140 anos sem a presença física de Allan Kardec



Hippolyte Léon Denizard Rivail – Allan Kardec – desencarnou em Paris, em 31 de março de 1869, aos 65 anos, devido à ruptura de um aneurisma.


São 140 anos sem a sua presença física, mas em todo esse tempo contamos com a sua assistência espiritual. A Doutrina Espírita, por ele codificada, engrandeceu-se durante todo esse tempo, conquistando o respeito e a credibilidade, pela firmeza de seus postulados, instituindo a ligação do homem com o Universo, dando-lhe as chaves para a compreensão dos mistérios da chamada morte e esclarecendo, de maneira clara e objetiva, as perguntas seculares: “Quem eu sou?”; “De onde eu venho?”; “Para onde eu vou?”


Personalidade ímpar, tornou-se respeitado pela retidão de caráter e pela coerência de suas ações, tendo sido cognominado por Camille Flammarion como O Bom Senso Encarnado. Corajoso e altivo, nunca esmoreceu diante da tarefa, bastante árdua, como ele próprio dizia em nota de primeiro de janeiro de 1867, quando se referia às ingratidões de amigos, ódios de inimigos, injúrias e calúnias dos fanáticos.


Ao observar o fenômeno das mesas girantes, ou falantes, não teve a atitude covarde de alguns pesquisadores que, em nome de convicções absurdas, têm a pretensão de acharem que são especialistas em assuntos que não conhecem. A dedução de Allan Kardec foi a mais lógica e sensata possível: se uma mesa não tem boca para falar, cérebro para pensar e nervos para sentir, as respostas inteligentes às perguntas formuladas somente podem vir de uma inteligência que não vemos, ou seja, os Espíritos. Esta foi a conclusão do grande Mestre.


Figura de respeito, tinha o “semblante severo quando estudava ou magnetizava, mas cheio de vivacidade amena e sedutora quando ensinava ou palestrava. O que nele mais impressionava era o olhar estranho e misterioso, cativante pela brandura das pupilas pardas, autoritário pela penetração a fundo na alma do interlocutor. Pousava sobre o ouvinte como suave farol e não se desviava abstrato para o vago senão quando meditava, a sós. E o que mais personalidade lhe dava era a voz, clara e firme, de tonalidade agradável e oracional, que podia mesclar agradavelmente desde o murmúrio acariciante até as explosões de eloquência parlamentar. Sua gesticulação era sóbria, educada.”


Era exemplar o seu comportamento diante das pessoas: “Quando ouvia uma pessoa, enfiava o polegar direito no espaço entre dois botões do colete, a fim de não aparentar impaciência e, ao contrário, convencer de sua tolerância e atenção. Conversando com discípulos ou amigos íntimos, apunha algumas vezes a destra (mão direita) no ombro do ouvinte, num gesto da familiaridade. Mantinha rigorosa etiqueta social diante das damas” (Grandes Vultos do Espiritismo, de Paulo Alves Godoy – Edições FEESP).


Colocado na galeria dos grandes missionários e benfeitores da Humanidade, a morte de Allan Kardec foi assim anunciada pelo Le Journal Paris, em 3 de abril de 1869:


... Vimo-lo deitado num simples colchão, no meio daquela sala das sessões que há longos anos presidia; vimo-lo com o rosto calmo, como se extinguem aqueles a quem a morte não surpreende, e que, tranquilos quanto ao resultado de uma vida honesta laboriosa, deixam como que um reflexo da pureza de sua alma sobre o corpo que abandonam à matéria.


Resignados pela fé em uma vida melhor e pela convicção na imortalidade da alma, numerosos discípulos foram dar um último olhar a esses lábios descorados que, ainda ontem, lhes falavam a linguagem da Terra...


Que adianta contar detalhes da sua morte? Que importa a maneira pela qual o instrumento se quebrou e porque consagrar uma linha a esses restos integrados no imenso movimento das moléculas? Allan Kardec morreu na sua hora. Com ele fechou-se o prólogo de uma religião vivaz que, irradiando a cada dia, em breve terá iluminado a Humanidade. Ninguém melhor que Allan Kardec poderia levar a bom termo essa obra, à qual era preciso sacrificar as longas vigílias que nutrem o Espírito, a paciência que ensina continuamente, a abnegação que desafia a tolice do presente para só ver a radiação do futuro.


... Seu nome, estimado como o de um homem de bem, é desde muito tempo vulgarizado pelos que creem e pelos que temem. É difícil realizar o bem sem chocar os interesses estabelecidos.


O Espiritismo destrói muitos abusos; também ergue muitas consciências doloridas, dando-lhes a convicção da prova e a consolação do futuro.


Hoje, os espíritas choram o amigo que os deixa, porque o nosso entendimento, demasiado material, por assim dizer, não se pode dobrar a essa idéia da passagem. Mas, pago o primeiro tributo à inferioridade do nosso organismo, o pensador ergue a cabeça, e para esse mundo invisível, que sente existir além do túmulo, estende a mão ao amigo que se foi, convencido de que seu Espírito nos protege sempre.


Essa morte, que o vulgo deixará passar indiferente, é um grande fato na história da Humanidade. Este não é apenas o sepulcro de um homem; é a pedra tumular enchendo o vazio imenso que o materialismo havia cavado sob os nossos pés, e sobre o qual o Espiritismo espalha as flores da esperança.”


Altamirando Carneiro - São Paulo, SP (Brasil)

Revista O Consolador


* * *

Túmulo de Allan Kardec





Voltaste a esse mundo donde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrestres. Aos nossos pés dorme o teu envoltório, extinguiu-se o teu cérebro, fecharam-se-te os olhos para não mais se abrirem, não mais ouvida será a tua palavra... Sabemos que todos havemos de mergulhar nesse mesmo último sono, de volver a essa mesma inércia, a esse mesmo pó. Mas, não é nesse envoltório que pomos a nossa glória e a nossa esperança. Tomba o corpo, a alma permanece e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor e no céu imenso onde usaremos das nossas mais preciosas faculdades, onde continuaremos os estudos para cujo desenvolvimento a Terra é teatro por demais acanhado. (...) Até à vista, meu caro Allan Kardec, até à vista!”

(Trecho de discurso proferido por Camille Flammarion, astrônomo francês e amigo pessoal de Kardec, na ocasião do seu sepultamento.)



A Mediunidade e a Obsessão (Parte 1/2)



No número das dificuldades que a prática do Espiritismo apresenta é necessário colocar a da obsessão em primeira linha. Trata-se do domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas pessoas. São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominar, pois os bons não exercem nenhum constrangimento. Os bons aconselham, combatem a influência dos maus, e se não os escutam preferem retirar-se. Os maus, pelo contrário, agarram-se aos que conseguem prender. Se chegarem a dominar alguém, identifica-se com o Espírito da vítima e a conduzem como se faz com uma criança.


