Ressonâncias do Natal


Na paisagem fria e sem melhor acolhimento, a única hospedaria à disposição era a gruta modesta onde se guardavam os animais.

Não havia outro lugar que O pudesse receber.

O mundo, repleto de problemas e de vidas inquietas, preocupava-se com os poderosos do momento e reservava distinções apenas para os que se refestelavam no luxo, bem como no prazer.

Aos simples e desataviados sempre se dedicavam a indiferença, o desrespeito, fechando-lhes as portas, dificultando-lhes os passos.

Mas hoje, tudo permanece quase que da mesma forma.

Não obstante, durante aquela noite de céu transparente e estrelado, entre os animais domésticos, em uma pequena baia, usada como berço acolhedor, nasceu Jesus, que transformou a estrebaria num cenário de luzes inapagáveis que prosseguem projetando claridade na noite demorada dos séculos, em quase dois mil anos...

Inaugurando a era da humildade e da renúncia, Jesus elegeu a simplicidade, a fim de ensinar engrandecimento íntimo como condição única para a felicidade real.

O Seu reino, que então se instalou naquela noite de harmonias cósmicas, permanece ensejando oportunidades de redenção a todos quantos se resolvam abrigar nas suas dependências.

E o Seu nascimento modesto continua produzindo ressonâncias históricas, antes jamais previstas.

Homens e mulheres, que tomaram contato com Sua notícia e mensagem, transformaram-se, mudando-se-lhes o roteiro de vida e o comportamento, convertendo-se, a partir de então, em luzeiros que apontam rumos felizes para a Humanidade.

* * *

Guerreiros triunfadores passaram pelo mundo desde aquela época, inumeráveis.

Governantes poderosos estabeleceram reinos e impérios, que pareciam preparados para a eternidade, e ruíram dolorosamente.

Artistas e técnicos, de rara beleza e profundo conhecimento, criaram formas e aparelhagens sofisticadas para tornarem a Terra melhor, e desapareceram.

Ditadores indomáveis e aristocratas incomuns surgiram no proscênio terrestre, envergando posição, orgulho e superioridade, que o túmulo silenciou.

...Estiveram, por algum tempo, deixando suas pegadas fortes, que tornaram alguns odiados, outros rechaçados e sob o desprezo das gerações posteriores.

Jesus, porém, foi diferente.

Incompreendido, o Cantor do Amor aceitou a cruz, para não anuir com o crime, e abraçou a morte para não se mancomunar com os mortos.

Por isso, ressurgiu, em triunfo e grandeza, permanecendo o Ser mais perfeito que jamais esteve na Terra, como modelo que Deus nos ofereceu para Guia.


* * *

Quando a Humanidade experimenta dores superlativas, quando a miséria sócio-econômica assassina milhões de vidas que estertoram ao abandono; quando enfermidades cruéis demonstram a fragilidade orgânica das criaturas; quando a violência enlouquece e mata; quando os tóxicos arruinam largas faixas da juventude mundial, ao lado de outros males que atestam a falência do materialismo, ressurge a figura impoluta de Jesus, convidando à reflexão, ao amor e à paz, enquanto as ressonâncias do Seu Natal falam em silêncio: Ele, que tem salvo vidas incontáveis, pede para que tentes fazer algo, amando e libertando do erro pelo menos uma pessoa.

Lembrando-te d'Ele, na noite de Natal, reparte bondade, insculpe-O no coração e na mente, a fim de que jamais te separes d'Ele.


Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis

Da obra: 'Momentos Enriquecedores' - Divaldo Pereira Franco


Sensações Humanas



Pergunta – Como devemos conceituar o sonho?

Emmanuel - Na maioria das vezes, o sonho constitui atividade reflexa das situações psicológicas do homem no mecanismo das lutas de cada dia; quando as forças orgânicas dormitam em repouso indispensável.

Em determinadas circunstâncias, contudo, como nos fenômenos premonitórios, ou nos de sonambulismo, em que a alma encarnada alcança elevada porcentagem de desprendimento parcial, o sonho representa a liberdade relativa do espírito prisioneiro da Terra, quando, então, se poderá verificar a comunicação inter vivos, e, quanto possível, as visões proféticas, fatos esses sempre organizados pelos mentores espirituais de elevada hierarquia, obedecendo a fins superiores, e quando o encarnado em temporária liberdade pode receber a palavra e a influência diretas de seus amigos e orientadores do plano invisível.


