A Geração Nova



Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem.


Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso.


Irão expiar o endurecimento de seus corações, uns em mundo inferiores, outros em raças terrestres ainda atrasadas, equivalente a mundos daquela ordem, aos quais levarão os conhecimentos que hajam adquirido, tendo por missão fazê-las avançar. Substitui-los-ão Espíritos melhores, que farão reinar em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade.


A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclisma que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas.


Tudo, pois, se processará exteriormente, como deve acontecer, com a única, mas capital diferença, de que uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí não mais tornarão a encarnar. Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem.


A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermediário, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhe são peculiares.


Têm idéias e pontos de vista opostos as duas gerações que se sucedem. Pela natureza das disposições morais, porém, sobretudo das disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo.


Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior.


Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração.


O que, ao contrário, distingue os Espíritos atrasados é, em primeiro lugar, a revolta contra Deus, pelo se negarem a reconhecer qualquer poder superior aos poderes humanos; a propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos antifraternos de egoísmo, de orgulho, de inveja, de ciúme, enfim, o apego a tudo que é material: a sensualidade, a cupidez, a avareza.


Desses vícios é que a Terra tem que ser expurgada pelo afastamento dos que se obstinam em não emendar-se; porque são incompatíveis com o reinado da fraternidade e porque o contato com eles constituirá sempre um sofrimento para os homens de bem. Quando a Terra se achar livre deles, os homens caminharão sem óbices para o futuro melhor, que lhes está reservado, mesmo neste mundo, por prêmio de seus esforços e de sua perseverança, enquanto esperam que uma depuração mais completa lhes abra o acesso aos mundos superiores.


*** *** ***


É muito simples o modo por que se opera a transformação, sendo, como se vê, todo ele de ordem moral, sem se afastar em nada das leis da Natureza.


Sejam os que componham a nova geração Espíritos melhores, ou Espíritos antigos que se melhoraram, o resultado é o mesmo. Desde que trazem disposições melhores, há sempre uma renovação. Assim, segundo suas disposições naturais, os Espíritos encarnados formam duas categorias: de um lado, os retardatários, que partem; de outro, os progressistas, que chegam. O estado dos costumes e da sociedade estará, portanto, no seio de um povo, de uma raça, ou do mundo inteiro, em relação com aquela das duas categorias que preponderar.


Por estarem muitos, apesar de suas imperfeições, maduros para a transformação, é que muitos partem, a fim de apenas se retemperarem em fonte mais pura. Enquanto se conservassem no mesmo meio e sob as mesmas influências, persistiriam nas suas opiniões e nas suas maneiras de apreciar as coisas. Uma estada no mundo dos Espíritos bastará para lhes descerrar os olhos, por isso que aí vêem o que não podiam ver na Terra. O incrédulo, o fanático, o absolutista, poderão, conseguintemente, voltar com idéias inatas de fé, tolerância e liberdade. Ao regressarem, acharão mudadas as coisas e experimentarão a influência do novo meio em que houverem nascido. Longe de se oporem às novas idéias, constituir-se-ão seus auxiliares.


A regeneração da Humanidade, portanto, não exige absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Essa modificação se opera em todos quantos lhe estão predispostos, desde que sejam subtraídos à influência perniciosa do mundo. Assim, nem sempre os que voltam são outros Espíritos; são com freqüência os mesmos Espíritos, mas pensando e sentindo de outra maneira.



Fonte: ‘A Gênese’ – Allan Kardec

(Cap. XVIII – São Chegados os Tempos – Itens 27 a 35)



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“Pelo Espiritismo a humanidade deve entrar em uma nova fase, a do progresso moral, que é a sua conseqüência inevitável”. Allan Kardec


“Melhorados os homens, não fornecerão ao mundo invisível senão bons espíritos; estes, encarnando-se, por sua vez só fornecerão à Humanidade corporal elementos aperfeiçoados. A Terra deixará, então, de ser um mundo expiatório e os homens não sofrerão mais as misérias decorrentes das suas imperfeições”. Allan Kardec



Conseqüências de um Suicídio



Na noite de 24 para 25 de Maio de 2008 manifestou-se psicofonicamente um amigo suicida que nos contou sua história e seus sofrimentos.


Disse-nos sua identidade que, por razões óbvias, não revelamos.


Antes de se manifestar psicofonicamente, este companheiro espiritual gemia de sofrimento...





Doutrinador: Podeis dizer o que sentis?


Espírito: ...O meu corpo... está todo partido.


Doutrinador: Como aconteceu isso amigo?


Espírito: Deitei-me debaixo de um comboio. Fiquei todo estraçalhado.


Doutrinador: Caíste sem querer?


Espírito: Não. Atirei-me no desespero.


Doutrinador: Olha, meu amigo, vamos rogar a Deus nosso Pai e a Jesus Nosso Mestre, a ajuda.


Espírito: Não tenho feito outra coisa... Já me disseram. Estive muito tempo louco.


Já me disseram que estou um bocadinho melhor. Mas as dores ainda são muitas.


E vim aqui hoje ouvir as vossas lições e servir ... servir de exemplo, ao mesmo tempo que venho recuperar forças aqui.


Já me explicaram... Venho buscar entrar noutro corpo para receber... poder reconstruir o meu corpo e servir de exemplo... para que nenhum de vós façais o mesmo um dia algo de semelhante àquilo que eu fiz, porque ninguém tem o direito de tirar a própria vida e sofre-se muito, muito mais do que antes desse acto, quando julgávamos que a vida era uma escuridão, que não havia saída.


Sofre-se muito... muito... não tem comparação com o sofrimento que se experimenta depois durante muitos e muitos anos... muitos e muitos anos. Eu não sei explicar, mas o corpo que já não temos continua conosco no nosso íntimo. Sentimos cada músculo, cada osso estraçalhado, tudo como se fossemos vivos. Pior, porque destruímos tudo o que tínhamos... e isso é justo, segundo percebi.


Não há outra maneira de recuperar senão o tempo e a mudança dos pensamentos. Não sabemos porquê, só mudam com muito sofrimento e depois de muito tempo passado. Ainda me dói muito, muito, muito e já lá vai muito tempo...


Doutrinador: Recordas-te há quantos anos, querido irmão?