A Obsessão


A obsessão apresenta característica diversas que precisamos distinguir com precisão, resultantes do grau do constrangimento e da natureza dos efeitos que este produz. A palavra obsessão é portanto um termo genérico pelo qual se designa o conjunto desses fenômenos, cujas principais variedades são: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação.


A obsessão simples verifica-se quando um Espírito malfazejo se impõe a um médium, intromete-se contra a sua vontade nas comunicações que ele recebe, o impede de se comunicar com outros Espíritos e substitui os que são evocados.


Não se está obsedado pelos simples fato de ser enganado por um Espírito mentiroso, pois o melhor médium está sujeito a isso, sobretudo no início, quando ainda lhe falta a experiência necessária, como entre nós as pessoas mais honestas podem ser enganadas por trapaceiros. Pode-se, pois, ser enganado sem estar obsedado. A obsessão consiste na tenacidade de um Espírito do qual não se consegue desembaraçar.


Na obsessão simples o médium sabe perfeitamente que está lidando com um Espírito mistificador, que não se disfarça e nem mesmo dissimula de maneira alguma as suas más intenções e o seu desejo de contrariar. O médium reconhece facilmente a mistificação, e como se mantém vigilante raramente é enganado. Assim, esta forma de obsessão é apenas desagradável e só tem o inconveniente de dificultar as comunicações com os Espíritos sérios ou com os de nossa afeição.


Podemos incluir nesta categoria os casos de obsessão física, que consistem nas manifestações barulhentas e obstinadas de certos Espíritos que espontaneamente produzem pancadas e outros ruídos. Quanto a este fenômeno, remetemos o leitor ao capítulo 'Das manifestações físicas espontâneas, nº 82.'


A Fascinação


A fascinação tem consequências muito mais graves. Trata-se de uma ilusão criada diretamente pelo Espírito no pensamento do médium e que paralisa de certa maneira a sua capacidade de julgar as comunicações. O médium fascinado não se considera enganado. O Espírito consegue inspirar-lhe uma confiança cega, impedindo-o de ver a mistificação e de compreender o absurdo do que escreve, mesmo quando este salta aos olhos de todos. A ilusão pode chegar a ponto de levá-lo a considerar sublime a linguagem mais ridícula. Enganam-se os que pensam que esse tipo de obsessão só pode atingir as pessoas simples, ignorantes e desprovidas de senso. Os homens mais atilados, mais instruídos e inteligentes noutro sentido, não estão mais livres dessa ilusão, o que prova tratar-se de uma aberração produzida por uma causa estranha, cuja influência os subjuga.


Dissemos que as consequências da fascinação são muito mais graves. Com efeito, graças a essa ilusão que lhe é conseqüente o Espírito dirige a sua vítima como se faz a um cego, podendo levá-lo a aceitar as doutrinas mais absurdas e as teorias mais falsas como sendo as únicas expressões da verdade. Além disso, pode arrastá-lo a ações ridículas, comprometedoras e até mesmo bastante perigosas. (1)


Compreende-se facilmente toda a diferença entre obsessão simples e a fascinação. Compreende-se também que os Espíritos provocadores de ambas devem ser diferentes quanto ao caráter. Na primeira, o Espírito que se apega ao médium é apenas um importuno pela sua insistência, do qual ele procura livrar-se. Na segunda, é muito diferente, pois para chegar a tais fins o Espírito deve ser esperto, ardiloso e profundamente hipócrita. Porque ele só pode enganar e se impor usando máscara e uma falsa aparência de virtude.


As grandes palavras como caridade, humildade e amor a Deus servem-lhe de carta de fiança. Mas através de tudo isso deixa passar os sinais de sua inferioridade, que só o fascinado não percebe; e por isso mesmo ele teme, mais do que tudo, as pessoas que vêem as coisas com clareza. Sua tática é quase sempre a de inspirar ao seu intérprete afastamento de quem quer que possa abrir-lhe os olhos. Evitando, por esse meio, qualquer contradição, está certo de ter sempre razão.


A Subjugação


A subjugação é um envolvimento que produz a paralisação da vontade da vítima, fazendo-a agir malgrado seu. Esta se encontra, numa palavra, sob um verdadeiro jugo.


A subjugação pode ser moral ou corpórea. No primeiro caso, o subjugado é levado a tomar decisões freqüentemente absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão considera sensatas: é uma espécie de fascinação. No segundo caso, o Espírito age sobre os órgãos materiais, provocando movimentos involuntários. No médium escrevente produz uma necessidade incessante de escrever, mesmo nos momentos mais inoportunos. Vimos subjugados que, na falta de caneta ou lápis, fingiam escrever com o dedo, onde quer que se encontre, mesmo nas ruas, escrevendo em portas e paredes.


A subjugação corpórea vai às vezes mais longe, podendo levar a vítima aos atos mais ridículos. Conhecemos um homem que, não sendo jovem nem belo, dominado por uma obsessão dessa natureza, foi constrangido por uma força irrestível a cair de joelhos diante de uma jovem que não lhe interessava e pedi-la em casamento. De outras vezes sentia nas costas e nas curvas das pernas uma forte pressão que obrigava, apesar de sua resistência, a ajoelhar-se e beijar a terra nos lugares públicos, diante da multidão. Para os seus conhecidos passava por louco(2), mas estamos convencidos de que absolutamente não o era, pois tinha plena consciência do ridículo que praticava contra a própria vontade e sofria com isso horrivelmente.


Dava-se antigamente o nome de possessão ao domínio exercido pelos maus Espíritos, quando a sua influência chegava a produzir a aberração das faculdades humanas. A possessão corresponderia, para nós, à subjugação. Se não adotamos esse termo, é por dois motivos: primeiro, por implicar a crença na existência de seres criados para o mal e perpetuamente votados ao mal, quando só existem seres mais ou menos imperfeitos e todos eles suscetíveis de se melhorarem; segundo, por implicar também a idéia de tomada do corpo por um Espírito estranho, numa espécie de coabitação, quando só existe constrangimento. A palavra subjugação exprime perfeitamente a idéia. Assim, para nós, não existem possessos, no sentido vulgar do termo, mas apenas obsedados, subjugados e fascinados.


* * *


(1) A fascinação é mais comum do que se pensa. No meio espírita ela se manifesta de maneira ardilosa através de uma avalanche de livros comprometedores, tanto psicografados como sugeridos a escritores vaidosos, ou por meio de envolvimento de pregadores e dirigentes de instituições que se consideram devidamente assistidos para criticarem a Doutrina e reformularem os seus princípios. Muito comum este fato, que vem ocorrendo com espantosa intensidade no Brasil, em virtude da propagação da prática espírita sem o desenvolvimento paralelo do conhecimento doutrinário. Por toda parte aparecem publicações inoportunas, desviando a atenção do público dos problemas fundamentais do Espiritismo, excitando a imaginação e o orgulho de médiuns incultos que, ainda em desenvolvimento, se deixam empolgar pela vaidade pessoal, dando atenção aos elogios de companheiros menos avisados e sendo envolvidos por Espíritos pseudo-sábios, sistemáticos, imaginosos. Todo cuidado é pouco nesse terreno. (N. do T.)