Pergunta – A vocação é uma lembrança das existências passadas?

Emmanuel - A vocação é o impulso natural oriundo da repetição de análogas experiências, através de muitas vidas. Suas características, nas disposições infantis, são o testemunho mais eloquente da verdade reencarnacionista.


Pergunta – A loucura é sempre uma prova?

Emmanuel - O desequilíbrio mental é sempre uma provação difícil e dolorosa. Essa realidade, contudo, podendo representar o resgate de uma dívida do pretérito escabroso e desconhecido pode, igualmente, constituir uma resultante da imprevidência de hoje, no presente que passa, fazendo necessária, acima de todas as exortações, aquela que recomenda a oração e a vigilância.


Pergunta – A alucinação é fenômeno do cérebro ou do espírito?

Emmanuel - A alucinação é sempre um fenômeno intrinsecamente espiritual, mas pode nascer de perturbações estritamente orgânicas, que se façam reflexas no aparelho sensorial, viciando o instrumento dos sentidos, por onde o espírito se manifesta.


Pergunta – Os bons ou maus pensamentos do ser encarnado afetam a organização psíquica de seus irmãos na Terra, aos quais sejam dirigidos?

Emmanuel - Os corações que oram e vigiam, realmente, de acordo com as lições evangélicas, constroem a sua própria fortaleza, para todos os movimentos de defesa espontânea.

Os bons pensamentos produzem sempre o máximo bem sobre aqueles que representam os seus objetivos, por se enquadrarem na essência da Lei Única, que é o Amor em todas as suas divinas manifestações; os de natureza inferior podem afetar o seu objeto, em identidade de circunstâncias, quando a criatura se faz credora desses choques dolorosos, na justiça das compensações.

Sobre todos os feitos dessa natureza, todavia, prevalece a Providência Divina, que opera a execução de seus desígnios de equidade, com misericórdia e sabedoria.


Da obra “O Consolador” (Parte I)

Pelo Espírito Emmanuel

Psicografia de Francisco Cândido Xavier



Permanente Natal



Ele nasceu em uma estrebaria, oculto aos olhos dos poderosos de Sua época.

Teve Seu nascimento anunciado aos simples, que traziam os corações preparados para O receber.

A orquestra dos céus se fez presente e a ópera dos mensageiros celestiais O anunciou a quem tivesse ouvidos de ouvir.

Jesus! Ninguém que O igualasse.

Alto e belo, chamava a atenção por onde transitasse. Os trigais se dobravam à Sua passagem e os ventos iam à frente, anunciando-Lhe a chegada.

Por onde passou, deixou indelével o Seu perfume. Não conduzia guerreiros, nem serviçais pomposos.

A voz do povo O anunciava e Seus cantos chegavam aos ouvidos de todos, mesmo daqueles que pretendiam se fazerem surdos.

Sua mensagem atingia os corações e, como hábil agricultor, semeou a esperança e a fé nos terrenos mais áridos.

Rei das estrelas e Governador do Mundo, fez-Se simples e evidenciou à saciedade a importância das coisas pequenas, dos serviços humildes.

Ele próprio serviu na carpintaria, modelando formas na madeira. E, mais tarde, servindo-Se de uma toalha e água, lavou os pés dos Seus apóstolos.

Tomou de um grão de mostarda e o fez símbolo da fé que move montanhas.

Utilizou-Se da água pura, jorrada das fontes cristalinas, para falar da água que sacia a sede para todo o sempre.

Tomou do pão e o multiplicou, simbolizando a doação da fraternidade que atende o irmão onde esteja, e com ele reparte o pouco que tem.

Falou de tesouros ocultos e de moedas perdidas. Recordou das profissões menos lembradas e as utilizou como exemplo, Ele mesmo denominando-Se o Bom Pastor, que conhece as Suas ovelhas.

Ninguém jamais O superou na poesia, na profundidade do ensino, na doce entonação da voz, cantando o poema das bem-aventuranças, no palco sublime da natureza.

Simples, mostrava Sua sabedoria em cada detalhe, exemplificando que os grandes não necessitam de ninguém que os adjetive, senão sua própria condição.

Conviveu com os pobres, os deserdados, os considerados párias da sociedade, tanto quanto visitou e privou da amizade de senhores amoedados e de poder.

Sempre nobre, porém simples e humilde.

Agora, que o Natal canta alegrias aos corações, mais do que nunca, se pode ouvir-Lhe a voz doce, convidando ao amor.