Espírito: Vai fazer 100 anos. Só agora, há pouco é que fui socorrido. Embora sem o saber tenha sido sempre ajudado por Deus, que nunca me abandonou, e por outros seus enviados que eu nunca vi, mas que ficavam perto. Eu só via o meu corpo.


Enlouquecido de dor como se ainda fosse vivo e de desespero pelo que tinha feito, revivendo a toda e hora o acto que cometi.


Uma vez e outra via-me atirando para debaixo do comboio e via o meu corpo sendo todo desfeito.


Julgando que ia encontrar o esquecimento, encontrei a loucura e a dor que ninguém pode explicar senão vivendo... Ai...


Doutrinador: Rogamos a Deus, meu amigo, ajuda para ti. E neste momento estais sendo auxiliado por mensageiros de Jesus, Nosso Mestre.


Espírito: Estou, estou. Eu bem sinto um alívio muito grande às minhas imensas dores. Só mais uns tempos me ajudarão a recuperar, embora eu tenha boa vontade. São coisas muito demoradas...


Doutrinador: Mas vais conseguir, amigo... vais conseguir.


Espírito: Neste lado da vida, onde julgamos que se encontram os mortos, temos todo o tempo do mundo para, porque aqui não há tempo e nós, com a ajuda de todos e com a esperança e fé em Deus vamos conseguindo.


Este é mais um socorro que recebi hoje, um grande alívio para as minhas dores.


Doutrinador: E sabes, amigo, como vieste aqui ter, quem aqui te trouxe?


Espírito: Trouxe-me um auxiliar. Daqueles anjos que nos recolhem da lama, sem pedir nada em troca. Que nos acolhem e tratam da nossa loucura com medicamentos que eu não sei descrever, mas que são uma espécie dos medicamentos que na atualidade chamam homeopáticos... e muita oração em locais semelhantes a hospitais, insonorizados, higienizados, onde não entram vírus, semelhantes a pensamentos destrutivos.


Doutrinador: Muito bem, querido amigo. Temos a certeza que irás recuperar... Estamos solidários contigo...


Espírito: Sobretudo por muito má que a vida vos pareça, por maiores que sejam os golpes, afastai-vos dos pensamentos de destruição do maior bem que recebemos, que é a nosso vida, embora a nós não nos pertença. Só Deus pode decidir quando ela acaba.


Ninguém tem o direito de o fazer antes, porque receberá sempre as conseqüências.


Não que Deus nos castigue. Nós é que nos castigamos com esses atos de rebeldia, de orgulho e de insensatez.


Doutrinador: Tens razão, amigo. Certamente situações da tua última existência te levaram a esse ato desesperado...


Espírito: Mas que nunca seria justificado, porque atentei contra as leis divinas.


Doutrinador: Mas este tratamento e outros que irás receber irão ajudar a recuperar, a refletir sobre tua existência, sobre tua vida, sobre o futuro. E tenho a certeza que irás recuperar numa próxima existência, no plano físico.


Espírito: Com mais lutas ainda para mostrar que aprendi a lição e espero bem aprender!


Doutrinador: Todos nós temos sempre mais lutas...


Espírito: Mas é este ato um dos mais graves que a Humanidade pode cometer. Agora tão em voga, pois no meu tempo era condenado por todos, embora sancionado quando se tratava de lavar a honra das famílias.


Agora, por qualquer coisa se quer acabar com a vida, não dando importância às Leis de Deus, que estão fora de moda e nas quais já poucos acreditam e grandes desilusões sofrem deste lado e muito sofrimento os espera.


Daí que eu queira trabalhar quando recuperar, junto dos que permanecem vivos na Terra. Vivos de corpo, mas ainda não tendo nascido para a verdadeira vida, ignorantes como crianças que ainda não aprenderam.


É esse o meu desejo depois de curar-me. Divulgar por todos aquilo por que passei, para que registrem e evitem o ato de matar aquilo que Deus criou.


Doutrinador: Olha, querido amigo. Ainda te lembras de teu nome, de tua família, de tua cidade?


Espírito: Eu era A.B. e vivi em Braga. Vai fazer cem anos, embora tenha perdido um pouco essa noção do tempo, da sua contagem. É algo que me dizem os amigos que me rodeiam.


Doutrinador: Querido amigo, estamos solidários contigo. Estes momentos em que estás aqui conosco, certamente são boa terapia para o teu espírito. O nosso médico, que é Jesus, o médico das almas vai curar-te a ti e a nós todos através de mensageiros seus. Mas a reflexão que fizeste mostra bem como estás consciente de toda a tua situação.


Nós, aqui no plano físico, lemos relatos circunstanciados de amigos que estão na espiritualidade, que cometeram na última existência o ato do suicídio e relataram tudo o que viveram, o que sofreram, por que padeceram. E depois o reerguimento. Que é o que sucederá contigo. A fé em Deus Nosso Pai na Bondade Infinita e Jesus nosso Mestre...


Espírito: Que tudo perdoa...


Doutrinador:...Te irão ajudar. Sei que não estás sozinho aqui. Provavelmente outros amigos como tu...


Espírito: Nunca estive sozinho embora eu julgasse que sim. E ninguém está sozinho. Por mais que não o veja não o ouça não o sinta... ninguém está sozinho.


Doutrinador: ... Mas digo eu. Provavelmente outros amigos na tua situação...


Espírito: Há alguns sim. Alguns estão aqui presentes. Por que nunca se desperdiça uma oportunidade que seja para auxílio a todos que o necessitam. Nunca se desperdiça estas oportunidades num só ser, porque muitos são os aflitos.


Doutrinador: A todos os companheiros presentes o nosso abraço e rogamos a Deus muita luz para todos.


Espírito: Um pedido apenas. Ficai uns minutos pedindo muita luz sobre este ambiente, porque ela ainda é necessária para alguns amigos que estão neste ambiente sem consciência da situação em que se encontram... e dispensai mais palavras pelo orientador dos trabalhos que transmite o seu pedido de desculpas por achar que nada mais há a dizer... e que todo o trabalho deve ser dirigido ao auxilio de todos os que aqui se encontram.