(2) Manias trejeitos, esgares, tiques nervosos e estados permanente de irritação provêm em geral de subjugações corpóreas. Conta-se por milhares os casos de cura obtida em sessões espíritas. Os médicos espíritas, hoje numerosos, geralmente conhecem essa causa e encaminham os clientes a trabalhos apropriados. Os médicos não-espíritas continuam a dar de ombros e a rir do que não conhecem, como faziam os seus colegas do tempo de Pasteur a respeito das infecções. (N. do T.)



Fonte: O Livro dos Médiuns – Allan Kardec

(Cap. 23 – Da Obsessão)

Tradução: José Herculano Pires


O homem: corpo, alma, perispírito





Que é um ser humano?


- Um ser composto de uma alma e de um corpo, isto é, de espírito e carne.


Que é, então, a alma?


- É o princípio de vida em nós. A alma do homem é um Espírito encarnado; é o princípio da inteligência, da vontade, do amor, a sede da consciência e da personalidade.


Que é o corpo?


- O corpo é um envoltório de carne, composto de elementos materiais, sujeitos à mudança, à dissolução e à morte.


O corpo é, então, inferior à alma?


- Sim, porque ele é apenas sua vestimenta.


É necessário então desprezar o corpo, já que ele é inferior à alma?


- De maneira alguma: nada é desprezível. O corpo é o instrumento de que a alma tem necessidade para realizar seu destino; o operário não deve desprezar o instrumento com o qual ganha seu sustento.


A alma está encerrada no corpo ou é o corpo que está contido na alma?


- Nem uma nem outra coisa. A alma, que é espírito, não pode ficar encerrada num corpo; ela irradia por fora, como a luz através do cristal da lâmpada. Nenhum corpo pode mantê-la materialmente cativo; ela pode exteriorizar-se.


Como está unida a alma ao corpo, o espírito à carne?


- Por meio de um elemento intermediário, chamado corpo fluídico ou perispírito, que participa, ao mesmo tempo, da alma e do corpo, do espírito e da carne e os vincula, de alguma forma, um ao outro.


Que quer dizer a palavra perispírito?


- Esta palavra quer dizer: o que está em torno do Espírito. Da mesma forma que o fruto está contido num envoltório muito delgado chamado perisperma, o Espírito está envolvido por um corpo muito sutil denominado perispírito.


Como o perispírito pode unir a carne ao Espírito?


- Penetrando-os e permitindo se interpenetrarem. O perispírito comunica-se com a alma através de correntes magnéticas e com o corpo por meio do fluido vital e do sistema nervoso, que lhe serve, de certa forma, de transmissor.


Então, o homem é, na realidade, composto de três elementos constitutivos?


- Sim, esses três elementos são: o corpo, o espírito e o perispírito.


Quando e onde começa essa união da alma e do corpo?


- No momento da concepção, e se torna definitiva e completa por ocasião do nascimento.


A alma se separa do perispírito, quando se separa do corpo?


- Nunca. O perispírito é sua vestimenta fluídica indispensável. O perispírito precede a vida presente e sobrevive à morte. É ele que permite aos Espíritos desencarnados materializar-se, isto é, aparecer aos vivos, falar-lhes, como acontece por vezes nas reuniões espíritas.


O perispírito é então um corpo fluídico semelhante a nosso corpo material?


- Sim. É um organismo fluídico completo; é o verdadeiro corpo, as verdadeiras formas humanas, a que não muda em sua essência. Nosso corpo material se renova a cada instante; seus átomos se sucedem e se reformam; nosso rosto se transforma com a idade; o corpo fluídico propriamente dito não se modifica materialmente; ele é nossa verdadeira fisionomia espiritual, o princípio permanente de nossa identidade e de nossa estabilidade pessoal.


Onde, então, o perispírito encontrou seu fluido?


- No fluido universal, isto é, na força primordial, etérea. Cada mundo tem seus fluidos especiais, tomados ao fluido universal; cada Espírito tem seu fluido pessoal, em harmonia com o do mundo que ele habita e seu próprio estado de adiantamento.



Retirado do livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis



Jesus psicoterapeuta




Abstraindo-nos de qualquer sentimento religioso ou reverencial à figura histórica de Jesus, constatamos que a mensagem que nos legou possui inequívoca aplicabilidade ao homem de todas as épocas. Ela é atemporal. Jesus foi o Mestre por excelência, não só por dominar todo o conhecimento teológico e escritural judaico de sua época, mas por evidenciar em sua doutrina o Evangelho, a Boa Nova, conhecimentos que transcendem a Filosofia, a Psicologia, a Pedagogia, a Sociologia etc. de nossos tempos. Ele responde às mais pungentes indagações filosóficas, ao mesmo tempo em que desvela a natureza humana e a maneira desta ser transformada para a construção de uma sociedade feliz, composta por indivíduos felizes, realizados. “O Reino de Deus está dentro de vós.”


Revelava assim a nossa natureza crística que nos cabe conhecer ou reconhecer, num encontro profundo conosco mesmo. É a descoberta da nossa verdadeira identidade espiritual, de seres eternos em busca da perfectibilidade. Jung, notável psiquiatra suíço, criador da “Psicologia Profunda”, identificava, já há algumas décadas, o principal arquétipo do homem, a que ele chamou de Self, a instância perfeita de nossa individualidade, que irradiando a sua energia pura, conduz o aperfeiçoamento da personalidade humana em sua marcha evolutiva.


Jesus representa, de alguma forma, o psicoterapeuta do gênero humano, de todos os homens. Sua mensagem vem, sobretudo, salvar-nos de nós mesmos, que insistimos em prestigiar o nosso lado sombrio (a sombra – outro arquétipo junguiano) pela adesão a falsos valores, ao egoísmo e ao orgulho, manifestações diretas do culto ao ego. Por que a infelicidade se multiplica por toda a parte, hoje e desde o princípio da história, senão pela atitude do homem que elege o ter em detrimento do ser, optando pelo efêmero e as aparências, esquecendo o que é eterno e essencial?


Por que o brasileiro, antes considerado um povo cordial, hoje possui uma das sociedades mais violentas do mundo? A resposta está na nossa adesão ao consumismo voraz, insaciável e a um individualismo insensível. Onde estão os valores de solidariedade e afetividade dos nossos avós? Onde a amizade, a simplicidade, o respeito, a tolerância que nos caracterizavam como povo? O Brasil foi engolfado pelo pior da globalização, cuja teoria econômica repousa no capitalismo selvagem e no individualismo socialmente irresponsável, que nos faz regredir aos primitivos tempos da nossa organização social. A sua inconsistência, em todos os aspectos, fica patente por esta crise econômica mundial em que estamos submersos, se já não o fosse pela fome que acomete mais da metade do Planeta.


