Os Maus Espíritos



Há muitas classes de Espíritos maus?


- Há os Espíritos simplesmente inferiores, tais como os Espíritos levianos, imperfeitos, zombeteiros, que nossos pais chamavam de duendes, os brincalhões, e que gostam de travessuras de toda espécie; depois há os Espíritos perversos, que induzem os homens ao mal, pelo prazer de fazer o mal, e os que, como os Espíritos batedores, habitam as casas mal-assombradas.


Como vivem os Espíritos inferiores?


- Numa vida inquieta e atormentada; eles percorrem, sem destino certo, as regiões crepusculares da erraticidade, sem poderem compreender seu estado, nem achar seu caminho: é o que se chama de almas penadas.


Os Espíritos inferiores são nocivos?


- Alguns o são; e sua má influência sobre os homens deu lugar à crença nos demônios.


Os demônios, então, não existem?


- Não; há maus Espíritos, porém os que são chamados de demônios, ou espíritos eternamente maus, não existem; nem o mal, nem os maus podem ser eternos.


Como os homens podem entrar em relação com os maus Espíritos?


- Por meio dos fluidos e em virtude da lei de afinidade espiritual: “Quem se assemelha, se ajunta.”


Os maus Espíritos podem, então, exercer influência sobre os homens?


- Sim. Sobre os homens maus, que os invocam, ou sobre os homens fracos, que se entregam a eles; daí os frequentes fenômenos da possessão e da obsessão.



Que pensar do papel do demônio nas manifestações espíritas?


- O demônio não existe e não pode existir, porque, se ele existisse, Deus não existiria; um exclui necessariamente o outro.



Como assim?


- Se o demônio é eterno como Deus, há dois seres eternos. Ora a coexistência de duas eternidades é impossível; ela seria uma contradição na ordem metafísica. Esses dois deuses, um do bem, outro do mal, lembram a teoria oriental dos dois princípios: é uma reminiscência do dualismo dos maniqueus. Se, ao contrário, o demônio é uma criatura de Deus, Deus se torna responsável diante da humanidade de todo o mal que o demônio tem feito e fará ainda, eternamente. É a mais clamorosa injúria que se possa fazer a Deus, pois que é negar sua justiça e sua bondade. Há maus Espíritos, já o dissemos acima, que impelem ao mal o homem que a ele é propenso; mas o demônio, considerado como a personificação individual do mal, não existe.



Entretanto, a Igreja não ensina e afirma o caráter satânico de certas manifestações espíritas?


- A Igreja tem uma única palavra para explicar o que não compreende: Satã. No decorrer dos séculos, a Igreja sempre atribui a Satã todas as invenções do gênio, desde a do vapor às da estrada de ferro e da eletricidade. Está em sua lógica habitual e em sua característica dizer que os fenômenos do magnetismo e as revelações espíritas são obra de Satã. Todavia, apesar dos anátemas da Igreja, a ciência progride, o gênio do homem evolui e o Espiritismo se tornará à fé universal do futuro.



Retirado do livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis


A Inesperada Renovação



Naqueles momentos em que se reconhecia desligado do corpo físico, o homem acabrunhado sentia-se leve, feliz...


Extasiado na excursão que se lhe afigurava um sonho prodigioso, alcançou o recanto luminescente em que notou a presença do Cristo. Reverente, abeirou-se dele e rogou:


- Senhor!... Ouve-me por misericórdia! Amo-te e quero servi-te...


Desde muito tempo, aspiro a matricular-me na assembléia dos que colaboram contigo na redenção das criaturas... Anseio auxiliar aos outros, entretanto, Amado Amigo, estou preso!... Livra-me do lar onde me vejo na condição do pássaro encarcerado... Moro num ninho de aversões. Meu pai, talvez, cansado de conflitos estéreis, relegou-nos à própria sorte... Minha mãe exerce sobre nós um despotismo cruel.


Trata-nos a nós, seus filhos, à maneira dos objetos de uso particular, flagelando-nos com as exigências de pavorosa afeição possessiva... Meus dois irmãos me detestam... Senhoreiam indebitamente o que tenho e me humilham a cada instante. Se concordo com eles, me ridicularizam, e se algo reclamo, ameaçam-me com perseguição e espancamento!...


Libera-me, Senhor, da prisão que me inibe os movimentos... Quero agir em teus princípios, amar e servir, qual nos ensinaste...


Ante a ligeira pausa que se fez, Jesus fitou o visitante compassivamente e alegou:


- Lembro-me de tuas solicitações anteriores... Estavas de passagem, aqui mesmo, na direção do berço terrestre, acompanhado de amigos prestigiosos. Declaravas-te sequioso de ação no bem e os teus companheiros endossavam-te as afirmativas.


...Dizias-te ansioso no sentido de compartilhar-nos as tarefas...


Entendo-te, sim... A construção do amor é inadiável...


- Senhor – observou o consulente, respeitoso – se entendes o meu ideal e se as minhas petições já se encontram aqui registradas, quem me situou no lar terrível, no qual me reconheço, à feição de um doente, atirado a um serpentário?


O Mestre sorriu e considerou:


- Acreditando em teus propósitos de colaborar conosco, quem te enviou à família em que te encontras, fui eu mesmo...