Mil obrigados. Eternamente serei reconhecido. Talvez um dia vos possa pagar... aquilo que me acabastes de fazer. Que Deus vos auxilie a todos e vos proteja com bons pensamentos.


Doutrinador: Obrigado, querido amigo. Que Deus esteja contigo. Um grande abraço. Da nossa parte vamos continuar em concentração, mentalizando muita luz, durante 10, 15 minutos... o tempo necessário.


Manuel
Núcleo Espírita ‘Amigo Amen’
Santa Maria – Portugal



Retirado do blog Idéia Espírita


Veja uma linda história de caridade => O Suicida do Trem


Inteligência e Instinto



Pergunta: A inteligência é um atributo do princípio vital?


Resposta dos Espíritos Não; pois as plantas vivem e não pensam, tendo apenas a vida orgânica. A inteligência e a matéria são independentes, pois um corpo pode viver sem inteligência; mas a inteligência não pode manifestar-se senão por meio dos órgãos materiais: somente a união com o espírito dá a inteligência à matéria animalizada.


Comentário de Allan Kardec: A inteligência é uma faculdade especial, própria de certas classes de seres orgânicos, aos quais dá, com o pensamento, a vontade de agir, a consciência de sua existência e de sua individualidade, assim como os meios de estabelecer relações com o mundo exterior e de prover às suas necessidades.


Podemos fazer a seguinte distinção:


l.°) os seres inanimados, formados somente de matéria, sem vitalidade nem inteligência: são os corpos brutos;


2.°) os seres animados não-pensantes, formados de matéria e dotados de vitalidade, mas desprovidos de inteligência;


3.°) os seres animados pensantes, formados de matéria, dotados de vitalidade e tendo ainda um princípio inteligente que lhes dá a faculdade de pensar.


Pergunta: Qual é a fonte da inteligência?


Resposta Já dissemos: a inteligência universal.


Pergunta: Poderíamos dizer que cada ser tira uma porção de inteligência da fonte universal e a assimila, como tira e assimila o princípio da vida material?


Resposta Isto não é mais do que uma comparação, mas não é exata, porque a inteligência é uma faculdade própria de cada ser e constitui a sua individualidade moral. De resto, bem o sabeis, há coisas que não é dado ao homem penetrar, e esta, por enquanto, é uma delas.


Pergunta: O instinto é independente da inteligência?


Resposta Precisamente, não, porque é uma espécie de inteligência. O instinto é uma inteligência não racional; é por ele que todos os seres provêm às suas necessidades.


Pergunta: Pode-se assinalar um limite entre o instinto e a inteligência, ou seja, precisar onde acaba um e onde começa a outra?


Resposta Não, porque eles freqüentemente se confundem; mas podemos muito bem distinguir os atos que pertencem ao instinto dos que pertencem à inteligência.


Pergunta: É acertado dizer que as faculdades instintivas diminuem, à medida que crescem as intelectuais?


Resposta Não. O instinto existe sempre, mas o homem o negligencia. O instinto pode também conduzir ao bem; ele nos guia quase sempre, e às vezes, mais seguramente que a razão; ele nunca se engana.


Pergunta: Por que a razão não é sempre um guia infalível?


Resposta Ela seria infalível se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite ao homem escolher, dando-lhe o livre-arbítrio.


Comentário de Allan Kardec: O instinto é uma inteligência rudimentar, que difere da inteligência propriamente dita, em que são quase sempre espontâneas as suas manifestações, enquanto as da inteligência são o resultado de apreciações e de uma deliberação.


O instinto varia em suas manifestações, segundo as espécies e suas necessidades. Nos seres dotados de consciência e de percepção das coisas exteriores, ele se alia à inteligência, o que quer dizer, à vontade e à liberdade.




Texto retirado do ‘Livro dos Espíritos’ – Allan Kardec / Livro 1 – As Causas Primárias / Cap. 4 – Princípio Vital / Item III – Inteligência e Instinto / Questões 71 a 75(a)


Saber e Fazer



Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes” - Jesus (João,13:17)



Entre saber e fazer existe singular diferença.


Quase todos sabem, poucos fazem.


Todas as seitas religiosas, de modo geral, somente ensinam o que constitui o bem. Todas possuem serventuários, crentes e propagandistas, mas os apóstolos de cada uma escasseia cada vez mais.


Há sempre vozes habilitadas a indicar os caminhos. É a palavra dos que sabem.


Raras criaturas penetram valorosamente a vereda, muita vez em silêncio, abandonadas e incompreendidas. É o esforço supremo dos que fazem.


Jesus compreendeu a indecisão dos filhos da Terra e, transmitindo-lhes a palavra da verdade e da vida, fez a exemplificação máxima, através de sacrifícios culminantes.


A existência de uma teoria elevada envolve a necessidade de experiência e trabalho. Se a ação edificante fosse desnecessária, a mais humilde tese do bem deixaria de existir por inútil.


João assinalou a lição do Mestre com sabedoria. Demonstra o versículo que somente os que concretizam os ensinamentos do Senhor podem ser bem-aventurados.


Aí reside, no campo do serviço cristão, a diferença entre a cultura e a prática, entre saber e fazer.




Emmanuel

Livro “Caminho, Verdade e Vida” – Psicografia de Francisco Cândido Xavier




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“Cumpramos os nossos deveres, sabendo que a nossa responsabilidade tem o tamanho do nosso conhecimento.” (Chico Xavier, Programa Pinga Fogo - 1972)

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Comunicações com o Mundo Invisível (2)



...CONTINUAÇÃO



As comunicações com os Espíritos devem sempre ser feitas com calma e recolhimento; não se deve jamais perder de vista que os Espíritos são as almas dos homens e que seria inconveniente deles fazer um jogo e um objeto de divertimento. Se se deve respeito aos despojos mortais, deve-se muito mais ainda ao Espírito.

As reuniões frívolas e levianas faltam, pois, a um dever, e aqueles que delas fazem parte deveriam meditar que, de um momento para o outro, podem entrar no mundo dos Espíritos, e não veriam com prazer que os tratassem com tão pouca deferência.