León Denis, iluminado filósofo espírita, antecipando-se aos tempos que vivemos, já dizia em seu livro O Problema do Ser do Destino e da Dor: “A filosofia da escola, depois de tantos séculos de estudo e de labor, é ainda uma doutrina sem luz, sem calor, sem vida. (...) Daí o desânimo precoce e o pessimismo dissolvente, moléstias das sociedades decadentes, ameaças terríveis para o futuro, a que se junta o ceticismo amargo e zombeteiro de tantos moços da nossa época; em nada mais crêem do que na riqueza, nada mais honram que o êxito.”


Jesus veio nos salvar desta opção pela infelicidade, mostrando-nos a nossa filiação divina e nossa destinação gloriosa. Ele mesmo foi o protótipo do homem realizado, conectado com o seu Self, iluminado pelo Deus interior, fagulha divina que somos todos nós. Dele falam os Evangelhos: sabia ensinar e falar “com poder e com toda autoridade”. “Ficavam todos convencidos daquilo que ele dizia” (Mc 1,22) “porque dele saia uma força que curava todos os males” (Lc 6,19). Sua terapia era a sua doutrina de amor e seu instrumento terapêutico a sua própria personalidade.


Jesus obviamente não foi um psicoterapeuta como modernamente entendemos, no sentido de tratar traumas e neuroses e transtornos de personalidade, mesmo porque não dispunha na época destes recursos conceituais. Ele o foi no sentido lato, mas profundo, pois conhecia plenamente os processos psíquicos construtivos e destrutivos da vida. Ele detinha as qualidades precípuas do terapeuta, pois quem mais senão ele atingiu a integração da personalidade, a identidade e a individuação? Jung frisa que o próprio terapeuta é o próprio método ou a própria terapia. Nenhum terapeuta pode ultrapassar a si próprio na terapia.


No Livro dos Espíritos, obra básica de Allan Kardec, este assim faz a pergunta nº 625 aos espíritos: “Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem para lhe servir de guia e modelo?” Resposta: “Jesus.”


Simples assim. Assim é que Jesus vem a ser o paradigma, o terapeuta imortal que através dos séculos temos buscado na nossa ânsia de libertação, de felicidade. Mas como tem sido mal interpretado! As interpretações dogmáticas de sua doutrina têm-se constituído em verdadeira camisa de força a desnaturá-la e limitá-la.


Em outra pergunta, a 621, indaga-se: “Onde está escrita a lei de Deus?” Resposta: “Na consciência.” Jesus vem a ser, portanto, o nosso guia para adentrarmos os caminhos do nosso interior psicológico, no processo de integração de nossa personalidade, descoberta de nossa autêntica identidade e consequente individuação, ou crescimento, ou evolução psicoespiritual. Isso só acontece pela vivência da lei de Deus, insculpida que está na intimidade de nossa própria consciência. E a lei de Deus, já nos ensinava o Mestre incomparável, é a vivência do amor em suas manifestações mais puras de solidariedade, cooperação, tolerância e fraternidade para com o próximo.



Luiz Antonio de Paiva

Psiquiatra e vice-presidente da Associação Médica Espírita de Goiás

Do site OSGEFIC



Pecados


Quem acompanha este blog sabe que geralmente não posto selos, memes etc, mas há alguns dias eu recebi um desafio da Joana, do blog Idéia Espírita: desenvolver o tema dos “Sete Pecados” na ótica Espírita. Achei interessante abordar esse tema, pois na verdade o Espiritismo não ocupa-se em citar quais os “pecados” do homem, muito menos em condenar ou ditar “penalidades” para quem os comete, ao contrário, preocupa-se com as virtudes, e em como podemos fazer para desenvolvê-las da melhor maneira possível, tornando as nossas vidas mais completas e felizes, sempre com consciência, responsabilidade e equilíbiro, nunca com medo ou culpa. O Espiritismo é uma doutrina racional, que respeita o livre arbítrio das pessoas e esclarece que cada um de nós é responsável pelos seus atos, colhendo, cedo ou tarde, exatamente aquilo que plantou. Simples assim. Bom, resolvi pesquisar e encontrei um ótimo texto sobre o tema, que trago para vocês logo abaixo. Espero que gostem. Antes, gostaria de recomendar a todos a leitura do texto Pecado e Espiritismo, do Blog de Espiritismo.


Quero aproveitar e repassar o desafio a alguns amigos que possuem blogs espíritas/espiritualistas - sem obrigações, mas espero que aceitem! ;)


Manu, do blog Plenitude do Ser

Cris, do blog Irmãos Fraternos

Carlos, do blog Manancial de Luz

Ramon, do blog Pensamentos Humanistas


Abraços, boa semana a todos e vamos ao texto, afinal:


* * * * * *

A Visão Espírita do Pecado


Um dos conceitos mais arraigados na nossa cultura cristã é a idéia do pecado. Desde a mais tenra idade nos ensinam que somos todos pecadores, que tudo de errado que fazemos é pecado e que por isto devemos ser punidos, ou como é mais comum dizermos, castigados. Fazendo-se uma análise, à luz da razão, desta relação entre pecado e castigo, vamos verificar que este é um processo que apenas gera medo e temor, levando-nos a conter nossos atos, não pela educação, mas pela ameaça do respectivo castigo. Mas será esta a maneira adequada de levar as pessoas à obediência do Evangelho? Será este o meio adequado de implantar o amor entre os homens? Antes de nos concentrarmos na busca de uma alternativa, seria interessante que fôssemos procurar a origem desta visão punitiva.

Quando Moisés retirou seu povo do Egito, os Hebreus estavam completamente influenciados pela cultura egípcia, a idéia de um Deus único era estranha e não havia qualquer disciplina entre eles, era um povo rebelde e acostumado à prática do roubo, do adultério e da adoração a vários deuses. Era ainda um povo primitivo, incapaz de espontaneamente modificar sua conduta. Não existia outra maneira de levá-los a abandonar os velhos hábitos a não ser a adoção da imagem de um Deus punitivo, um Deus que se irava e que castigava implacavelmente aqueles que não obedecessem a “sua Lei”, era o tempo do “olho por olho, dente por dente”.

Quando Jesus veio à terra, seu discurso falava de um Deus tão amoroso que ele o chamava de Pai, sua mensagem não era mais o antigo conceito do Deus vingativo, mas do Deus que perdoava e que nos queria vivendo como irmãos, perdoando e oferecendo a outra face.


Com o advento da Idade Média, a Igreja resgatou o conceito mosaico do pecado, e a idéia de que os pecadores precisavam ser castigados como forma de remir suas faltas, além disso, foi fortalecida a idéia da ação do demônio na vida dos homens e de que se não “pagássemos” pelas nossas faltas estaríamos irremediavelmente condenados ao fogo do inferno. Essa concepção foi transmitida através das gerações e chegou até os nossos dias, onde continuamos temendo os castigos de Deus.