Surpreendido com a inesperada revelação, o visitante do Mundo Espiritual experimentou estranha sensação de queda e acordou no próprio corpo.


Lá fora, os irmãos deblateravam contra a vida, reportando-se a ele com injuriosas palavras.


Ele, porém, assinalou os insultos que lhe eram endereçados com novos ouvidos, no silêncio de quem havia conquistado o troféu de profunda renovação.


Meimei

Do livro “Deus Aguarda”. Psicografia: Chico Xavier

Moisés e o Espiritismo




A condenação do Espiritismo pela Bíblia, que é a mais citada e repetida, figura no Cap. 19 do Deuteronômio. É a condenação de Moisés, que vai do versículo 9 ao 14.


A tradução, como sempre, varia de um tradutor para outro, e às vezes nas diversas edições da mesma tradução.


Moisés proíbe os judeus, quando se estabeleceram em Canaã, de praticar estas abominações: fazer os filhos passarem pelo fogo; entregar-se à adivinhação, prognosticar, agourar ou fazer feitiçaria; fazer encantamento, necromancia, magia, ou consultar os mortos. E Moisés acrescenta, no versículo 14: “Porque essas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores, porém a ti o Senhor teu Deus não permitiu tal coisa”. Assim está na tradução de Almeida, mas variando de forma, por exemplo, na edição das Sociedades Bíblicas Unidas e na edição mais recente da Sociedade Bíblica do Brasil.


Na primeira dessas edições (ambas da mesma tradução de João Ferreira de Almeida) lê-se, por exemplo: “quem pergunte a um espírito adivinhante”, e na segunda: “quem consulte os mortos”. Na tradução de António Pereira de Figueiredo, lê-se: “nem quem indague dos mortos a verdade”.


Qual delas estará mais de acordo com o texto? Seja qual for, pouco importa, pois a verdade dita pelos mortos ou pelos vivos (estes, mortos na carne) é que tudo isso que Moisés condena, também o Espiritismo condena.


Não esqueçamos, porém, de que a condenação de Moisés era circunstancial, pois os povos de Canaã, que os judeus iam conquistar a fio de espada, eram os que praticavam essas coisas.


Mas a condenação do Espiritismo é permanente e geral, pois o Espiritismo, sendo essencialmente cristão, não se interessa por conquistas guerreiras e não faz divisão entre os povos.


Kardec adverte em O Evangelho Segundo o Espiritismo, livro de estudo das partes morais do Evangelho: “Não soliciteis milagres nem prodígios ao Espiritismo, porque ele declara formalmente que não os produz”. (Cap. XXI: 7).


Em O Livro dos Médiuns, Kardec adverte: “Julgar o Espiritismo pelo que ele não admite, é dar prova de ignorância e desvalorizar a própria opinião”. (Cap. 11:14).


Em A Gênese e em O Livro dos Espíritos, como nos já citados, Kardec esclarece que a finalidade da prática espírita é moralizar os homens e os povos.


Quem conhece o Espiritismo sabe que todo interesse pessoal, particular, é rigorosamente condenado.


Adivinhações, agouros, feitiçaria, encantamentos, consultar interesseiras, são práticas de magia antiga, que Moisés condenou, como o Espiritismo condena hoje.


Mas o próprio Moisés aprovou a mediunidade moralizadora, a prática espiritual da relação com o mundo invisível, como veremos.


Moisés, o grande legislador judeu, médium de excepcionais faculdades, não condenou, mas praticou a mediunidade e desejava vê-la praticada pelo seu povo. Ele recebia espíritos, conversava com espíritos, evocava espíritos, e além disso fazia-se acompanhar no deserto por uma equipe de médiuns, provocando até mesmo fenômenos de materialização. Mas vamos agora a um episódio que pastores e padres não citam, mas que está na Bíblia, em todas as traduções.


O professor Romeu do Amaral Camargo, que foi diácono da l Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, comenta esse episódio em seu livro espírita De cá e de Lá. É o constante do livro de Números, Cap. 11, versículos 26 a 29. Foi logo após a reunião dos setenta médiuns na tenda, para a manifestação de Jeová.


Dois médiuns haviam ficado no campo: Eldad e Medad. E lá mesmo foram tomados e profetizavam, ou seja, davam comunicações de espíritos. Um jovem correu e denunciou o fato a Josué. Este pediu a Moisés que proibisse as comunicações.


A resposta de Moisés é um golpe de morte em todas as pretensas condenações do Espiritismo pela Bíblia. Eis o que diz o grande condutor do povo hebreu: “Que zelos são esses, que mostras por mim? Quem dera que todo o povo profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito”!


Comenta o professor Camargo: “Médium de extraordinárias faculdades, Moisés sabia que Eldad e Medad não eram mercenários nem mistificadores, não procuravam comunicar-se com o mundo invisível, mas eram procurados pelos espíritos”.


Como acabamos de ver, Moisés aprovava a mediunidade pura que o Espiritismo aprova e defende. Mas o pior cego é o que não quer ver, principalmente quando fechar os olhos é conveniente e proveitoso.


José Herculano Pires

No livro “Visão Espírita da Bíblia”



* * *

As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?” Mahatma Gandhi


Casar-se



Não basta casar-se.