A frivolidade das reuniões tem como resultado atrair os Espíritos levianos que não procuram senão as ocasiões de enganar e mistificar. Pela mesma razão de que os homens graves e sérios não vão a assembléias inconseqüentes, os Espíritos sérios não vão senão em reuniões sérias, cujo objetivo seja a instrução, e não a curiosidade; é nas reuniões desse gênero que os Espíritos superiores gostam de dar seus ensinamentos.


Do que precede, resulta que toda reunião espírita, para ser proveitosa, deve, como primeira condição, ser séria e reservada, que tudo deve aí se passar respeitosamente, religiosamente, e com dignidade, se se quer obter o concurso habitual dos bons Espíritos. É preciso não esquecer que se esses mesmos Espíritos nelas estivessem presentes em vida, ter-se-ia por eles a consideração a que têm ainda mais direito depois de sua morte.


Pode-se ver, por essas poucas explicações, que as manifestações espíritas, de qualquer natureza que sejam, nada têm de sobrenatural ou de maravilhoso. São fenômenos que se produzem em virtude da lei que rege o intercâmbio do mundo visível com o mundo invisível, lei tão natural como a da eletricidade, da gravitação etc. O Espiritismo é a ciência que nos faz conhecer essa lei, como a mecânica nos faz conhecer a lei do movimento, a ótica a da luz. As manifestações espíritas, estando na Natureza, produziram-se em todas as épocas; a lei que as rege, uma vez conhecida, nos explica uma série de problemas considerados insolúveis; é a chave de uma multidão de fenômenos explorados e ampliados pela superstição.


A crítica malévola se inclina a representar as comunicações espíritas como cercadas de práticas ridículas e supersticiosas da magia e da necromancia. Se aqueles que falam do Espiritismo, sem o conhecer, se tivessem se dado ao trabalho de estudar aquilo de que querem falar, se poupariam de gastos da imaginação ou de alegações que não servem senão para provarem sua ignorância e sua má-vontade.


Para a edificação de pessoas estranhas à ciência espírita, nós diremos que não há, para se comunicar com os Espíritos, nem dias, nem horas, nem lugar mais propícios uns que os outros; que não é preciso para os evocar, nem fórmulas, nem palavras sacramentais ou cabalísticas; que não há necessidade de nenhuma preparação, de nenhuma iniciação; que o emprego de todo sinal ou objeto material, seja para os atrair, seja para os repelir, não tem efeito, e que o pensamento basta; enfim, que os médiuns recebem suas comunicações tão simplesmente e tão naturalmente, como se fossem ditadas por uma pessoa viva, sem saírem do estado normal. Só o charlatanismo poderia tomar maneiras excêntricas e adicionar acessórios ridículos.



- Allan Kardec -

Texto retirado do livro “O que é o Espiritismo”

(Capítulo II - Noções Elementares de Espiritismo)



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“Sabe-se agora que muitos Espíritos desencarnados têm por missão velar pelos encarnados, dos quais se constituem protetores e guias; que os envolvem nos seus eflúvios fluídicos; que o homem age muitas vezes de modo inconsciente, sob a ação desses eflúvios.” (‘A Gênese’ / Allan Kardec — Capítulo 3º — Item 14)


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Comunicações com o Mundo Invisível (1)




A existência, a sobrevivência e a individualidade da alma sendo admitidas, o Espiritismo se reduz a uma só questão principal: as comunicações entre as almas e os vivos são possíveis? Essa possibilidade é um resultado da experiência. O fato de o intercâmbio entre o mundo visível e o mundo invisível, uma vez estabelecido, a natureza, a causa e o modo desses intercâmbios sendo conhecidos, é um novo campo aberto à observação e a chave de uma multidão de problemas; é, ao mesmo tempo, um poderoso elemento moralizador para acabar com a dúvida sobre o futuro.

Os intercâmbios entre o mundo visível e o mundo invisível podem ser ocultos ou patentes, espontâneos ou provocados.


Os Espíritos agem sobre os homens, de maneira oculta, pelos pensamentos que lhes sugerem e por certas influências; de um modo patente, por efeitos apreciáveis pelos sentidos.


As comunicações que se recebem dos Espíritos podem ser boas ou más, justas ou falsas, profundas ou superficiais, segundo a natureza dos Espíritos que se manifestem.


Aqueles que provam sabedoria e saber são Espíritos que progrediram; aqueles que provam ignorância e más qualidades são Espíritos ainda atrasados, que progredirão com o tempo. Os Espíritos não podem responder senão sobre o que sabem, segundo seu adiantamento, e, além disso, sobre o que lhes é permitido dizer, porque há coisas que não devem revelar, visto que não é dado, ainda, ao homem, tudo conhecer.


Reconhece-se a qualidade dos Espíritos pela sua linguagem; a dos Espíritos verdadeiramente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica, isenta de contradições; nela transparecem a sabedoria, a benevolência, a modéstia e a moral mais pura; ela é concisa e sem palavras inúteis.


Nos Espíritos inferiores, ignorantes ou orgulhosos, o vazio das idéias é quase sempre compensado pela abundância de palavras. Todo pensamento evidentemente falso, toda máxima contrária à moral sadia, todo conselho ridículo, toda expressão grosseira, trivial ou simplesmente frívola, enfim, toda marca de malevolência, presunção ou arrogância, são sinais incontestáveis de inferioridade num Espírito.


Os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes; seu horizonte moral é limitado, sua perspicácia restrita. Eles não têm das coisas senão uma idéia freqüentemente falsa e incompleta e estão, por outro lado, ainda sob a influência dos preconceitos terrestres que tomam, algumas vezes, por verdades; por isso, eles são incapazes de resolverem certas questões. Eles podem nos induzir ao erro, voluntária ou involuntariamente, sobre o que eles próprios não compreendem.


Os Espíritos inferiores não são, por isso, todos essencialmente maus; há os que não são senão ignorantes e levianos; há os gracejadores, os espirituosos, os divertidos e que sabem manejar o gracejo fino e mordaz. Ao lado disso, encontram-se no mundo dos Espíritos, como sobre a Terra, todos os gêneros de perversidades e todos os graus de superioridade intelectual e moral.


Os Espíritos superiores não se ocupam senão com manifestações inteligentes objetivando nossa instrução; as manifestações físicas ou puramente materiais, estão mais especialmente nas atribuições dos Espíritos inferiores, vulgarmente designados sob o nome de Espíritos batedores, como, entre nós, os torneios de força cabem aos saltimbancos e não aos sábios.


