é uma faculdade orgânica ou espiritual. Outros, mais afoitos e menos cuidadosos, chegam a afirmar que é uma faculdade do corpo. Basta a descrição de Kardec sobre o ato mediúnico para mostrar que a faculdade é espiritual. As pesquisas científicas modernas não deixam nenhuma possibilidade de dúvida a respeito. O espírito comunicante não se liga ao corpo material do médium, mas ao seu perispírito (o corpo espiritual) ou de maneira direta à sua mente, que, segundo Rhine e outros “não é física”.

Podemos reduzir a explicação da mediunidade numa frase: “Mediunidade é a capacidade do espírito desprender-se parcial ou totalmente do corpo, sem dele se desligar”. Desprende-se o espírito para estabelecer relações com outros espíritos ou projetar-se à distância, mas não se desliga, pois o desligamento só ocorre no fenômeno da morte. Na própria ausência psíquica de curta duração, em meio a uma conversa, quando se diz: Não ouvi o que você falou, pois meu espírito estava longe, temos um fato mediúnico. Graças a essa possibilidade, inerente à condição humana, os espíritos de pessoas vivas podem também comunicar-se.


Do livro “O Espírito e o Tempo” - Herculano Pires


A ideia de Deus




Viviam, num edifício de sete andares, moradores cujos olhos jamais tinham contemplado a luz do sol, a não ser através das vidraças diversamente coloridas de cada pavimento. Encerrados nos limites de seu pequeno mundo, cada qual fazia uma ideia diferente quanto à cor da luz solar. Os moradores do primeiro pavimento diziam que era vermelha, porque vermelhos eram os vidros, através dos quais se habituaram a vê-la.


Os do segundo pavimento diziam, por sua vez, que era alaranjada, porque alaranjados eram os vidros pelos quais ela diariamente se filtrava.


Os do quarto, diziam que era verde. Os do quinto, azul. Os do sexto, anil e os do sétimo diziam que era violeta.


Certo dia, porém, um morador mais inteligente e indagador resolveu sair do edifício e, surpreendido com a luz do sol, que lá no alto se decompunha na policromia do arco-íris, compreendeu logo que cada morador havia apreendido somente uma parcela da verdade.


Tudo se passava exatamente como se cada um deles, em seu próprio pavimento, tivesse a visão limitada a uma faixa apenas, dentre as sete faixas luminosas do espectro solar.


A luz do sol era realmente da cor sob que cada qual a tinha visto, mas era também muito mais do que isso: era a síntese das sete cores.


Assim como cada morador via o Sol, assim também cada criatura humana vê Deus.


Situado em diferentes faixas da evolução, cada um O verá sob um aspecto diferente, segundo a diversa coloração de seu entendimento.


Chegará, no entanto, um dia em que a criatura transcenderá os augustos limites de seu mundo e compreenderá Deus, em sua essência, na síntese de seus atributos.



De “O Primado do Espírito” - Rubens Costa Romanelli

Retirado do blog Irmãos Fraternos


A dor e a evolução dos animais




O saudoso escritor Carmo Bernardes considerava muito importante a presença de animais domésticos numa casa, em contato com as crianças.


Assim, elas crescem amando e respeitando os bichos, porque aprendem que eles sofrem tanto quanto nós mesmos - dizia o sábio regionalista.


Por que sofrem os animais? Eis aí um tema a exigir muitos e profundos estudos, aos quais a Doutrina Espírita oferece os primeiros fundamentos.


Agora mesmo, com o mal da vaca louca nas manchetes da imprensa, ficamos nos perguntando o motivo dessas epidemias que dizimam milhares e até milhões de bovinos.


A chave para a explicação pode estar no abate desenfreado de gado para alimentação humana. Ainda sem livre arbítrio, a alma animal tem necessidade do aprimoramento, num processo reencarnatório estabelecido pela Natureza. O homem o interrompe violentamente e a resposta é a doença coletiva, porque o equilíbrio natural foi abruptamente partido.


A alma animal já possui, em maior ou menor quantidade, uma relativa liberdade, e mantém a individualidade depois da morte. Ainda sem livre arbítrio, contudo, ela não dispõe da faculdade de escolha desta ou daquela espécie para renascer. Seu espírito progride, reencarnando em corpos cada vez mais capazes de lhe favorecerem condições para as primícias do raciocínio acima do instinto.


Entre o espírito do homem e os espíritos dos animais, todavia, a distância é quase do tamanho da existente entre Deus e o homem. É um mistério que a mente humana só muito lentamente aclarará.


A alma animal, que já passou pelo reino mineral, onde a individualidade não existe, evoluiu através do reino vegetal e um dia iniciará a longa caminhada da espécie humana em direção à angelitude.