Imperioso saber para quê.


Dirás provavelmente que a resposta é óbvia, que as criaturas abraçam o matrimônio por amor.


O amor, porém, reclama cultivo.


E a felicidade na comunhão afetiva não é prato feito e sim construção do dia-a-dia.


As leis humanas casam as pessoas para que as pessoas se unam segundo as Leis Divinas.


Se desposaste alguém que te constituía o mais belo dos sonhos e se encontras nesse alguém o fracasso do ideal que acalentaste, é chegado o tempo de trabalhares mais intensivamente na edificação dos planos que ideaste de início.


Ergueste o lar por amor e tão-só pelo amor conseguirás conservá-lo.


Não será exigindo tiranicamente isso ou aquilo de quem te compartilha o teto e a existência que te desincumbirás dos compromissos a que te empenhaste.


Unicamente doando a ti mesmo em apoio da esposa ou do esposo é que assegurarás a estabilidade da união em que investiste os melhores sentimentos.


Se sabes que a tolerância e a bondade resolvem os problemas em pauta, a ti cabe o primeiro passo a fim de patenteá-las na vivência comum, garantindo a harmonia doméstica.


Inegavelmente não se te nega o direito de adiar realizações ou dilatar o prazo destinado ao resgate de certos débitos, de vez que ninguém pode aceitar a criminalidade em nome do amor.


Entretanto, nos dias difíceis do lar recorda que o divórcio é justo, mas na condição de medida articulada em última instância.


E nem te esqueças de que casar-se é tarefa para todos os dias, porquanto somente da comunhão espiritual gradativa e profunda é que surgirá a integração dos cônjuges na vida permutada, de coração para coração, na qual o casamento se lança sempre para Mais Alto, em plenitude de amor eterno.



Ditado pelo Espírito 'Emmanuel'

Da obra: 'Na Era do Espírito' - Francisco Cândido Xavier


A Oração




A oração não será um processo de fuga do caminho que nos cabe percorrer, mas constituirá uma abençoada luz em nossas mãos, clareando-nos a marcha.


Não representará uma porta de escape ao sofrimento regenerativo de que ainda carecemos, mas expressará um bordão de arrimo, com o auxílio do qual superamos a ventania da adversidade, no rumo da bonança.


Não será um privilégio que nos exonere da enfermidade retificadora, ambientada em nosso próprio templo orgânico pela nossa incúria e pela nossa irreflexão, no abuso dos bens do mundo, entretanto, comparecerá por remédio balsamizante e salutar, que nos renove as energias, em favor de nossa cura.


Não será uma prerrogativa indébita que nos isente da luta humana, imprescindível ao nosso aperfeiçoamento individual, todavia, brilhará em nossa experiência por sublime posto de reabastecimento espiritual, suscetível de garantirmos a resistência e o valor na tarefa de renunciação e sacrifício em que nos cabe perseverar.


Não será uma outorga de recursos para que os nossos caprichos pessoais sejam atendidos, no jardim de nossas predileções afetivas, contudo, será uma despensação de forças para que possamos tolerar galhardamente as situações mais difíceis, diante daqueles que nos desagradam, em sociedade ou em família, ajudando-nos, pouco a pouco, a edificar o santuário da verdadeira fraternidade, no próprio coração, em cujos altares amealharemos o tesouro da paz e do discernimento.


Ainda mesmo que te encontres no labirinto quase inextrincável das provações inflexíveis, ainda mesmo que a tua jornada se alongue sob o granizo da discórdia e da incompreensão, em plena sombra, cultive a prece, com a mesma persistência a que te induzes na procura da água para a sede e do pão para a fome do corpo. Na dor, ser-te-á divino consolo, na perturbação, constituirá tua bússola.


Não olvides que a permanência na Terra é uma simples viagem educativa de nossa alma, no espaço e no tempo, e não te esqueças de que somente pela oração, descobriremos, cada dia, o rumo que nos conduzirá de retorno aos braços amorosos de Deus.


Emmanuel

Extraído do livro“A Luz da Oração”

Psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier



Prece Para um Nascimento



Meu Deus, tu enviaste entre nós este Espírito, para que ele cumprisse numa existência nova tua lei de trabalho e de progresso.



Ele acaba de reencarnar na Terra, para desenvolver nela suas faculdades e suas qualidades morais, a fim de se elevar mais alto na hierarquia das almas e se reaproximar de Ti, porque este é o objetivo da vida, de todas as vidas.



Permitiste, ó Deus, que ele escolhesse esta família para aí reencontrar a forma, o corpo material, o instrumento necessário à realização desse fim. Faz que ele se torne para seus ascendentes um motivo constante de alegria, de satisfação moral e, mais tarde, um sustento, um apoio. Dá a seus pais o sentimento de seus deveres e de suas responsabilidades para com esta criança, da qual eles devem ser os protetores, os educadores.



Em Tua justiça e bondade, tu queres que cada Espírito seja o artífice de sua própria felicidade, que ele construa, com suas próprias mãos, sua coroa de luz e tu lhe deste para isso todos os recursos: a inteligência, a consciência e com elas as forças latentes que sua tarefa precisa para ser posta em ação, em seu próprio bem e no de seus semelhantes.