Os Espíritos são atraídos pela simpatia, semelhança de gostos e de caráter e pela intenção dos que desejam sua presença. Os Espíritos superiores não vão mais a uma reunião fútil do que um sábio da Terra não iria a uma reunião de jovens estouvados. O simples bom senso diz que não poderia ser de outra forma. Se eles vão, algumas vezes, é para dar um conselho salutar, combater os vícios, procurar conduzir ao bom caminho; se não são escutados, retiram-se.


Seria ter uma idéia completamente falsa, crer-se que os Espíritos sérios pudessem se comprazer em responder a futilidades, a questões ociosas que não provam, ou atribuem, nem respeito por eles nem desejo real de instrução, e ainda menos que possam vir dar espetáculo para divertir curiosos. Se não o fizeram durante sua vida, não o podem fazer depois da sua morte.


Um outro ponto igualmente essencial a considerar é que os Espíritos são livres; eles se comunicam quando querem, com quem lhes convém e também quando podem, porque têm suas ocupações. Eles não estão às ordens e ao capricho de quem quer que seja, e não é dado a ninguém fazê-los vir contra a sua vontade, nem dizerem o que querem calar; de sorte que ninguém pode afirmar que um Espírito qualquer virá ao seu chamado em um momento determinado, ou responderá a tal ou tal questão. Dizer o contrário é provar ignorância absoluta dos mais elementares princípios do Espiritismo; só o charlatanismo tem fontes infalíveis.


CONTINUA...


Tenhamos Fé



“... vou preparar-vos lugar.” — Jesus (João, capítulo 14, versículo 2)


Sabia o Mestre que, até à construção do Reino Divino na Terra, quantos o acompanhassem viveriam na condição de desajustados, trabalhando no progresso de todas as criaturas, todavia, “sem lugar” adequado aos sublimes ideais que entesouram.


Efetivamente, o cristão leal, em toda parte, raramente recebe o respeito que lhe é devido:


Por destoar, quase sempre, da coletividade, ainda não completamente cristianizada, sofre a descaridosa opinião de muitos.


Se exercita a humildade, é tido à conta de covarde.


Se adota a vida simples, é acusado pelo delito de relaxamento.


Se busca ser bondoso, é categorizado por tolo.


Se administra dignamente, é julgado orgulhoso.


Se obedece quanto é justo, é considerado servil.


Se usa a tolerância, é visto por incompetente.


Se mobiliza a energia, é conhecido por cruel.


Se trabalha, devotado, é interpretado por vaidoso.


Se procura melhorar-se, assumindo responsabilidades no esforço intensivo das boas obras ou das preleções consoladoras, é indicado por fingido.


Se tenta ajudar ao próximo, abeirando-se da multidão, com os seus gestos de bondade espontânea, muitas vezes é tachado de personalista e oportunista, atento aos interesses próprios.


Apesar de semelhantes conflitos, porém, prossigamos agindo e servindo, em nome do Senhor.


Reconhecendo que o domicílio de seus seguidores não se ergue sobre o chão do mundo, prometeu Jesus que lhes prepararia lugar na vida mais alta.


Continuemos, pois, trabalhando com duplicado fervor na sementeira do bem, à maneira de servidores provisoriamente distanciados do verdadeiro lar.


“Há muitas moradas na Casa do Pai.”


E o Cristo segue servindo, adiante de nós.


Tenhamos fé.




Emmanuel,

Livro ‘Fonte Viva’, 44, Chico Xavier, FEB



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“Conserve a própria fé por tal modo que você não possa se afligir excessivamente em nenhuma dificuldade.” - André Luiz

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Perispírito




Pergunta: O Espírito propriamente dito vive a descoberto ou, como pretendem alguns, envolvidos por alguma substância?


Resposta dos Espíritos: O Espírito é envolvido por uma substância que é vaporosa para ti, mas ainda bastante grosseira para nós; suficientemente vaporosa, entretanto, para que ele possa elevar-se na atmosfera e transportar-se para onde quiser.


Comentário de Allan Kardec
:
Como a semente de um fruto é envolvida pelo perisperma, o Espírito propriamente dito é revestido de um envoltório que, por comparação, se pode chamar períspirito.



Pergunta: De onde tira o Espírito o seu envoltório semi-material?


Resposta: Do fluído universal de cada globo. É por isso que ele não é o mesmo em todos os mundos; passando de um mundo para outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.


Pergunta: Dessa maneira, quando os Espíritos de mundos superiores vêm até nós, tomam um períspirito mais grosseiro?


Resposta: É necessário que eles se revistam da vossa matéria, como já dissemos.


Pergunta: O envoltório semi-material do Espírito tem formas determinadas e pode ser perceptível?


Resposta: Sim, uma forma ao arbítrio do Espírito; e é assim que ele vos aparece algumas vezes, seja nos sonhos, seja no estado de vigília, podendo tomar uma forma visível e mesmo palpável.



Fonte: “Livro dos Espíritos” – Allan Kardec (Questões 93 a 95)


*** *** ***


Os Espíritos, como foi dito, têm um corpo fluídico ao qual se dá o nome de perispírito. A sua substância é haurida no fluido universal, ou cósmico, que o forma e o alimenta, como o ar forma e alimenta o corpo material do homem.


O perispírito é mais ou menos etéreo segundo os mundos e segundo o grau de depuração do Espírito. Nos mundos dos Espíritos inferiores, a sua natureza é mais grosseira e mais se aproxima da matéria bruta.


É por meio do perispírito que os Espíritos agem sobre a matéria inerte e produzem os diferentes fenômenos das manifestações.


Na encarnação, o Espírito conserva o seu perispírito: o corpo não é para ele senão um segundo envoltório mais grosseiro, mais resistente, apropriado às funções que deve cumprir, e do qual ele se despoja na morte.


O perispírito é o intermediário entre o Espírito e o corpo; é o órgão de transmissão de todas as sensações. Para aquelas que vêm do exterior, pode-se dizer que o corpo recebe a impressão; o perispírito a transmite, e o Espírito, o ser sensível e inteligente, a recebe; quando o ato parte da iniciativa do Espírito, pode-se dizer que o Espírito quer, que o perispírito transmite, e o corpo executa.