O Espiritismo, através de uma visão amadurecida, observa sob uma nova ótica a questão do pecado, lançando a luz do entendimento sobre o assunto e trazendo conforto e esperança aos homens, que doravante apagam a noção de pecadores e passam a assumir o papel de seres em evolução, ainda imperfeitos é verdade, mas rumando inexoravelmente para uma condição superior onde não mais cometerão os erros atuais. Alguns podem julgar esta posição absurda, mas então vamos parar um minuto e perguntar a nós mesmos: Quantos de nós, que somos humanos, ao invés de darmos nova oportunidade a nossos filhos, quando estes fazem algo que julgamos errado, os expulsamos de casa e os condenamos a viver eternamente com sua culpa? Então por que Deus que é o infinito amor agiria de uma forma pior do que a nossa? Afinal não foi Jesus quem disse: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 7:11).

Apaguemos de nossas mentes a idéia da culpa. Na Doutrina Espírita nós não somos culpados; somos responsáveis pelos nossos atos e devemos responder pelas nossas ações, não através do famigerado castigo, mas através de mecanismos que nos levam à conscientização de nossas atitudes equivocadas e da reparação dos mesmos, pois o equívoco faz parte do processo de aprendizado e como seres em evolução precisamos vivenciar as mais diversas experiências para alcançar o progresso espiritual, e nessa jornada de luz é natural que nos enganemos, mas, é imprescindível que nos esforcemos para crescer. O objetivo da lei divina não é punir, mas, educar, fazendo com que cada indivíduo evite repetir seus erros pela compreensão de que sua atitude passada foi inadequada e que é necessário uma mudança de conduta.

As fases deste processo de mudança são: o arrependimento, momento em que reconhecemos a nossa falha de conduta, a expiação, que é quando vamos refletir sobre o que fizemos e finalmente a reparação, que é o ápice deste processo, pois é quando alteramos nossos passos ou corrigimos o ato falho. Observem a lógica desta proposta, nela todos saem enriquecidos; nós, pelo amadurecimento, e o outro (a quem porventura prejudicamos), por ser valorizado ao consertarmos os nossos enganos.

A vida é uma dádiva de Deus, que no-la concedeu, para que alcancemos a felicidade, e não para vivermos com medo, vamos todos então trabalhar para alcançarmos a comunhão com Ele, certos de que: “Todo homem podendo corrigir as suas imperfeições pela sua própria vontade, pode poupar-se os males que delas decorrem e assegurar a sua felicidade futura” (O Céu e o Inferno, Cap VII – Allan Kardec).


Edilson Botto

Do site: Terra Espiritual


Problemas



Nossos problemas nem sempre são tão grandes quanto a nossa incapacidade de nos desfazermos deles...


Qualquer dificuldade se nos agiganta na imaginação porque nos habituamos à excessiva inquietude em torno dela; sem dúvida, é forçoso criar clima propício à solução pacífica e edificante de crises que surjam e para isso justamente é que necessitamos cultivar serenidade e entendimento.


Reflitamos nos problemas cotidianos, categorizando-os por recursos renovadores.


Toda questão embaraçosa nos é apresentada qual se a vida nos propusesse um enigma.
Aceitemo-lo calmamente e vejamos como aproveitá-lo.


Comecemos por uma atitude de compreensão e simpatia, examinando-lhes as facetas.


Se nos achamos perante uma situação desagradável, meditemos nela, não como pesar que nos afete individualmente, mas sim como episódio com funções no benefício geral, e ajudemo-lo a encaixar-se no mecanismo das circunstâncias, em louvor da harmonia comum.


A pedra que acidentalmente nos fira será provavelmente a peça que sustentará a segurança na construção, e, porque nos haja trazido leve dissabor, isso não é motivo para arredá-la do serviço que deve prestar à coletividade.


Assim acontece com a crítica, com a desilusão, com o desentendimento ou com a perseguição gratuita.


Recebamo-los sem mágoa e observemos qual a mensagem favorável e útil de que se fazem veículo.


Tomada semelhante posição, verificaremos que a crítica nos auxilia, à maneira do inseticida capaz de imunizar a árvore do nosso trabalho contra pragas destruidoras que talvez nos ameacem de perto; aquilo que nomeamos como sendo desilusão passa a revelar-se por transformação imperiosa e benéfica; o desentendimento é a oportunidade que, muitas vezes, favorece a supressão de pequeninos obstáculos, antes de se formarem obstáculos maiores, e a perseguição gratuita habitualmente estabelece condições para que o apoio de nossos verdadeiros amigos se levante junto de nós, para união mais íntima e realizações mais amplas.


Nunca te amedrontes diante dos problemas que te apareçam...


Na maioria das circunstâncias, eles significam mudança e mudança pede adaptação à realidade para o bem de todos e mais acentuada felicidade para cada um, no nível em que cada um se coloque.


À frente de qualquer desafio, recordemos que todo problema é um convite da vida, em nome de Deus, para que venhamos a compreender mais amplamente, melhorar sempre e servir mais.



Emmanuel
(Do livro “Encontro Marcado”, FCXavier, edição FEB)

Provas da Existência de Deus


Allan Kardec colocou logo no início de O Livro dos Espíritos um capítulo que trata exclusivamente de Deus. Com isso pretendeu significar que o Espiritismo se baseia em primeiro lugar na idéia de um ser Supremo.


Os Espíritos definiram Deus como “(...) a inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas”. Ora, nesse conjunto imenso de mundos e coisas que constituem o Universo, tal é a grandeza, a magnitude, e são tais a ordem e a harmonia, que, tudo isso, pairando infinitamente acima da capacidade do homem, só pode atribuir-se à Onipotência criadora de um Ser Supremamente inteligente e sábio, Criador necessário de tudo que existe.


Deus, porém, não pode ser percebido pelo homem em sua divina essência. Mesmo depois de desencarnado, dispondo de faculdades perceptivas menos materiais, não pode ainda o Espírito imperfeito perceber totalmente a natureza Divina.


Pode, entretanto, o homem, ainda no estágio de relativa inferioridade em que se encontra, ter convincentes provas de que Deus existe, mas advindas por dois outros caminhos, que transcendem aos sentidos: o da razão e o do sentimento.