Tu queres, meu Deus, que, nas etapas inferiores de sua evolução, o Espírito suporte a lei da necessidade, isto é, as privações e as dificuldades da vida material; são os muitos estimulantes para sua iniciativa e sua energia, muitos meios para formar seu caráter e seu raciocínio, a fim de que, pelo trabalho, estudo e provas, saia de cada vida maior e melhor do que quando ali entrou.



Pela encarnação, reuniste a forma à idéia, para que a idéia espiritualista a forme e que o ser humano participe, por seus esforços, do progresso e da harmonia universais.



Ó Deus, nós te agradecemos por tua bondade, que envia para nós este Espírito! Que seu guia celeste o proteja, que nossa solicitude o envolva. Seus irmãos o recebem com afeição e ternura; eles se esforçarão em aplainar seu caminho, a fim de que siga sempre a senda da justiça e do amor que conduz para essa vida superior que tu reservas aos que lutaram, penaram e sofreram!



(Retirado do livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis)


Oração Diante da Natureza




Diante da Criação Divina, que reverenciemos, Senhor, a Sabedoria de Deus, nosso Pai.


Que respeitemos as pedras, os rios, as árvores, os animais...


Cada flor que desabrocha e cada pássaro que canta rendem à Vida o seu tributo de gratidão!


Não nos deixes destoar da magnífica sintonia que ecoa no Universo, desde o átomo obscuro ao astro de maior esplendor que rola na imensidade.


A Natureza é o nosso santuário de luz...


Que possamos defendê-la de nossa própria agressividade, com que, infelizmente, temos nos transformado em seus filhos ingratos.


Senhor, dá-nos sensibilidade para ouvirmos a mística cantiga da fonte que se precipita do penhasco; para admirarmos a beleza do firmamento que, à noite, se esmalta de estrelas...


Como a Natureza, somos partes integrantes da Vida e não molestaremos uma só folha de árvore, sem comprometermos a nossa paz e felicidade!


Pelo Espírito 'Irmão José'
Do livro: 'Preces e Orações' - Psicografia: Carlos A. Baccelli



A Vivência do Amor



Meus irmãos, a paz do Cristo seja conosco.


Irmanados no ideal de servir aos propósitos divinos, não vos deixeis abater pelos percalços naturais da senda... Não existe outro caminho para os Cimos, senão aquele que o Mestre vos delineou; quem se nega a seguir adiante, sustendo aos ombros a cruz do próprio testemunho, não terá alternativa que não seja a de se demorar nos vales da desilusão e da dor.


Muito lentamente o homem vem despertando para a Verdade e não deveis esperar por uma adesão coletiva aos princípios libertadores que tendes abraçado na Doutrina que revive os postulados cristãos para toda a Humanidade; passados dois mil anos de seu divino sacrificio entre os homens, o Senhor permanece na expectativa de que a semente plantada por suas mãos germine nos corações...


Não desanimeis. A escada para o Alto é constituída de infinitos degraus; porém, a cada passo, podereis sentir a presença Daquele que vos prometeu fazer companhia até a consumação dos séculos... Outrora, as trevas que pairavam sobre os vossos espíritos eram mais densas; hoje, todavia, não ignorais o rumo em que se vos faz mister perseverar


Discípulos fiéis ao Amor e à Verdade têm-se corporificado no Planeta, abrindo significativas clareiras na primitiva floresta dos anseios meramente humanos; não há mais um só povo e uma só raça que possa pretextar desconhecimento das lições básicas do Evangelho...


Se vos amardes uns aos outros, nada haverá de se vos constituir em obstáculo na caminhada e a incerteza não vos fará vacilar no cumprimento do dever.


Depois de Deus, é o Amor a suprema força do Universo! Quem ama, serve e compreende, perdoa e renuncia, rejubilando-se pela oportunidade de se superar através do amor que dedica aos seus semelhantes... Quem ama, não teme as adversidades e não recua diante dos desafios... Quem ama, mesmo que ainda se situe nos primeiros degraus da evolução, lutando para desembaraçar-se do que o prende à retaguarda, antecipa em si mesmo a alegria da vitória...


A criatura que ama integra-se com o Criador e, em sintonia com Ele, embora não seja mais que um singelo grão de areia na imensidão do deserto, consegue refletir-Lhe a grandeza Divina na Glória da Criação...


O único segredo da Vida é o Amor!... O egoísmo, que é o amor exagerado a si, faz sofrer e desencanta; o altruísmo, que é o amor quando se projeta na direção do outro, é o alicerce da Perfeição. Aquele que, para se importar consigo esquece os seus semelhantes, padece de profunda amnésia e, até que verdadeiramente se encontre, peregrina por longo tempo nas sinuosas estradas do sofrimento...


Estudai a Verdade, meus irmãos, mas, sobretudo, examinai o vosso amor; não priorizeis o saber, em detrimento do sentimento...


Não vos concentreis excessivamente sobre a forma que passa, nem supervalorizeis os fenômenos pertinentes à matéria... Na Terra e nas regiões espirituais que lhe são imediatas, tudo é transitório. Para o espírito que ama, não existem fronteiras no Cosmos: o Amor é o idioma universal e a senha de luz que descerra todas as portas...