O perispírito, de nenhum modo, está encerrado nos limites do corpo, como numa caixa; pela sua natureza fluídica, ele é expansível; irradia ao redor e forma, em torno do corpo, uma atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem estender mais ou menos; de onde se segue que as pessoas que, de nenhum modo, não estão em contato corporal, podem estar pelo seu perispírito e se transmitir impressões, com o seu desconhecimento, alguma vezes mesmo a intuição de seus pensamentos.


Sendo o perispírito um dos elementos constitutivos do homem, desempenha um papel importante em todos os fenômenos psicológicos e, até um certo ponto, nos fenômenos fisiológicos e patológicos.


Quando as ciências médicas tiverem em conta a influência do elemento espiritual na economia, terão dado um grande passo, e horizontes inteiramente novos se abrirão diante delas; muitas causas de enfermidades serão então explicadas e poderosos meios de combatê-las serão encontrados.



Fonte: “Obras Póstumas” – Allan Kardec


Arrependimento



Pergunta: O arrependimento se verifica no estado corpóreo ou no estado espiritual?


Resposta dos Espíritos
— No estado espiritual. Mas pode também verificar-se no estado corpóreo, quando bem compreendeis a distinção entre o bem e o mal.



Pergunta: Qual é a conseqüência do arrependimento no estado espiritual?


Resposta dos Espíritos — O desejo de uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o impedem de ser feliz e aspira a uma nova existência, onde possa expiar as suas faltas.



Pergunta: Qual é a conseqüência do arrependimento no estado corpóreo?


Resposta dos Espíritos
— Adiantar-se, ainda na vida presente, se houver tempo para reparação das faltas. Quando a consciência reprova e mostra uma imperfeição, sempre se pode melhorar.



Pergunta: Não há homens que só possuem o instinto do mal, sendo inacessíveis ao arrependimento?


Resposta dos Espíritos — Já te disse que se deve progredir sem cessar. Aquele que nesta vida só possui o instinto do mal, numa outra terá o do bem, e é para isso que renasce muitas vezes, pois é necessário que todos avancem e atinjam o alvo, uns com mais rapidez, e outros de maneira mais demorada, segundo os seus desejos. Aquele que só tem o instinto do bem já está purificado, porque pode ter tido o do mal numa existência anterior.



Pergunta: O homem perverso, que durante a vida não reconheceu suas faltas, sempre as reconhecerá depois da morte?


Resposta dos Espíritos — Sim, ele sempre as reconhece, e então sofre mais porque sente todo o mal que praticou ou do qual foi a causa voluntária. Entretanto, o arrependimento nem sempre é imediato. Há Espíritos que se obstinam no mau caminho, apesar dos sofrimentos. Mas, cedo ou tarde, reconhecerão haver tomado um falso caminho e o arrependimento se manifestará. É para esclarecê-los que os bons Espíritos trabalham e que vós mesmos podeis trabalhar.



Pergunta: O arrependimento sincero durante a vida é suficiente para extinguir as faltas e fazer que se mereça a graça de Deus?


Resposta dos Espíritos — O arrependimento auxilia a melhora do Espírito, mas o passado deve ser expiado.



Pergunta: Se, de acordo com isso, um criminoso dissesse que, tendo de expiar o passado, não precisa se arrepender, quais seriam para ele as conseqüências?


Resposta dos Espíritos — Se teimar no pensamento do mal, sua expiação será mais longa e mais penosa.



Pergunta: Podemos, desde esta vida, resgatar as nossas faltas?


Resposta dos Espíritos — Sim, reparando-as. Mas não julgueis resgatá-las por algumas privações pueris ou por meio de doações depois da vossa morte, quando não tereis mais necessidade de nada. Deus não considera um arrependimento estéril, sempre fácil e que só custa o trabalho de bater no peito. A perda de um dedo, quando se presta um serviço, apaga maior número de faltas do que o cilício (suplício da carne) suportado durante anos, sem outro objetivo que o bem de si mesmo.


O mal não é reparado senão pelo bem, e a reparação não tem mérito algum se não atingir o homem no seu orgulho ou nos interesses materiais. De que lhe serve restituir após a morte, corno justificação, os bens mal adquiridos, que foram desfrutados em vida e já não lhe servem para nada? De que lhe serve a privação de alguns gozos fúteis e de algumas superfluidades, se o mal que fez a outrem continue o mesmo? De que lhe serve, enfim, humilhar-se diante de Deus, se conserva o seu orgulho diante dos homens?



Pergunta: Não há nenhum mérito em se assegurar, após a morte, um emprego útil para os bens que deixamos?


Resposta dos Espíritos — Nenhum mérito não é bem o termo; isso vale sempre mais do que nada. Mas o mal é que aquele que dá ao morrer, geralmente é mais egoísta do que generoso. Quer ter as honras do bem sem lhe haver provado as penas. Aquele que se priva em vida tem duplo proveito: o mérito do sacrifício e o prazer de ver felizes os que beneficiou. Mas há sempre o egoísmo a dizer ao homem: ‘O que dás, tiras dos teus próprios gozos’. E como o egoísmo fala mais alto que o desinteresse e a caridade, ele guarda em vez de dar, sob o pretexto das suas necessidades e das exigências da sua posição. Ah! Lastimai aquele que desconhece o prazer de dar, porque foi realmente deserdado de um dos mais puros e suaves gozos do homem. Deus, submetendo-o à prova da fortuna, tão escorregadia e perigosa para o seu futuro, quis dar-lhe em compensação a ventura da generosidade, de que ele pode gozar neste mundo.



Pergunta: O que deve fazer aquele que, no último momento, na hora da morte, reconhece as suas faltas, mas não tem tempo para repará-las? É suficiente arrepender-se, nesse caso?


Resposta dos Espíritos — O arrependimento apressa a sua reabilitação, mas não o absolve. Não tem ele o futuro pela frente, que jamais se lhe fecha?



Texto retirado do ‘Livro dos Espíritos’ (Livro Quarto – Cap. 2 – Item VI)


Saindo do Poço

Li Cunxim



Narra uma lenda chinesa que no fundo de um poço pequeno, mas muito fundo, vivia um sapo.