Mas é muito difícil raciocinar nesses termos devido ao ranço das religiões sectárias, ao orgulho, pretensão, vaidade e egoísmo próprios da espécie humana. O egocentrismo persiste até hoje e é ele quem impede à esmagadora maioria das pessoas aceitar a existência do vida em outros planetas, embora Jesus tenha afirmado, há dois mil anos, que a casa do Pai tem muitas moradas.


Discípulo de Herbert Spencer, Ernesto Bozzano trouxe da escola positivista o hábito de se apoiar no fato para dele tirar conclusões. Seu audacioso livro 'Os animais têm alma?' Produzido na primeira metade do século XX, é fruto de pesquisas sérias realizadas em 130 casos de aparições e outros fenômenos supranormais com animais.


No prefácio da edição brasileira de sua obra, Francisco Klors Werneck lamenta que, geralmente preocupados com outros problemas, os homens não dêem atenção a seus irmãos inferiores, aos grandes e pequenos seres da criação como cavalos, cães, gatos e outros, “como se eles também não tivessem alma, não possuíssem sentimentos afetivos e mesmo faculdades surpreendentes.”


Ele cita que alguns animais percebem a morte próxima, como cavalos e bois que se recusam a entrar no matadouro, advertidos, ninguém sabe como, do que os espera lá dentro. Animais, como os cães, se deixam morrer depois da morte de seus donos, tal a desesperada saudade que sentem deles. Um famoso cavalo de corrida se tornou de tal afeição por uma cabra que não aceitava se separar dela.


'Os animais têm alma?' Dá a entender que os cães podem ser a espécie mais evoluída na escala animal. Relata o fato surpreendente do cão que avançou ferozmente contra outro e parou sem o agredir, ao verificar que era cego. Outro, mais extraordinário ainda, do cirurgião que tratou, em sua própria casa, de um cachorro que tivera a pata esmagada. Passados doze meses, o médico ouviu estranhos arranhões na porta da rua, abriu-a e espantou-se. O cão que curara um ano antes lhe trazia um companheiro com a pata esmagada.


Fato parecido é comum na Cavalaria da Polícia Militar do Estado de Goiás, em Goiânia, onde cavalos com dor de barriga procuram por conta própria o consultório do veterinário, segundo nos contou o doutor Francisco Godinho, que ali trabalha há muitos anos.


Há uma página admirável de Emmanuel, intitulada Animais em sofrimento, na qual ele analisa o que parece injustiça: os animais, isentos da lei de causa e efeito, sem culpas a expiar por serem irracionais, padecerem sacrifícios e dores neste mundo.


O notável instrutor espiritual de Francisco Cândido Xavier considera, em primeiro lugar, ser necessário interpretar o sofrimento por mais altos padrões de entendimento. Ninguém sofre tão-somente para resgatar o preço de alguma coisa. Sofre-se também angariando recursos preciosos para a obter. Assim é que o animal atravessa longas eras de prova a fim de domesticar-se, tanto quanto o homem atravessa outras tantas longas eras para se instruir.


Nenhum espírito obtém elevação ou cultura por osmose, mas unicamente através do trabalho paciente e intransferível.


O animal, igualmente, para chegar à auréola da razão, deve conhecer benemérita e cumprida fieira de experiências que terminarão por lhe conferir a posse definitiva do raciocínio. Sem sofrimento, não há progresso.


Todo ser, criado por Deus simples e ignorante, é compelido a lutar pela conquista da razão, para em seguida a burilar. Dor física no animal é passaporte para mais amplos recursos nos domínios da evolução. Dor física no homem, acrescida de dor moral, é fixação de responsabilidade em trânsito para a Vida Maior.


Toda criatura caminha para ser anjo: investida na posição de espírito sublime, livra-se da dor, porque o amor lhe será sol no coração, dissipando as sombras ao toque da sua própria luz.


Jávier Godinho

Revista Espírita Allan Kardec – nº48


Artigo presente no site Panorama Espírita e no blog Estudando Espiritismo


* * *

Os animais dividem conosco o privilégio de terem uma alma.” (Pythagoras)


Um criminoso arrependido

A 3 de janeiro de 1857, Mons. Sibour, arcebispo de Paris, ao sair da Igreja de Saint-Étienne-du-Mont, foi mortalmente ferido por um jovem padre chamado Verger.


O criminoso foi condenado à morte e executado a 30 de janeiro. Até o último instante não manifestou qualquer sentimento de pesar, de arrependimento, ou de sensibilidade.