E, por isso mesmo, as criaturas se movimentam de forma mais intensa e se doam. São brindes, presentes, alimentos e agasalhos.

É o próprio ser que esquece de si e se doa. Doa as horas do seu dia. Com um sorriso nos lábios, abre os braços e agasalha o outro no próprio coração.

Depõem-se as armas. Silenciam-se os combates. Faz-se paz nos campos de batalha da intimidade e do Mundo.

Tudo porque o aniversário Dele se aproxima. E, embora ainda infantis na arte de amar, todos podemos sentir que Ele se faz mais presente, porque abrimos o nosso cofre do sentimento e Lhe permitimos penetrar.

São dias de felicidade os que vivemos no Natal. Tudo em nome de um Homem e de Sua mensagem.

Ah, Jesus! Como seria bom se, de uma vez para sempre, todos pudéssemos Te entender e fazer Natal permanente em nossas vidas.


Redação do Momento Espírita


Privações Voluntárias




Privações Voluntárias - Mortificações


Pergunta - As privações voluntárias, com vistas a uma expiação igualmente voluntária, têm algum mérito aos olhos de Deus?


Resposta dos Espíritos - Fazei o bem aos outros e tereis maior mérito.


Pergunta - Há privações voluntárias que sejam meritórias?


Resposta dos Espíritos - Sim, a privação dos prazeres inúteis, porque liberta o homem da matéria e eleva sua alma. O meritório é resistir à tentação que vos convida aos excessos e ao gozo das coisas inúteis; é retirar do necessário para dar aos que não têm o bastante. Se a privação nada mais for que um fingimento, será apenas uma zombaria.


Pergunta - A vida de mortificação ascética tem sido praticada desde toda a Antiguidade e nos diferentes povos; é ela meritória sob algum ponto de vista?


Resposta dos Espíritos - Perguntai a quem ela aproveita e tereis a resposta. Se não serve senão ao que a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísta, qualquer que seja o pretexto sob o qual se disfarce. Submeter-se a privações no trabalho pelos outros é a verdadeira mortificação, de acordo com a caridade cristã.


Do “Livro dos Espíritos” – Allan Kardec (Livro Terceiro – As Leis Morais – Cap. 5 – Lei de Conservação / Item V – Privações Voluntárias / Mortificações)


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Vida de Isolamento - Voto de Silêncio


Pergunta - O que pensar dos homens que vivem em reclusão absoluta para fugirem ao contato pernicioso do mundo?


Resposta dos Espíritos - Duplo egoísmo.


Pergunta - Mas se esse retraimento tiver por fim uma expiação, com a imposição de penosa renúncia, não é meritório?


Resposta dos Espíritos - Fazer maior soma de bem do que de mal, essa é a melhor expiação. Com esse retraimento, evitando o mal, o homem cai em outro, pois esquece a lei de amor e caridade.


Pergunta - Que pensar dos que fogem do mundo para se devotarem ao amparo dos infelizes?


Resposta dos Espíritos - Esses se elevam, rebaixando-se. Têm o duplo mérito de se colocarem acima dos prazeres materiais e de fazerem o bem pelo cumprimento da lei do trabalho.


Pergunta - E os que procuram no retiro a tranquilidade necessária a certos trabalhos?


Resposta dos Espíritos - Esse não é o retiro absoluto do egoísta; eles não se isolam da sociedade, pois trabalham para ela.


Pergunta - Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas desde a mais remota Antiguidade?


Resposta dos Espíritos - Perguntai antes se a palavra é faculdade natural e por que Deus a concedeu. Deus condena abuso e não o uso das faculdades por ele concedidas. Não obstante, o silêncio é útil porque no silêncio te recolhes; teu espírito se torna mais livre e pode então entrar em comunicação conosco. Mas o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida, os que consideram essas privações voluntárias como atos de virtude, têm boa intenção, mas se enganam por não compreenderem suficientemente as verdadeiras leis de Deus.


Comentário de Kardec - O voto de silêncio absoluto, da mesma maneira que o voto de isolamento, priva o homem das relações sociais que lhe podem fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso.


Do “Livro dos Espíritos” – Allan Kardec (Livro Terceiro – As Leis Morais – Cap. 7 – Lei de Sociedade / Item II – Vida de Isolamento / Voto de Silêncio)


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Como conseguiremos ajudar a Humanidade, simplesmente orando? Companheiros admiráveis organizam pousos solitários, desfiguram-se, atormentam-se e crêem auxiliar, por esse modo, a obra de redenção humana.