O que ele sabia do mundo era o poço e o pedaço de céu que conseguia ver pela abertura, bem no alto.


Certo dia, um outro sapo se abeirou da boca do poço.


Por que não desce e vem brincar comigo? É divertido aqui. – Convidou o sapo lá embaixo.


O que tem aí? – perguntou o de cima.


Tudo: água, correntes subterrâneas, estrelas, a luz e até objetos voadores que vêm do céu.


O sapo da terra suspirou.


Amigo, você não sabe nada. Você não tem idéia do que é o mundo.


O sapo do poço não gostou daquela observação.


Quer dizer que existe um mundo maior do que o meu? Aqui vemos, sentimos e temos tudo o que existe no mundo.


Aí é que você se engana, falou o outro. Você só está vendo o mundo a partir da abertura do poço. O mundo aqui fora é enorme.


O sapo do poço ficou muito chateado e foi perguntar a seu pai se aquilo era verdade.


Haveria um mundo maior lá em cima?


O pai confirmou: Sim, havia um outro mundo, com muito mais estrelas do que se podia ver dali debaixo.


Por que nunca me disse? – perguntou o sapinho, desapontado.


Para quê? O seu destino é aqui embaixo, neste poço. Não há como sair.


Eu posso! Eu consigo sair! – falou o sapinho.


E pulou, saltou, se esforçou. O poço era muito fundo, a terra longe demais e ele foi se cansando.


Não adianta, filho. – tornou o pai a dizer. Eu tentei a vida toda. Seus avós fizeram o mesmo. Esqueça o mundo lá em cima. Contente-se com o que tem ou vai viver sempre infeliz.


Quero sair! Quero ver o mundo lá fora! – chorava o filhote.


E passou o resto da vida tentando escapar do poço escuro e frio. O grande mundo lá em cima era o seu sonho.


* * *


Um pobre camponês de apenas 8 anos de idade não se cansava de ouvir esta lenda dos lábios de seu pai.


Vivendo a época da revolução cultural na China de Mao Tsé Tung, o menino passava fome, frio e toda sorte de privações.


Pai, estamos em um poço? – perguntava.


Depende do ponto de vista. – respondia o pai.


Mais de uma vez o garoto se sentia como o sapo no poço, sem saída.


Mas ele enviava mensagens aos Espíritos. Pedia vida longa e felicidade para sua mãe.


Pedia pela saúde de seu pai mas, mais que tudo, ele pedia para sair do poço escuro e profundo.


Ele sonhava com coisas lindas que não possuía. Pedia comida para sua família.


Pedia que o tirassem do poço para que ele pudesse ajudar seus pais e irmãos.


Ele pedia, e sonhava, e deixava sua imaginação levá-lo para bem longe.


Um dia, a possibilidade mais remota mudou de modo total o curso da sua vida.


Ele foi escolhido entre centenas de camponeses e foi fazer parte de algumas das maiores companhias de balé do Mundo.


Um dia, ele se tornaria amigo do Presidente e da Primeira-dama, de astros do cinema e das pessoas mais influentes dos Estados Unidos.


Seria uma estrela: o último bailarino de Mao Tsé Tung.


Li Cunxin saiu do poço.


* * *


Nunca deixe de sonhar! Nunca abandone seus ideais. Mantenha aquecido o seu coração e vivas as suas esperanças.


O amanhã é sempre um dia a ser conquistado!


Pense nisso!



(Redação do Momento Espírita com base no cap. 3 do livro ‘Adeus, China – O último bailarino de Mao’, de Li Cunxin, ed. Fundamento.)





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O Guia




Necessitando melhorar conhecimentos de orientação, acompanhei um dia de serviço do guardião Aurelino Piva, Espírito amigo que desempenha a função de guia comum da senhora Sinésia Camerino, dama culta e distinta, domiciliada em elegante setor do mundo paulista.


Cabia-me aprender como ajudar alguém, individualmente, na posição de desencarnado. Auxiliar em esforço anônimo, exercer o amor silencioso e desconhecido.


Cheguei cedo à residência, cujo pequeno jardim a primavera aformoseara. Quatro horas da manhã, justamente quando Aurelino preparava as forças de sua protegida para o dia nascente. Trabalho de humildade e devotamento.


Na véspera, dona Sinésia não estivera tão sóbria ao jantar. Excedera-se em quitutes e licores, mas o amigo espiritual erguia-se em piedosa sentinela e, antes que a senhora reabrisse os olhos no corpo, aplicava-lhe passes de reajuste.


- É preciso que nossa irmã desperte tão hígida quanto possível – explicou-me.


E sorrindo:


- Um dia tranqüilo no corpo físico é uma bênção que devemos enriquecer de harmonia e esperança.


Depois de complicada operação magnética, observei que a tutelada se dispunha a movimentar-se, e esperei. Seis horas da manhã. Aurelino formulou uma prece, rogando ao Senhor lhe abençoasse a nova oportunidade de trabalho e tive a idéia de tornar a escutar-lhe as palavras confortadoras: “um dia tranqüilo no corpo físico é uma bênção...”


A senhora acordou e o benfeitor espiritual postou-se ao lado dela, à feição de pai amoroso, falando-lhe dos recursos imensos da vida que estuavam lá fora, como a buscar-lhe o coração para o serviço com alegria.


Dona Sinésia ouvia em pensamento e, qual se dialogasse consigo mesma, recusava a mensagem de otimismo e respondeu às benéficas sugestões, resmungando: “dia aborrecido, tempo sem graça...”


Nisso, dois meninos altercaram, lá dentro, com a empregada. Bate-boca em família. Dona Sinésia não se mexeu. Sabia que os dois filhos manhosos nada queriam com estudo, nem suportavam qualquer disciplina, mas não deu bola.


Aurelino, porém, correu à copa e eu o acompanhei. O amigo desencarnado apaziguou as crianças e acalmou a servidora da casa, à custa de apelos edificantes. Ajudou os pequenos a encontrarem os cadernos de exercícios escolares que haviam perdido e acompanhou-os até o ônibus.