Racionalmente, não é possível admitir um efeito sem causa. Olhando o Universo imenso, a extensão infinita do espaço, a ordem e harmonia a que obedece a marcha dos mundos inumeráveis; olhando ainda os seres da Natureza, os minerais com suas admiráveis formas cristalinas, o reino vegetal em sua exuberância, numa variedade de plantas quase infinita, os animais com seus portes altivos ou a fragrância de certas aves e as miríades de insetos; sondando também o mundo microscópico com incontáveis formas unicelulares; toda essa imensidão, profusão e beleza nos obriga a crer em Deus, como causa necessária. Mas, se preferirmos contemplar apenas o que é o nosso próprio corpo, quanta harmonia também divisaremos na nossa roupagem física, nas funções que se exercem à revelia de nossa vontade num ritmo perfeito. Nas maravilhas que são os nossos sentidos; os olhos admiravelmente dispostos para receber a luz refletida nos corpos, condicionando no plano físico a percepção dos objetos e das cores; o ouvido, adredemente estruturado à percepção de sons, melodias e grandiosas sinfonias; o olfato, o gosto, o tato, outros tantos sentidos que nos permitem intuir-nos sobre a objetividade das coisas. Toda essa perfeição, a harmonia da natureza humana e no mundo exterior ao homem, só pode ser criação de um Ser Supremamente Inteligente e Sábio, o qual chamamos de Deus.


É pelo sentimento, mais do que pelo raciocínio, que o homem pode compreender a existência de Deus. Porém, há no homem, desde o mais primitivo até o mais civilizado, a idéia inata da existência de Deus. Acima, pois, do raciocínio lógico prova-nos a existência de Deus a intuição que dele temos. E, Jesus, ensinando-nos a orar no-lo revelou como o Pai: Pai Nosso, que estás no Céu, Santificado seja o teu nome. (...)


O Espiritismo, portanto, tem na existência de Deus o princípio maior, que está na base mesma desta Doutrina. Sem pretender dar ao homem o conhecimento da Natureza íntima de Deus, permite-se argumentar que prova a sua existência a realidade palpitante e viva do Universo. Se este existe, há de ter um divino Autor.


A história da idéia de Deus mostra-nos que ela sempre foi relativa ao grau de intelectualidade dos povos e de seus legisladores, correspondendo aos movimentos civilizadores, à poesia dos climas, às raças, à florescência de diferentes povos: enfim, aos progressos espirituais da Humanidade. Descendo pelo curso dos tempos, assistimos sucessivamente aos desfalecimentos e tergiversações dessa idéia imperecível que, às vezes, fulgurante, e outras vezes eclipsada, pode, todavia, ser identificada sempre, nos fatos da Humanidade.


Nos movimentos revolucionários que aos poucos foram transformando a mentalidade da sociedade humana; às custas das idéias, opiniões e conceitos emitidos pelos sábios, filósofos, cientistas ou religiosos, podemos dizer que, se de um lado a ignorância havia humanizado Deus, a ciência diviniza-o por outro.


Outrora, Deus foi homem; hoje Deus é Deus. O Ser Supremo, criado à imagem do homem, hoje vê apagar-se pouco a pouco essa imagem, substituída por uma realidade sem forma. Outrora, Júpiter empunhava o raio, Apolo conduzia o Sol, Netuno senhoreava os mares... Na idolatria dos budistas, Deus ressuscitava um morto sobre o túmulo de um santo, fazia falar um mudo, ouvir um surdo, crescer um carvalho numa noite, emergir d’água um afogado... Desvendava a um estático as zonas do terceiro céu, imunizava do fogo, são e salvo, um santo mártir, transportava um pregador, num abrir e fechar de olhos, a cem léguas de distância, e derrogava, cada momento, as suas próprias, eternas leis...


A maioria dos crentes em Deus o conceituam como um super-homem, alhures assentado acima das nossas cabeças, presidindo os nossos atos.


Na realidade, pouco sabemos sobre a Natureza divina. Ele não é o Varouna dos árias, o Elim dos egípcios, o Tien dos chineses, o Ahoura-Mazda dos persas, o Brama ou Buda dos indianos, o Jeová dos hebreus, o Zêos dos gregos, o Júpiter dos latinos, nem o que os pintores da Idade Média entronizavam na cúspide dos céus.


Nosso Deus é um Deus ainda desconhecido, qual o era para os Vedas e para os sábios do Areópago de Atenas. No entanto, no estado evolutivo em que nos encontramos podemos sentir que Deus não é abstração metafísica, ideal que não existe. Não, Deus é um ser vivo, sensível, consciente. Deus é uma realidade ativa. Deus é nosso pai, nosso guia, nosso condutor, nosso melhor amigo; por pouco que lhe dirijamos apelos e que lhe abramos o nosso coração, Ele nos esclarecerá com a sua luz, nos aquecerá no seu amor, expandirá sobre nós sua Alma imensa, sua Alma rica de todas as perfeições; por Ele e Nele somente nos sentiremos felizes e verdadeiramente irmãos, fora dele só encontraremos obscuridade, incerteza, decepção, dor e miséria moral.


Tal é o conceito que nossa inteligência, na fase evolutiva em que se encontra, pode fazer de Deus.



Fonte: Site Lar de Frei Luiz (Estudos Espíritas)



*** *** ***


Sugestões de Leitura (Livros):


O Livro dos Espíritos – Allan Kardec


O Grande Enigma – Léon Denis


Deus na Natureza – Camille Flammarion


* * *

Achar que o mundo não tem Criador é o mesmo que afirmar que um dicionário é o resultado de uma explosão numa tipografia.”

Benjamin Franklin


Passe e Água Fuidificada



Nos processos de cura, como deveremos compreender o passe?


Emmanuel - Assim como a transfusão de sangue representa uma renovação das forças físicas, o passe é uma transfusão de energias psíquicas,com a diferença de que os recursos orgânicos são retirados de um reservatório limitado, e os elementos psíquicos o são do reservatório ilimitado das forças espirituais.


Como deve ser recebidos e dados os passes?


Emmanuel - O passe poderá obedecer à fórmula que forneça maior porcentagem de confiança, não só a quem o dá, como a quem o recebe. Devemos esclarecer, todavia, que o passe é a transmissão de uma força psíquica e espiritual, dispensando qualquer contato físico na sua aplicação.


A chamada “benzedura”, conhecida nos meios populares, será uma modalidade do passe?


Emmanuel - As chamadas “benzeduras”, tão comuns no ambiente popular, sempre que empregadas na caridade, são expressões humildes do passe regenerador, vulgarizado nas instituições espirituais de socorro e de assistência.


Jesus nos deu a primeira lição nesse sentido, impondo as mãos divinas sobre os enfermos e sofredores, no que foi seguido pelos apóstolos do Cristianismo primitivo.


Toda boa dádiva e dom perfeito vêm do Alto” – dizia o apóstolo, na profundeza de suas explanações.


A prática do bem pode assumir as fórmulas mais diversas. Sua essência, porém, é sempre a mesma diante do Senhor.


No tratamento ministrado pelos Espíritos amigos, a água fluidificada, para um doente, terá o mesmo efeito em outro enfermo?


Emmanuel - A água pode ser fluidificada, de modo geral, em benefício de todos; todavia, pode sê-lo em caráter particular para determinado enfermo, e, neste caso, é conveniente que o uso seja pessoal e exclusivo.


Existem condições especiais para que os Espíritos amigos possam fluidificar a água pura, como sejam as presenças de médiuns curadores, reuniões de vários elementos etc etc?