Mas se devêssemos procurar a tranquilidade própria, a fim de servir ao Criador, por que motivo teria Jesus vindo até nós, partilhando conosco o pão da vida?

Em que luta condecorar-se-á o soldado que desiste do combate? Em que país haverá colheita valiosa para o lavrador que nada mais faz que contemplar a terra, a pretexto de amá-la? Como semear o trigo, sem contato com o solo?

Como plantar o bem, entre as criaturas, sem suportar o assédio da miséria e da ignorância? Não podemos admitir salvação sem a intimidade daquele que salva com aquele que se encontra desviado ou perdido.


Edição de texto retirado do livro “Ave, Cristo!” – Autoria Espiritual de Emmanuel / Psicografia de Francisco Cândido Xavier



Suicídio e autocastigo



Suicídio, não pense nisso

Nem mesmo por brincadeira...

Um ato desses resulta

Na dor de uma vida inteira.


Por paixão, Quím afogou-se

Num poço de Guararema.

Renasceu em provação

Atolado no enfisema.


Matou-se com tiro certo

A menina Dilermanda.

Voltou em corpo doente,

Não fala, não vê nem anda.


Pôs fogo nas próprias vestes

Dona Cesária da Estiva...

Está de novo na Terra

Num corpo que é chaga viva.


Suicidou-se à formicida

Maricota da Trindade...

Voltou... Mas morreu de câncer

Aos quatro meses de idade.


Enforcou-se o Columbano

Para mostrar rebeldia...

De volta, trouxe a doença

Chamada paraplegia.


Queimou-se com gasolina

Dona Lília Dagele.

Noutro corpo sofre sarna

Lembrando fogo na pele.


Tolera com paciência

Qualquer problema ou pesar;

Não adianta morrer,

Adianta é se melhorar.


(Cornélio Pires)


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Deus não castiga o suicida, pois é o próprio suicida quem se castiga. A noção do castigo divino é profundamente modificada pelo ensino espírita. Considerando-se que o Universo é uma estrutura de leis, uma dinâmica de ações e reações em cadeia, não podemos pensar em punições de tipo mitológico após a morte. Mergulhado nessa rede de causas e efeitos, mas dotado do livre arbítrio que a razão lhe confere, o homem é semelhante ao nadador que enfrenta o fatalismo das correntes de água, dispondo de meios para dominá-las.


Ninguém é levado na corrente da vida pela força exclusiva das circunstâncias. A consciência humana é soberana e dispõe da razão e da vontade para controlar-se e dirigir-se. Além disso, o homem está sempre amparado pelas forças espirituais que governam o fluxo das coisas. Daí a recomendação de Jesus: “Orai e vigiai”. A oração é o pensamento elevado aos planos superiores – a ligação do escafandrista da carne com os seus companheiros da superfície – e a vigilância é o controle das circunstâncias que ele deve exercer no mergulho material da existência.


O suicida é o nadador apavorado que se atira contra o rochedo ou se abandona à voragem das águas, renunciando ao seu dever de vencerias pela força dos seus braços e o poder da sua coragem, sob a proteção espiritual de que todos dispomos.


A vida material é um exercício para o desenvolvimento dos poderes do espírito. Quem abandona o exercício por vontade própria está renunciando ao seu desenvolvimento e sofre as consequências naturais dessa opção negativa. Nova oportunidade lhe será concedida, mas já então ao peso do fracasso anterior.


Cornélio Pires, o poeta caipira de Tietê, responde à pergunta do amigo através de exemplos concretos que falam mais do que os argumentos. Cada uma de nossas ações provoca uma real, o da vida. A arte de viver consiste no controle das nossas ações (mentais, emocionais ou físicas) de maneira que nós mesmos nos castigamos ou nos premiamos. Mas mesmo no autocastigo não somos abandonados por Deus que vela por nós em nossa consciência.


(Irmão Saulo)


Textos retirados do livro “Astronautas do Além”, de Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires - Espíritos diversos.



Ajuda-te Hoje



Sim, nas leis da reencarnação, quase todos nós, os filhos da Terra, temos o passado a resgatar, o presente a viver e o futuro a construir.


Lembremo-nos, assim, de que, nas concessões da Providência Divina, o nosso mais precioso lugar de trabalho chama-se “AQUI” e o nosso melhor tempo chama-se “AGORA”.


Detenhamo-nos, por isso, na importância das horas de HOJE.