De volta ao interior doméstico, chegou a vez de se amparar o esposo de Dona Sinésia, que deixara o quarto sob grande acesso de tosse. Bronquite velha. Um guardião espiritual, ligado a ele, auxiliava-o, presto; no entanto, Aurelino pensou na tranqüilidade de sua protegida e entregou-se à tarefa de colaboração socorrista. Passes, insuflações. O chefe da família estava nervoso, abatido.


Aurelino não repousou enquanto não lhe viu o espírito asserenado, diante da empregada, a quem auxiliou de novo, a fim de que o café com leite fosse servido com carinho e limpeza.


Logo após, demandou o grande aposento, em que iniciáramos a tarefa, rogando a Dona Sinésia viesse à copa abençoar o marido com um sorriso de confiança. A dama escutou o convite suplicante, através da intuição, mas ficou absolutamente parada sob os lençóis, e, ouvindo o esposo a pigarrear, na saída, comentou intimamente: “não vou com asma, estou farta”.


Sete horas. Aurelino estugou o passe a fim de sustentar o senhor Camerino, na travessia da rua. Explicou-me que Dona Sinésia precisava de paz e, em razão disso, devia ajudar-lhe o marido com as melhores possibilidades de que dispunha. E, atencioso, deu a ele, na espera da condução, idéias de tolerância e caridade, bom ânimo e fé viva para compreender as suas dificuldades de contador na firma a que se vincula.


Regressamos a casa. Dona Sinésia em descanso. Oito horas, quando se levantou. Aurelino sugeriu-lhe o desejo de tomar água pura e informou-me de que se esmerava em defendê-la contra intoxicações. Magnetizou o líquido simples, dotando-o de qualidades terapêuticas especiais e... continuaram serviços e preocupações.


Trabalho de proteção para Dona Sinésia, em múltiplas circunstâncias pequeninas suscetíveis de gerar grandes males; apoio à empregada de Dona Sinésia, para que não falhassem minudências na harmonia do lar; remoção de obstáculos a fim de que contratempos não viessem perturbar a calma de Dona Sinésia; socorro incessante às crianças de Dona Sinésia, ao retornarem da escola; cooperação indireta para que Dona Sinésia escolhesse os pratos capazes de lhe assegurarem a necessária euforia orgânica; inspirações adequadas de modo a que Dona Sinésia encontrasse boas leituras; amparo constante ao senhor Camerino, tanto quanto possível, a fim de que Dona Sinésia não se afligisse...


Enfim, Dona Sinésia, sem a obrigação de ser agradecida, já que não identificava os benefícios contínuos que recebia, teve um dia admirável, enquanto Aurelino e eu estávamos realmente estafados, não obstante a nossa condição de Espíritos sem corpo físico.


À noite, porém, justamente quando Aurelino se sentou ao meu lado para dois dedos de prosa, Dona Sinésia, desatenta, feriu o polegar da mão esquerda com a agulha que manejava para enfeitar um vestido. Bastou isso e a senhora desmandou-se aos gritos:


- Oh! Meu Deus! Meu Deus!... Ninguém me ajuda! Vivo sozinha, desamparada!... Não há mulher mais infeliz do que eu!...


Positivamente assombrado, espiei Aurelino, que se mantinha imperturbável, e observei:


- Que reação é esta, meu amigo? Dona Sinésia recolheu socorro e bênçãos durante o dia inteiro!... Como justificar este ataque de cólera por picadela sem importância nenhuma?!...


Aurelino, entretanto, sorriu e falou paciente:


- Acalme-se, meu caro. Auxiliemos nossa irmã a reequilibrar-se. Esta irritação não há de ser nada. Ela também, mais tarde, vai desencarnar como nós, e será guia...




Irmão X

Da obra: ‘Estante da Vida’ - Francisco Cândido Xavier


'A PRECE'



“Se eu, pois, não entender o que significam as palavras, serei um bárbaro para aquele a quem falo; e o que fala, sê-lo-á para mim do mesmo modo. Porque, se eu orar numa língua estrangeira, verdade é que o meu espírito ora, mas o meu entendimento fica sem fruto. Mas se louvares com o espírito, o que ocupa o lugar do simples povo como dirá Amém sobre a tua benção, visto não entender ele o que tu dizes? Verdade é que tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado.” (Paulo, I Coríntios, XIV: 11 - 14, 16-17).


Uma das condições essenciais da prece, segundo São Paulo é a de ser inteligível, para que possa tocar o nosso espírito. Para isso, entretanto, não basta que ela seja proferida na língua habitual, pois há preces que, embora em termos populares, não dizem mais à nossa inteligência do que as de uma língua estranha, e por isso mesmo não nos tocam o coração. As poucas idéias que encerram são em geral sufocadas pela superabundância das palavras e o misticismo da linguagem.


A principal qualidade da prece é a clareza. Ela deve ser simples e concisa, sem fraseologia inútil ou excesso de adjetivação, que não passam de meros ouropéis. Cada palavra deve ter o seu valor, exprimir uma idéia, tocar uma fibra da alma. Enfim: deve levar à reflexão. E somente assim pode atingir o seu objetivo, pois, de outro modo não passa de palavrório. Veja-se, entretanto, com que distração e volubilidade elas são proferidas, na maioria das vezes. Percebemos que os lábios se agitam, mas, pela expressão fisionômica e pela própria voz, percebe-se que é um ato maquinal, puramente exterior, de que a alma não participa.


Os Espíritos sempre disseram: “A forma não é nada, o pensamento é tudo. Faça cada qual a sua prece de acordo com as suas convicções, de maneira que mais lhe agrade, pois um bom pensamento vale mais do que numerosas palavras que não tocam o coração”.


O Espiritismo reconhece como boas as preces de todos os cultos, desde que sejam ditas de coração, e não apenas com os lábios. Não impõe nem condena nenhuma. Deus é sumamente grande, segundo o Espiritismo, para repelir a voz que implora ou que canta louvores, somente por não o fazer desta ou daquela maneira. Quem quer que condene as preces que não constem do seu formulário, demonstra desconhecer a grandeza de Deus. Acreditar que Deus se apegue à determinada fórmula, é atribuir-lhe a pequenez e as paixões humanas.



Allan Kardec

Edição de texto retirado do “Evangelho Segundo o Espiritismo” (Cap. 28)