Dedicai-vos, sim, ao intercâmbio com os homens, dando ênfase à crença na Imortalidade, mas, sobretudo, concitai-os à prática da Caridade; as religiões que apenas enfatizem a necessidade de crer e que não conclamem os seus seguidores a serem bons e tolerantes, estão longe de aprender e de pregar o real sentido das palavras do Cristo...


O religioso sincero é aquele que, em seu relacionamento com Deus, jamais excluiu o próximo, seja ele quem for. O fanatismo religioso é uma manifestação primitiva da fé... O que redime o homem são os seus atos, e não a sua aparência piedosa. Com a Fé Raciocinada, tendes nas mãos a abençoada charrua com que vos compete lavrar a gleba das almas, tornando-as férteis para a obra do Semeador Excelso; trabalhai, incansavelmente, e não desconsidereis que a construção do Reino de Deus sobre a face da Terra depende de sua edificação no íntimo de cada um de vós...


Deixai de ser crianças em vossas reações; crescei, e a vossa vida há de crescer convosco! Diante da Eternidade, um milênio não é mais que um dia e um século não é mais que um segundo!... Tudo passa e tão-somente a experiência permanece; à medida em que a luz se expande, as trevas se encolhem... Em contato com os raios do Sol, a noite se transfigura dia.


Não existe maldade; o que existe é ignorância das Leis Divinas. O espírito frágil há de se fortalecer, um dia. Mais cedo ou mais tarde, todos haveremos de chegar ao termo da jornada que empreendemos de volta para Deus!...


Convencei-vos de que o desânimo é simples perda de tempo e o erro é lição que pede para ser recapitulada. Esquecei-vos e sereis tão felizes quanto podeis ser, em vosso atual estágio evolutivo. Que o Evangelho vos seja motivo de alegria, e não de tristeza. A Criação é o sorriso de Deus, constantemente estampado na Face do Universo!... A tristeza da Crucificação foi superada pela alegria da Ressurreição!... A função da Morte grosseira é a de engrandecer a Vida e sublimá-la em todas as suas manifestações. No entanto, conforme sabeis, morrer só por si não basta: é necessário que, do homem-velho, renasça o homem-novo!... Estendei as mãos uns aos outros e, sobretudo, tende paciência. Laborai sem perda de tempo, porém não vos precipiteis no afã de subir, como se pudésseis pular etapas na experiência evolutiva a que vos submeteis...


Embora com os pés fincados na Terra, quem ama, pode abarcar o Universo! Sem sair do lugar, quem ama, realiza Deus onde está!... Uni-vos, amai-vos e servi sempre — eis o lema para quem almeje um melhor aproveitamento do tempo, em qualquer situação em que se encontre, nas múltiplas dimensões em que a Vida se manifesta.


Que o Senhor vos inspire e fortaleça, hoje e para todo o sempre!...”


Preleção realizada por um Mensageiro do Plano Espiritual, presente no livro “Na Próxima Dimensão” – Pelo Espírito Inácio Ferreira – Psicografado pelo médium Carlos A. Bacelli



Os 100 anos de Chico Xavier - Novidades para 2010


O aniversário de 100 anos de Chico Xavier, comemorado em abril de 2010, será celebrado com um congresso aberto aos seguidores de todo o país. Trata-se do projeto Centenário de Chico Xavier, desenvolvido pela Federação Espírita Brasileira (FEB) com o objetivo de enfatizar a obra de Chico Xavier e contribuir com a preservação de sua memória. “A mediunidade dele foi natural”, comentou o diretor da FEB, César Perri. “Ele via e conversava com espíritos desde criança. Era uma pessoa muito simples, de coração aberto.”


As homenagens incluem ainda a produção de um documentário com depoimentos, realização de eventos regionais e dois filmes baseados em textos psicografados por Chico.


Um filme em especial terá a missão de retratar a vida do médium conhecido mundialmente. Baseado no livro “As Vidas de Chico Xavier”, do jornalista Marcel Souto Maior, o filme é um projeto do diretor Daniel Filho, coordenador da Globo Filmes. O mais importante, na opinião dele, é a boa história. “Não sou espírita, nem católico. Sou materialista. Estou mais para física quântica que para espiritualismo. Mas a insistência dos espíritas para que fizesse o filme me comoveu. É a história interessante de um homem abnegado, um tema que merece atenção”, explica.


Daniel conheceu pessoalmente o médium mineiro. “Chico Xavier é um dos homens mais importantes do Brasil. Vou mostrar o ser humano, o homem que tem aura, que puxa para si a responsabilidade de paz e de espiritualidade, no sentido de paternidade. Quero manter o respeito que os brasileiros têm por esse homem humilde, que disse que só queria ir embora quando o povo estivesse feliz. Por coincidência, morreu aos 92 anos, no dia em que o Brasil ganhou a Copa do Mundo de 2002”, observa.


Xavier, desde os 17 anos, psicografava mensagens de pessoas desencarnadas. Os textos escritos por ele na adolescência não eram compatíveis com a formação simples do rapaz, por isso chamaram a atenção. Chico Xavier viveu a maior parte da vida em Uberaba (MG) e, nas últimas décadas de vida, longas filas se formavam com gente de todas as religiões à espera de uma consulta com o médium. As pessoas iam em busca de consolo.