Ontem, perturbação - Hoje, reequilíbrio;


Ontem, a incompreensão - Hoje, o entendimento;


Ontem, o desperdício - Hoje, a parcimônia;


Ontem, a ociosidade - Hoje, a diligência;


Ontem, a sombra - Hoje, a luz;


Ontem, o arrependimento - Hoje, a reconstrução;


Ontem, a violência - Hoje, a harmonia;


Ontem, o ódio - Hoje, o Amor.


Diz-nos a sabedoria de todos os tempos - “ajuda-te que o céu te ajudará” - afirmativa sublime que nos permitimos parafrasear, acentuando:


“Ajuda-te hoje, que o céu te ajudará sempre”.


André Luiz
Livro: 'Coragem' - Francisco Cândido Xavier


Sessões Mediúnicas – Parte V


Classificação - tipos de sessões mediúnicas


Sessões de consulta — As sessões de consulta são as mais antigas da prática espírita, muito anteriores à elaboração da doutrina. Marcaram profundamente os tempos mitológicos, prolongando-se nos tempos bíblicos na fase medieval. A trípode mágica dos oráculos e das pitonisas, a mesinha de três pés, que ressurgiria na era moderna com a dança das mesas, é a antecessora remota da gueridon francesa, da mesinha de três pés dos salões parisienses do século XVIII, que provocaram a atenção de Kardec. Utilizadas em toda a Antiguidade para consultas sérias aos espíritos, como vemos no caso da pitonisa de Endor (na Bíblia), tornaram-se na leviana sociedade oitocentista européia em objetos de diversão e passatempo. Ainda hoje são empregadas na prática espírita para consultas levianas ou sérias. Dela surgiram algumas diversificações, como a cestinha túpia de que o próprio Kardec se serviu, a tiptologia por meio de raps, empregada no caso das irmãs Fox, nos Estados Unidos, e as sessões alfabéticas de copinho a que o escritor Monteiro Lobato se dedicou seriamente entre nós, deixando-nos um relato minucioso de suas experiências interessantíssimas, publicado no livro de sua secretária, D. Maria José Sette Ribas, As Sessões Espíritas de Monteiro Lobato. O famoso escritor conseguiu comunicações de seus filhos mortos por esse processo e chegou a doutrinar espíritos perturbadores.


Considera-se, em geral, que essas sessões são condenadas pelo Espiritismo. O que se condena não é a modalidade, pois todas as formas de comunicação são válidas, quando levadas a sério, mas a leviandade com que tais pessoas se entregam a essa experiência, com objetivos de simples curiosidade, o que facilita o acesso de espíritos inferiores, brincalhões ou maldosos, que põem os médiuns em perigo.


O nome de sessões de copinho provém do fato de usar-se um cálice ou um pequeno copo emborcado sobre uma folha de cartolina ou sobre a mesa de superfície lisa. Na cartolina ou em torno da mesa dispõe um alfabeto em forma circular, com o copinho no centro do círculo. Uma ou mais pessoas colocam levemente um dedo sobre o copinho e este se movimenta indicando as letras que formam palavras. Lobato dispunha da mediunidade de sua esposa, D. Purezinha, vendando os seus olhos. Uma pessoa é incumbida de anotar as letras indicadas. O movimento do copinho atinge geralmente grande velocidade. Como se vê, trata-se de um fenômeno de automatismo psicológico, de que os espíritos se servem como na escrita-automática. As consultas são feitas oralmente pelas pessoas presentes.


Não há nada de mal nessa prática em si. Num ambiente sério as respostas são também sérias. A interferência de espíritos brincalhões ou perturbadores pode ser convertida em auxílio para os mesmos, como fazia Lobato. O mal está nas consultas, que sendo quase sempre levianas ou absurdas, que, quando insistentes, acabam por ser respondidas por espíritos levianos. Os espíritos sérios se afastam, como é natural, deixando que os interrogantes façam a experiência de que necessitam. Não é raro algumas pessoas sensíveis saírem perturbadas da experiência. Esse o motivo por que, em geral, os espíritas não aconselham essa prática. Levada a sério, entretanto, ela pode servir para boas comunicações e para provar ao médium que as comunicações não provêm dele mesmo, desconfiança comum a que se entregam os médiuns de comunicações orais ainda não suficientemente experimentados e pouco conhecedores da doutrina.


Do livro “O Espírito e o Tempo” - Herculano Pires

(Faça o download do livro: CLIQUE AQUI)