Emmanuel - A caridade não pode atender a situações especializadas. A presença de médiuns curadores, bem como as reuniões especiais, de modo algum podem constituir o preço do benefício aos doentes, porquanto os recursos dos guias espirituais, nessa esfera de ação, podem independer do concurso medianímico, considerando o problema dos méritos individuais.


O fato de um guia espiritual receitar para determinado enfermo, é sinal infalível de que o doente terá de curar-se?


Emmanuel - O guia espiritual é também um irmão e um amigo, que nunca ferirá as vossas mais queridas esperanças.


Aconselhando o uso de uma substância medicamentosa, alvitrando essa ou aquela providência, ele cooperará para as melhoras de um enfermo e, se possível, para o pleno restabelecimento de sua saúde física, mas não poderá modificar a lei das provações ou os desígnios supremos dos planos superiores, na hipótese da desencarnação, porque, dentro da Lei, somente Deus, seu Criador, pode dispensar.



Retirado do livro "O Consolador" - Pelo Espírito Emmanuel - Psicografia de Francisco Cândido Xavier - Ed. FEB.


O Espiritismo na Antiguidade





Pergunta: Os sacerdotes do antigo Egito tinham conhecimento da Doutrina Espírita?


Resposta: Era a deles.


Pergunta: Recebiam manifestações?


Resposta: Sim.


Pergunta: As manifestações que obtinham os sacerdotes egípcios tinham a mesma fonte das que Moisés obtinha?


Resposta: Sim, ele foi iniciado por aqueles.


Pergunta: Pensais que a doutrina dos sacerdotes Egípcios tinha qualquer relação com a dos Indianos?


Resposta: Sim; todas as religiões mães estão ligadas entre si por laços quase invisíveis; decorrem de uma mesma fonte.



Diálogo de Allan Kardec com Méhémet-Ali, antigo paxá do Egito.

(Comunicação em 16 de março de 1858, presente na Revista Espírita - Abril/1858)


* * *


A rapidez com a qual se propagaram, em todas as partes do mundo, os fenômenos estranhos das manifestações espíritas, é uma prova do interesse que causam. Simples objeto de curiosidade, a princípio, não tardaram em despertar a atenção dos homens sérios que entreviram, desde o início, a influência inevitável que devem ter sobre o estado moral da sociedade. As idéias novas que deles surgem, se popularizam cada dia mais, e nada poderia deter-lhes o progresso, pela razão muito simples de que esses fenômenos estão ao alcance de todo mundo, ou quase todo, e que nenhuma força humana pode impedi-los de se produzirem.


Se bem que tudo prova que (os fenômenos) ocorreram desde os tempos mais recuados. Não se trata de fenômenos naturais nas invenções que seguem o progresso do espírito humano; desde que estão na ordem das coisas, sua causa é tão velha quanto o mundo e os efeitos devem ter-se produzido em todas as épocas. O que, pois, testemunhamos hoje não é uma descoberta moderna: é o despertar da antiguidade, mas, da antiguidade liberta da companhia mística que engendrou as superstições, da antiguidade esclarecida pela civilização e o progresso nas coisas positivas.


O fato das comunicações com o mundo invisível se encontra em termos inequívocos nos relatos bíblicos; mas, de um lado, para certos céticos, a Bíblia não tem uma autoridade suficiente; por outro lado, para os crentes, são fatos sobrenaturais, suscitados por um favor especial da Divindade. Não haveria aí, pois, para todo o mundo, uma prova da generalidade dessas manifestações, se não as encontrássemos em milhares de outras fontes diferentes.


A existência dos Espíritos, e a sua intervenção no mundo corporal, está atestada e demonstrada, não mais como um fato excepcional, mas como princípio geral, em Santo Agostinho, São Jerônimo, São Crisóstomo, São Gregório de Nazianzeno e muitos outros Pais da Igreja Essa crença forma, por outro lado, a base de todos os sistemas religiosos. Os mais sábios filósofos da antiguidade a admitiram: Platão, Zoroastro, Confúcio, Apuleio, Pitágoras, Apolônio de Tiana e tantos outros.


Nós a encontramos nos mistérios e nos oráculos, entre os Gregos, os Egípcios, os Hindus, os Caldeus, os Romanos, os Persas, os Chineses. Vemo-la sobreviver a todas as vicissitudes dos povos, a todas as perseguições, desafiar todas as revoluções físicas e morais da Humanidade. Mais tarde, encontramo-la nos adivinhos e feiticeiros da Idade Média, nos Willis e nas Walkirias dos Escandinavos, nos Elfos dos Teutões, nos Leschios e nos Domeschnios Doughi dos Eslavos, nos Ourisks e nos Brownies da Escócia, nos Poulpicans e nos Ten-sarpoulicts dos Bretões, nos Cemis dos Caraíbas, em uma palavra, em toda a falange de ninfas, de gênios bons e maus, de silfos, de gnomos, de fadas, de duendes, com os quais todas as nações povoaram o espaço. Encontramos a prática das evocações entre os povos da Sibéria, no Kamtchatka, na Islândia, entre os índios da América do Norte, entre os aborígenes do México e do Peru, na Polinésia e mesmo entre os selvagens da Oceania.


A consequência capital, que ressalta desses fenômenos, é a comunicação, que os homens podem estabelecer, com os seres do mundo incorpóreo, e os conhecimentos que podem, em certos limites, adquirir sobre seu estado futuro. Ora, uma doutrina não se torna universal, e nem sobrevive a milhares de gerações, nem se implanta, de um pólo ao outro, entre os povos mais dessemelhantes, e em todos os graus da escala social, sem estar fundada em alguma coisa de positiva. O que é essa alguma coisa? É o que nos demonstram as recentes manifestações. Procurar as relações que podem e devem ter entre essas manifestações e todas essas crenças, é procurar a verdade. A história da Doutrina Espírita, de alguma forma, é a do espírito humano.


A Doutrina Espírita nos oferece, enfim, a única solução possível e racional de uma multidão de fenômenos morais e antropológicos, dos quais, diariamente, somos testemunhas, e para os quais se procuraria, inutilmente, a explicação em todas as doutrinas conhecidas.


Edição de textos retirados da Revista Espírita – Allan Kardec (Ano I – 1858)


* * *


A doutrina hoje ensinada pelos Espíritos nada tem de novo; seus fragmentos são encontrados na maior parte dos filósofos da Índia, do Egito e da Grécia, e se completam nos ensinos de Jesus Cristo. A que vem, pois, o Espiritismo ? Vem confirmar com novos testemunhos e demonstrar com os fatos, verdades desconhecidas ou mal compreendidas e restabelecer em seu verdadeiro sentido aquelas que foram mal interpretadas ou deliberadamente alteradas.


O que é certo é que nada de novo ensina o Espiritismo. Mas será pouco provar de modo patente e irrecusável a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade após a morte, sua imortalidade, e as penas e recompensas futuras?”