Assistam o trailer do filme, que já começou a ser filmado:





Para saber mais, acessem os links abaixo, do blog Partida e Chegada:


Filme sobre Chico terá o ator Nelson Xavier

Ator do filme “Chico Xavier” visita Uberaba

Começa produção de Chico Xavier, o filme



Acidente aéreo - Regaste inevitável




Não raro estamos nos deparando com uma série de acidentes rodoviários, marítimos, fluviais e aéreos no Brasil e no mundo.


Pela extensão da tragédia, o tema é discutido diariamente pela mídia. Muitas especulações que não levam a nada são lançadas frequentemente, julgando-se pessoas, empresas e instituições públicas sem fundamento investigatório final, de forma precipitada.


Acima de tudo, pergunta-se: todo acidente pode ser evitado?


Como elemento credenciado em prevenção de acidentes, afirmo que sim, pois dentre os princípios filosóficos que norteiam a árdua tarefa de prevenção de acidentes do Sistema de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – SIPAER –, há dois que merecem atenção especial. São eles: “Todo acidente pode e deve ser evitado” e “Todo acidente tem um precedente”. De acordo com esses princípios, nenhum acidente ocorre por “fatalidade”, pois se origina sempre de deficiências enquadradas nos fatores humano, material e operacional. Uma vez analisados os fatores participantes nos acidentes, podem-se adotar medidas enquadradas à neutralização de tais fatores. E se acidentes similares já ocorreram, os fatores contribuintes serão basicamente os mesmos em sua essência, variando apenas a forma como se apresentam.


Como espíritas, afirmamos que nem todo acidente pode ser evitado, pois além do fator humano, material e operacional, deve-se considerar também o fator espiritual, já que a influência dos espíritos é maior do que supomos e muito frequentemente eles que nos dirigem.1


Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec questiona aos espíritos se há fatalidade nos acontecimentos da vida. Os espíritos afirmam: “A fatalidade não existe senão para a escolha feita pelo espírito, ao se encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; ao encolhê-la, ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição em que se encontra. Falo ainda das provas de natureza física...”2


Os espíritos afirmam também que qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos, se a nossa hora não chegar. “Mas, quando chegar a hora de partir, nada nos livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por que partiremos daqui, e freqüentemente o espírito encarnado o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência”.3


O espírito Emmanuel afirma: “na provação coletiva verifica-se a convocação dos espíritos encarnados, participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro. O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então, espontaneamente, através dos prepostos do Cristo, que convocam os irmãos na dívida do pretérito para os resgates em comum, razão por que, muitas vezes, intitulais ‘doloroso acaso’ às circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhe ocasiona a morte do corpo físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais”.4


Portanto, considerando apenas o fator humano, material e operacional, todos os acidentes podem ser evitados. Acrescentando a isso o fator espiritual é de se concluir que há acidentes inevitáveis, pois são planejados antes mesmo da reencarnação do espírito e que somente a misericórdia de Deus poderia evitar.


Continuemos nós a crer na Justiça Divina, a orar aos que partiram de forma tão lamentável, dizendo a cada um deles: “Brilhe a luz pra os teus olhos, irmão que vens de deixar a Terra! Que os bons espíritos de ti se aproximem, te cerquem e ajudem a romper as cadeias terrenas! Compreende e vê a grandeza do nosso Senhor: submete-te, sem queixumes, à sua justiça, porém, não desesperes nunca da sua misericórdia. Irmão! que um sério retrospecto do vosso passado te abra as portas do futuro, fazendo-te perceber as faltas que deixas para trás e o trabalho cuja execução te incumbe para as reparares! Que Deus te perdoe e que os bons espíritos te amparem e animem. Por ti orarão os teus irmãos da Terra e pedem que por eles ores”.5


Por Reginaldo de Oliveira Reis - Jornal Palavra Espírita


Citações:


1. “O Livro dos Espíritos”, item 459.

2. “O Livro dos Espíritos”, item 851.

3. “O Livro dos Espíritos”, item 853-a.

4. “O Consolador”, 2ª parte, questão 250.

5. “O Evangelho segundo o Espiritismo”, capítulo 28, item 61.


* * *


Para saber mais:

Leia os textos do blog referentes ao tema Tragédias Coletivas.

Leia o texto do blog Ideia Espírita: Tragédia Coletiva: por quê?


Ante a morte violenta





Em verdade, no mundo, o túmulo imposto à pressa é daquelas provas terrenas que mais dilaceram o coração.


Diante das vidas nobres que se interrompem, de improviso, dolorosas indagações são endereçadas ao Céu.


Não raro, à frente da morte súbita, outras existências promissoras começam a fenecer.


São almas que ficam na retaguarda, carregando consigo o esquife dos mortos ou algemados ao rochedo da angústia, sem coragem de romper os grilhões que os encarceram no sofrimento.


Muitas vezes, desvairadas, recusam a oração ou renegam a fé. Asseveram-se sozinhas no temporal das próprias lágrimas e, por vezes, descem, desavisadas, nos mais graves desequilíbrios do pensamento.


