A Eutanásia


Aguardávamos com ansiedade os fins de semana, ou melhor dizendo, as sextas-feiras para irmos a Uberaba, o que acontecia a cada quinze dias, para visitar e buscar lições de vida do querido médium Chico Xavier.


A chegada era sempre de alegria pelos encontros com os companheiros das diversas partes de cidades ou até mesmo de estados, que dirigiam Casas Espíritas e também buscavam orientações para as mesmas. E tudo se completava com a entrada a Comunhão Espírita Cristã, pela luz radiosa desse servidor de Jesus, Chico Xavier.


A aglomeração de imediato se fazia sobre ele. Todos queriam abraçá-lo, mas em seguida havia uma alma bondosa, um jovem que, com educação, pedia a todos que fizessem fila para ordenar os cumprimentos. E Chico sempre surpreendia aos presentes, pois muitas vezes ele, erguendo a cabeça, chamava uns e outros pelo nome, o que deixava as pessoas assombradas, porque em muitas ocasiões ouvíamos as pessoas dizerem: "Como ele me chama, se eu nunca estive aqui?!..." E era sempre assim. Surpresas nas colocações que ele fazia em torno de acontecimentos das vidas daquelas muitas pessoas que ali se encontravam, que nem abriam a boca e recebiam o conforto que vinham buscar.


E Chico, para manter um ambiente espiritual favorável aos benfeitores daquela casa, levantava conversações que eram verdadeiras elucidações doutrinárias.


Houve uma ocasião em que o assunto ali mencionado era sobre o suicídio ou mortes prematuras. Todos opinávamos e ouvíamos a conclusão feita pelas sábias palavras do médium, quando um vozerio tomou conta do local.


Era a chegada de uma ambulância, que logo após deu lugar a um enfermeiro descendo uma maca acompanhada por um médico. Abriu-se de imediato a passagem, e todos vimos a paciente sendo conduzida até a presença de Chico. O que nos impressionou era ver seu corpo todo chagado e seu rosto também ulcerado num tom arroxeado, numa expressão de dor.


Chico aproximou-se da maca e, olhando fixamente para a doente, levantou as mãos e numa atitude de bênçãos, falou-lhe mansamente:


- Minha filha, tenha fé, essa sua reencarnação é também o momento de sua redenção junto a Deus.


O médico, puxando o médium pelo braço, para ficar mais distante da doente, disse calmamente:


- Chico, viemos até aqui, porque precisamos ouvi-lo por causa de um problema muito grave, que a família dessa paciente nos colocou em mãos. Você vê que esse caso para a medicina não tem cura. Os familiares, sabedores desse sofrimento terrível que passou a ser de todos, pediram-nos para abreviar-lhe a vida.


Chico olhou espantado para o médico e, numa reação espontânea, exclamou:


- Como?! Pedem-lhe para que seja praticada a eutanásia?! É essa a preocupação dos familiares?!


O médico, sem mais delongas, prosseguiu:


- Sim, Chico, é justamente isso. Querem que a morte seja mais rápida. Mas como sou temente a Deus, pedi-lhes mais alguns dias, porque precisava ouvi-lo a respeito.


O médium, olhando a paciente e sentindo as lágrimas a correr-lhe dos olhos, falou piedosamente:


- Doutor, quem somos nós para decidir sobre a vida humana! Que bom que o senhor é temente a Deus. Mas lembre-se que seu dever é salvar vidas. Não foi esse o seu juramento ao receber seu diploma? Mas, que bom, repito, que veio até aqui, porque nosso Emmanuel, ao nosso lado, explica algo muito importante...


E Chico, aproximando-se da doente que não podia falar pelas dores internas que sentia, transmitiu o recado de Emmanuel para que ela e todos pudéssemos ouvir...


Disse-nos o benfeitor:


- Diga ao nosso caro doutor que a nossa irmã nunca esteve tão bem como agora, porque nas suas três últimas reencarnações ela fora suicida. E nessa quarta reencarnação, apesar dessa prova expiatória, Deus lhe concedeu a misericórdia de vir com o corpo aprisionado em chagas, desde seu retorno à Terra, e ela até agora não pensou em suicídio, pois quer viver para vencer seu processo obsessivo e alcançar perante Deus o perdão por querer justiçar-se por si própria.


Estávamos todos mudos pelo exemplo vivo que Jesus nos enviara, a respeito da lição preparatória.


E a mulher chagada num gesto de carinho e reconhecimento ao médium, com dificuldade, pegou-lhe a mão, beijando-a por ajudá-la a continuar viver até que Deus determinasse seu retorno à pátria espiritual.


- Retirado do blog Espirinauta -