(Allan Kardec – No livro: 'O que é o Espiritismo' – Introdução)



Feridas e Cicatrizes da Infância




Tem sido estabelecido através da cultura dos tempos, que a infância é o período mais feliz da existência humana, exatamente pela falta de discernimento da criança, e em razão das suas aspirações que não passam de desejos do desconhecido, de necessidades imediatas, de ignorância da realidade.


Os seus divertimentos são legítimos, porque a eles se entrega em totalidade, sem qualquer esforço, graças à imaginação criadora que a transporta para esse mundo subjacente do crer naquilo que lhe parece. Não estando a personalidade ainda formada, não há dissociação entre o que tem existência real e aquilo que somente se fundamenta na experiência mental.


A criança atravessa esse período psicologicamente feliz, sem o saber, com as exceções compreensíveis de casos especiais, porque tampouco sabe o que é a felicidade. Só mais tarde, na idade adulta é que, recordando os anos infantis, constata o seu valor e pode ter dimensão dos acontecimentos e prazeres.


Como a criança não sabe o que é felicidade, facilmente identifica-a no divertimento, aquilo que a agrada e a distrai, os jogos que lhe povoam a imaginação.


É na infância que se fixam em profundidade os acontecimentos, aliás, desde antes, na vida intra-uterina, quando o ser faz-se participante do futuro grupo familiar no qual renascerá. As impressões de aceitação como de rejeição se lhe insculpirão em profundidade, abençoando-o com o amor e a segurança ou dilacerando-lhe o sistema emocional, que passará a sofrer os efeitos inconscientes da animosidade de que foi objeto.


Da mesma forma, os acontecimentos à sua volta, direcionados ou não à sua pessoa, exercerão preponderante influência na formação da sua personalidade, tornando-a jovial, extrovertida ou conflitada, depressiva, insegura, em razão do ambiente que lhe plasmou o comportamento.


Essas marcas acompanhá-la-ão até a idade adulta, definindo-lhe a maneira de viver. Tornam-se feridas, quando de natureza perturbadora, que mesmo ao serem cicatrizadas, deixam sinais que somente uma terapia muito cuidadosa consegue anular.


Por sua vez, o Espírito, em processo de reencarnação, acompanha mui facilmente os lances que precedem à futura experiência, e porque podendo movimentar-se com relativa liberdade antes do mergulho total no arquipélago celular, compreende as dificuldades que terá de enfrentar mais tarde, ao sentir-se desde então indesejado, maltratado, combatido.


Certamente, essa ocorrência tem lugar com aqueles que se vêem impelidos ao renascimento para reparar pesados compromissos infelizes, retornando ao seio das suas anteriores vítimas que agora os rechaçam, o que é injustificável.


A bênção de um filho constitui significativa conquista do ser humano, que se deve utilizar do ensejo para crescer e desenvolver os sentimentos superiores da abnegação e do amor.


As reações vibratórias que podem produzir os Espíritos antipáticos na fase perinatal, produzem, não raro, mal-estar. Não obstante, a ternura e a cordialidade fraternal substituem as ondas perturbadoras por outras de natureza saudável, preparando os futuros pais para o processo de aprimoramento e de educação do descendente.


Na raiz de muitos conflitos e desequilíbrios juvenis, adultos, e até mesmo ressumando na velhice, as distonias tiveram origem — efeito de causa transata —no período da gestação, posteriormente na infância, quando a figura da mãe dominadora e castradora, assim como do pai negligente, indiferente ou violento, frustrou os anseios de liberdade e de felicidade do ser.


Todos nascem para ser livres e felizes. No entanto, pessoas emocionalmente enfermas, ante o próprio fracasso, transferem para os filhos aquilo que gostariam de conseguir, suas culpas e incapacidades, quando não descarregam todo o insucesso ou insegurança naqueles que vivem sob sua dependência.


Esse infeliz recurso fere o cerne da criança, que se faz pusilânime, a fim de sobreviver, ou leva-a a refugiar-se no ensimesmamento, na melancolia, sentindo-se vazia de afeto e objetivo de vida. Com o tempo, essas feridas purulam, impelindo a atitudes exóticas, a comportamentos instáveis, às fugas para o fumo, a droga, o álcool ou as diversões violentas, mediante as quais extravasam o ressentimento acumulado, ou mergulham no anestésico perigoso da depressão com altos reflexos na conduta sexual, incompleta, insatisfeita, alienadora...


A sociedade terá que atender à infância através de mecanismos próprios, preenchendo os espaços deixados pela ausência do amor na família, na educação escolar, na convivência do grupo, nas oportunidades de desenvolvimento e de auto-afirmação de cada qual. Para tal mister, torna-se necessário o equilíbrio do adulto, do educador formal, que pode funcionar como psicoterapeuta, orientando melhor o aprendiz e reencaminhando-o para a compreensão dos valores existenciais e das finalidades da vida.


Inveja, mágoa, ciúme, instabilidade, ódio, pusilanimidade e outros hediondos sentimentos que afligem as crianças maltratadas, carentes, abandonadas, mesmo nas casas onde moram, desde que não são lares verdadeiros, constituem os mecanismos de reação de todos quantos se sentem infelizes, mesmo que inconscientemente.


A compreensão dos direitos alheios e dos próprios deveres, o contributo da fraternidade, a segurança afetiva, a harmonia interior, a compaixão, a lealdade, se instalarão no ser, cicatrizando as feridas, à medida que o meio ambiente se transforme para melhor e o afeto dos outros, sincero quão desinteressado, substitua a indiferença habitual.


Qualquer ferida emocional cicatrizada pode reabrir-se de um para outro momento, porquanto não erradicada a causa desencadeadora, os tecidos psicológicos estarão muito frágeis, rompendo-se com facilidade, pela falta de resistência aos impactos enfrentados.


A questão da felicidade, por isso mesmo, é muito relativa. Se a felicidade são os divertimentos, ou é o prazer, ei-la de fácil aquisição. No entanto, se está radicada na plenitude, muito complexa é a engrenagem que a aciona.


De certo modo, ela somente se expressa em totalidade, quando o artista conclui a obra a que se entrega, o santo ao ministério de amor a que se devota, o cientista realiza a pesquisa exitosa, o pensador atinge com a sua mensagem o mundo que o aguarda, o cidadão comum se sente em paz consigo mesmo... O dar-se, a que se refere o Evangelho, certamente é a melhor metodologia para alcançar-se essa ventura que harmoniza e plenifica.


Toda vez, portanto, que alguém sinta incompletude, insegurança, seja visitado pelos sentimentos inquietadores da insegurança, do medo, da raiva e da inveja injustificáveis, exceção feita aos estados patológicos profundos, as feridas da infância estão ainda abertas ou reabrindo-se, e necessitando com urgência de cicatrização.



Do livro “Amor, Imbatível Amor”

Pelo Espírito 'Joanna de Ângelis'

Psicografia Divaldo Pereira Franco