Entretanto, é preciso que o entendimento que nos caracteriza no mundo se submeta aos juízos soberanos e sábios da morte, para que a nossa temporária permanência no corpo físico não fuja à condição de aprendizado.


Imprescindível lembrar que na engrenagem da civilização de agora, comumente reparamos os próprios erros de ontem.


Entre as máquinas que lhe reduzem as lides e obrigações, muita vez encontra o homem o corretivo e o reajuste, a paz e a liberação da própria alma.


Auxilia aos entes queridos que partiram da Terra, em luta repentina, ofertando-lhes à estrada o bálsamo precioso da consolação e da prece.


Recorda que a Misericórdia Celeste adoça todos os processos da justiça universal e reconforta-te na certeza de que Deus faz sempre o melhor.


Contempla as vítimas dos hábitos infelizes, tantas vezes mergulhadas nas sombras da obsessão.


Observa os que choram nos sepulcros da consciência culpada e que se debatem no inferno do remorso e do arrependimento, sem comiseração para consigo mesmos!


Reflete nos quadros tristes a se erguerem das provas necessárias e conserva contigo a paciência e a esperança de quem recebe na dor inesperada, o socorro oculto da Providência Divina.


Se o gládio da morte violenta te busca o lar, faze silêncio e confia-te ao tempo, o médico invisível que nos restaura as energias do coração.


Não blasfemes, nem desesperes.


Aguarda o Amparo Celestial, mantendo a certeza de que tudo aquilo que hoje ignoras, amanhã saberás.


Emmanuel

Extraído do livro “Mais Perto”

Psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier



LOUVADO SEJA DEUS


O velho André era escravo humilde e sofredor.


Certo dia, ele soube que Jesus nos ensinara a santificar o nome de Deus e prometeu a si mesmo jamais praticar o mal.



Se o feitor da fazenda o perseguia, André perdoava e dizia de todo o coração:


— LOUVADO SEJA DEUS.


Se algum companheiro tentava-o a fugir das obrigações de cada dia, considerando as injustiças que os cercavam, ele dizia contar com a Bondade Divina, indicava o céu e repetia:


— LOUVADO SEJA DEUS.


Quando veio a libertação dos cativos, o dono da fazenda chamou-o e disse-lhe que a pobreza e a doença lhe batiam à porta e pediu-lhe que não o abandonasse.


Todos os companheiros se ausentaram, embriagados de alegria, mas André teve compaixão do senhor, agora humilhado, e permaneceu no serviço imaginando que Deus estaria satisfeito com o seu procedimento.


O proprietário da terra, pouco a pouco, perdeu o que possuía, arruinado pela enfermidade, mas o generoso servidor cuidou dele, até à morte, afirmando sempre:


— LOUVADO SEJA DEUS.


André estava cansado e envelhecido, quando o antigo patrão faleceu.


Quis trabalhar, mas o corpo encarquilhado curvava-se para o chão, com muitas dores.


Esmolou, então, com humildade e paciência e, de cada vez que recebia algum pão para saciar a fome ou algum trapo para cobrir o corpo, exclamava alegremente:


— LOUVADO SEJA DEUS.


Certa noite, muito sozinho, com sede e febre, notou que alguém penetrava em sua choça de palha.


Quem seria?


Em poucos instantes, um Espírito Protetor erguia-se à frente dele.



Acanhado e aflito, quis falar alguma coisa, mas não pôde.


O Espírito Protetor, porém, sorrindo, abraçou-o e exclamou:


— André, o nome de Nosso Pai Celestial foi exaltado por seu coração e vim buscar você para que sua voz possa louvá-lo agora no céu.


No dia seguinte, o corpo do velho escravo apareceu morto na choupana, mas sobre o teto rústico as aves pousavam, cantando, e muita gente afirmou que os passarinhos pareciam repetir:


— LOUVADO SEJA DEUS.



(Conto do Espírito Meimei - Psicografia de Chico Xavier - Fonte: AME/JF)


A Hora Final


Que se passa no momento da morte e como se desprende o Espírito da sua prisão material? Que impressões ou sensações o esperam nessa ocasião temerosa? É isso o que interessa a todos conhecer, porque todos cumprem essa jornada. A vida foge-nos a todo instante: nenhum de nós escapará à morte.


As sensações que precedem e se seguem à morte são infinitamente variadas e dependentes, sobretudo do caráter, dos méritos, da elevação moral do Espírito que abandona a Terra. A separação é quase sempre lenta e o desprendimento da alma opera-se gradualmente. Começa, algumas vezes, muito tempo antes da morte e só se completa quando ficam rotos os últimos laços fluídicos que unem o perispírito ao corpo. A impressão sentida pela alma revela-se penosa e prolongada quando esses laços são mais fortes e numerosos. Causa permanente da sensação e da vida, a alma experimenta todas as comoções, todos os despedaçamentos do corpo material.


Dolorosa, cheia de angústias para uns, a morte não é, para outros, senão um sono agradável seguido de um despertar silencioso. O desprendimento é fácil para aquele que previamente se desligou das coisas deste mundo, para aquele que aspira aos bens espirituais e que cumpriu os seus deveres. Há, ao contrário, luta, agonia prolongada no Espírito preso à Terra, que só conheceu os gozos materiais e deixou de preparar-se para essa viagem.