Evocado no mesmo dia da execução, deu as seguintes respostas:


1. Evocação.


R. Ainda estou preso ao corpo.


2. Então a vossa alma não está inteiramente liberta?


R. Não... tenho medo... não sei... Esperai que torne a mim. Não estou morto, não é assim?


3. Arrependei-vos do que fizestes?


R. Fiz mal em matar, mas a isso fui levado pelo meu caráter, que não podia tolerar humilhações... Evocar-me-eis de outra vez.


4. Por que vos retirais?


R. Se o visse, muito me atemorizaria, pelo receio de que me fizesse outro tanto.


5. Mas nada tendes a temer, uma vez que a vossa alma está separada do corpo. Renunciai a qualquer inquietação, que não é razoável agora.


R. Que quereis? Acaso sois senhor das vossas impressões? Quanto a mim, não sei onde estou... estou doido.


6. Esforçai-vos por ser calmo.


R. Não posso, porque estou louco... Esperai, que vou invocar toda a minha lucidez.


7. Se orásseis, talvez pudésseis concentrar os vossos pensamentos...


R. Intimido-me... não me atrevo a orar.


8. Orai, que grande é a misericórdia de Deus! Oraremos convosco.


R. Sim; eu sempre acreditei na infinita misericórdia de Deus.


9. Compreendeis melhor, agora, a vossa situação?


R. Ela é tão extraordinária que ainda não posso apreendê-la.


10. Vedes a vossa vítima?


R. Parece-me ouvir uma voz semelhante à sua, dizen-do-me: Não mais te quero... Será, talvez, um efeito da imaginação!... Estou doido, vo-lo asseguro, pois que vejo meu corpo de um lado e a cabeça de outro... afigurando-se-me, porém, que vivo no Espaço, entre a Terra e o que denominais céu... Sinto como o frio de uma faca prestes a decepar-me o pescoço, mas isso será talvez o terror da morte... Também me parece ver uma multidão de Espíritos a rodear-me, olhando-me compadecidos... E falam-me, mas não os compreendo.


11. Entretanto, entre esses Espíritos há talvez um cuja presença vos humilha por causa do vosso crime.


R. Dir-vos-ei que há apenas um que me apavora o daquele a quem matei.


12. Lembrai-vos das anteriores existências?


R. Não; estou indeciso, acreditando sonhar... Ainda uma vez, preciso tornar a mim.


(Três dias depois.)


13. Reconhecei-vos melhor agora?


R. Já sei que não mais pertenço a esse mundo, e não o deploro. Pesa-me o que fiz, porém meu Espírito está mais livre. Sei a mais que há uma série de encarnações que nos dão conhecimentos úteis, a fim de nos tornarmos tão perfeitos quanto possível à criatura humana.


14. Sois punido pelo crime que cometestes?


R. Sim; lamento o que fiz e isso faz-me sofrer.


15. Qual a vossa punição?


R. Sou punido porque tenho consciência da minha falta, e para ela peço perdão a Deus; sou punido porque reconheço a minha descrença nesse Deus, sabendo agora que não devemos abreviar os dias de vida de nossos irmãos; sou punido pelo remorso de haver adiado o meu progresso, enveredando por caminho errado, sem ouvir o grito da própria consciência que me dizia não ser pelo assassínio que alcançaria o meu desiderato. Deixei-me dominar pela inveja e pelo orgulho; enganei-me e arrependo-me, pois o homem deve esforçar-se sempre por dominar as más paixões, o que aliás não fiz.


16. Qual a vossa sensação quando vos evocamos?


R. De prazer e de temor, por isso que não sou mau.


17. Em que consiste tal prazer e tal temor?


R. Prazer de conversar com os homens e poder em parte reparar as minhas faltas, confessando-as; e temor, que não posso definir - um quê de vergonha por ter sido um assassino.


18. Desejais reencarnar na Terra?


R. Até o peço e desejo achar-me constantemente exposto ao assassínio, provando-lhe o temor.


* * *

A situação de Verger, ao morrer, é a de quase todos os que sucumbem violentamente. Não se verificando bruscamente a separação, eles ficam como aturdidos, sem saber se estão mortos ou vivos. A visão do arcebispo foi-lhe poupada por desnecessária ao seu remorso; mas outros Espíritos, em circunstâncias idênticas, são constantemente acossados pelo olhar das suas vítimas.


Monsenhor Sibour, evocado, disse que perdoava ao assassino e orava para que ele se arrependesse. Disse mais que, posto estivesse presente à sua evocação, não se lhe tinha mostrado para lhe não aumentar os sofrimentos, porquanto o receio de o ver já era um sintoma de remorso, era já um castigo.



Do livro “O Céu e o Inferno” - Allan Kardec

(2a. Parte - Cap. VI - Ed. FEB)