Entretanto, em todos os casos, a separação da alma e do corpo é seguida de um tempo de perturbação, fugidio para o Espírito justo e bom, que desde cedo despertou ante todos os esplendores da vida celeste; muito longo, a ponto de abranger anos inteiros, para as almas culpadas, impregnadas de fluidos grosseiros. Grande número destas últimas crê permanecer na vida corpórea, muito tempo mesmo depois da morte. Para estas, o perispírito é um segundo corpo carnal, submetido aos mesmos hábitos e, algumas vezes, às mesmas sensações físicas como durante a vida terrena.


Outros Espíritos de ordem inferior se acham mergulhados em uma noite profunda, em um completo insulamento no seio das trevas. Sobre eles pesa a incerteza, o terror. Os criminosos são atormentados pela visão terrível e incessante das suas vítimas.


A hora da separação é cruel para o Espírito que só acredita no nada. Agarra-se como desesperado a esta vida que lhe foge; no supremo momento insinua-se-lhe a dúvida; vê um mundo temível abrir-se para abismá-lo e quer, então, retardar a queda. Daí, uma luta terrível entre a matéria, que se esvai, e a alma, que teima em reter o corpo miserável. Algumas vezes, ela fica presa até à decomposição completa, sentindo mesmo, segundo a expressão de um Espírito, “os vermes lhe corroerem as carnes”.


Pacífica, resignada, alegre mesmo, é a morte do justo, a partida da alma que, tendo muito lutado e sofrido, deixa a Terra confiante no futuro. Para esta, a morte é a libertação, o fim das provas. Os laços enfraquecidos que a ligam à matéria destacam-se docemente; sua perturbação não passa de leve entorpecimento, algo semelhante ao sono.


Deixando sua residência corpórea, o Espírito, purificado pela dor e pelo sofrimento, vê sua existência passada recuar, afastar-se pouco a pouco com seus amargores e ilusões; depois, dissipar-se como as brumas que a aurora encontra estendidas sobre o solo e que a claridade do dia faz desaparecer. O Espírito acha-se, então, como que suspenso entre duas sensações: a das coisas materiais que se apagam e a da vida nova que se lhe desenha à frente. Entrevê essa vida como através de um véu, cheia de encanto misterioso, temida e desejada ao mesmo tempo. Após, expande-se a luz, não mais a luz solar que nos é conhecida, porém uma luz espiritual, radiante, por toda parte disseminada. Pouco a pouco o inunda, penetra-o, e, com ela, um tanto de vigor, de remoçamento e de serenidade. O Espírito mergulha nesse banho reparador. Aí se despoja de suas incertezas e de seus temores. Depois, seu olhar destaca-se da Terra, dos seres lacrimosos que cercam seu leito mortuário, e dirige-se para as alturas. Divisa os céus imensos e outros seres amados, amigos de outrora, mais jovens, mais vivos, mais belos que vêm recebê-lo, guiá-lo no seio dos espaços. Com eles caminha e sobe às regiões etéreas que seu grau de depuração permite atingir. Cessa, então, sua perturbação, despertam faculdades novas, começa o seu destino feliz.


A entrada em uma vida nova traz impressões tão variadas quanto o permite a posição moral dos Espíritos. Aqueles – e o número é grande – cujas existências se desenrolam indecisas, sem faltas graves nem méritos assinalados, acham-se, a princípio, mergulhados em um estado de torpor, em um acabrunhamento profundo; depois, um choque vem sacudir-lhes o ser. O Espírito sai, lentamente, de seu invólucro: como uma espada da bainha; recobra a liberdade, porém, hesitante, tímido, não se atreve a utilizá-la ainda, ficando cerceado pelo temor e pelo hábito aos laços em que viveu. Continua a sofrer e a chorar com os entes que o estimaram em vida. Assim corre o tempo, sem ele o medir; depois de muito, outros Espíritos auxiliam-no com seus conselhos, ajudando a dissipar sua perturbação, a libertá-lo das últimas cadeias terrestres e a elevá-lo para ambientes menos obscuros.


Em geral, o desprendimento da alma é menos penoso depois de uma longa moléstia, pois o efeito desta é desligar pouco a pouco os laços carnais. As mortes súbitas, violentas, sobrevindo quando a vida orgânica está em sua plenitude, produzem sobre a alma um despedaçamento doloroso e lançam-na em prolongada perturbação. Os suicidas são vítimas de sensações horríveis. Experimentam, durante anos, as angústias do último momento e reconhecem, com espanto, que não trocaram seus sofrimentos terrestres senão por outros ainda mais vivazes.


O conhecimento do futuro espiritual e o estudo das leis que presidem a desencarnação são de grande importância como preparativos à morte. Podem suavizar os nossos últimos momentos e proporcionar-nos fácil desprendimento, permitindo mais depressa nos reconhecermos no mundo novo que se nos desvenda.



Texto retirado do livro “Depois da Morte” - Léon Denis



* * *


Chico Xavier fala sobre “Morte Suave” (Programa Pinga Fogo)






“Cumpramos os nossos deveres, compreendendo que a nossa responsabilidade tem o tamanho do nosso conhecimento.” Chico Xavier